Setor de Tecnologia da Informação cresce e já fatura três vezes mais do que o segmento de hotéis da Capital
Conhecida pela beleza natural, Florianópolis sempre teve no turismo um dos pontos fortes da economia. Paulistas, gaúchos, paranaenses e argentinos que chegam em peso dominam as ruas, as praias e injetam dinheiro na cidade. Mas outra vocação se impôs e é hoje o principal setor para as finanças da cidade. Na ilha de sol e mar, paraíso dos surfistas, quem ganhou espaço foram os “nerds” e suas empresas de tecnologia da informação (TI).
Hoje, o faturamento do setor de TI é pelo menos três vezes maior do que o do turismo. Em 2009, segundo estimativas, a cifra passou de R$ 1 bilhão. Dados consolidados de 2008 comprovam que a renda de TI (software e serviços) é mais de 57% superior à soma dos setores de turismo e construção.
Como explicar que em uma cidade com potencial tão grande para receber visitantes o destaque ficou para quem trabalha em quatro paredes?
O primeiro ponto a se ressaltar é que o turismo não perdeu espaço e continuou em alta nos últimos anos. Porém, sem o mesmo vigor que a TI, que cresce a uma média de 20% a 30% ao ano. Outra questão importante é que as belezas de Florianópolis não servem apenas para as férias.
Por ser uma cidade agradável para se morar, passou também a ser um atrativo para profissionais de todo o país buscarem emprego e até mesmo montarem por aqui suas empresas.
Incentivo a empresas verdes
Além disso, a natureza exuberante fez com que os poderes públicos investissem em indústrias não poluentes. Em vez de fábricas, os incentivos governamentais estimularam setores de alto valor agregado e que não causassem danos ao meio ambiente.
A cidade foi, por exemplo, pioneira na estruturação de incubadoras (área que oferecem assessoria e espaço físico para empreendedores de TI). Assim, as empresas encontraram um campo fértil para se desenvolver.
“Também é importante citar a formação de profissionais na área de alta qualidade. A região possui cursos reconhecidos pelo mercado há bastante tempo. Isso atrai investimentos a Florianópolis”, opina Rudimar Dazzi, coordenador do curso de engenharia da computação, da Univali.
Acate aposta na convivência pacífica
Longe de rivalizar com o turismo, as empresas de TI querem é ajudar a cidade a receber mais visitantes. Quem explica é o presidente da Acate (Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia), Rui Luiz Gonçalves.
“O nosso mercado realiza vários eventos em Florianópolis que atraem visitantes fora da temporada. Por enquanto, são eventos menores. Mas a partir de 2012 planejamos uma iniciativa que poderá trazer 10 mil pessoas à Capital. Assim, ganham o turismo e a tecnologia da informação. Eles são complementares e não adversários”, afirma.
Pioneira, Softplan já emprega 700 pessoas
Era o ano de 1990. Ainda não existia internet, poucos computadores podiam ser vistos nas empresas e reduzido número de profissionais de tecnologia da informação circulavam por Florianópolis. Em meio a este ambiente inóspito, um catarinense de Linha Pinhal Preto, localidade no interior de Xavantina, resolveu abrir uma empresa com outros dois sócios para desenvolver softwares. A ideia surgira alguns anos antes.
O engenheiro civil Moacir Marafon, e outros dois colegas, Ilson Stábile e Carlos Augusto de Matos, trabalhavam no Ciasc (Centro de Informática e Automação de Santa Catarina) e, depois do expediente, se dedicavam a projetos paralelos como freelancer. Aos poucos, foram percebendo uma demanda crescente no setor e fizeram o que pouca gente, há 20 anos, teria coragem de fazer. Deixaram a segurança de um emprego público para apostar em uma nova empresa. Assim, surgiu a Softplan/Poligraph, um dos maiores nomes do mercado de TI nascidos em Florianópolis.
“Naquela época, começava-se a ouvir falar no Parque Tecnológico e iniciava a mentalidade de a cidade se voltar para o setor de tecnologia. Mas tudo era muito novo. Não chegamos a ficar encubados. A estrutura era financiada por nossos salários. Reservávamos uma parte todo o mês para a empresa”, lembra Marafon.
A Softplan não divulga o faturamento, mas outros números expressam o seu tamanho. São 700 pessoas empregadas diretamente. Há funcionários em quase todas as capitais brasileiras para dar suporte aos clientes, distribuídos em todo o país. Nos últimos quatro anos, a empresa cresceu a uma média de 20% a 25%.
A empresa desenvolve soluções corporativas para segmentos específicos de negócios, como administração pública, construção e projetos internacionais. Por outro lado, apesar da agenda cheia, Marafon não deixa de aproveitar alguns momentos que tanto agradam os turistas na cidade. Sempre de manhã, caminha nas areias de Jurerê.
Paradigma cresce na onda da internet
A Paradigma foi fundada na época em que a internet dava os primeiros passos rumo ao uso massificado. Em 1999, o então executivo Gerson Schmitt, com atuação em várias empresas brasileiras, percebeu que a rede mundial de computadores poderia se tornar uma grande plataforma para negociação. E se tornou. Hoje, há uma movimentação estimada de R$ 900 bilhões por ano no país.
Ao longo de 12 anos de fundação, a Paradigma desenvolveu portais para negociação que auxiliam diversas empresas em vários setores a participarem deste mercado. Na lista de clientes, estão Marisol, Teka, Cyster e Unisul. Além de várias entidades governamentais, como a Prefeitura de Florianópolis. Outro grande filão é o leilão eletrônico de energia. Segundo Schmitt, desde o apagão de 2001, já foram negociados R$ 500 bilhões em energia elétrica por meio da plataforma da Paradigma.
Para alcançar este sucesso, a empresa se favoreceu do ambiente promissor que Florianópolis oferece para o setor de tecnologia da informação. De acordo com Schmitt, na época em que iniciava a empresa, já se percebia um movimento favorável a este setor. A municipalidade fomentava com incentivos fiscais, o ambiente é formado por profissionais preparados ao mercado e havia infraestrutura para sustentar o crescimento da empresa.
“A atmosfera da cidade foi fundamental para o sucesso da empresa. Florianópolis é uma referência nacional e os empreendedores têm bastante suporte para seguir em frente.”, comenta Schmitt.
Em 2010, a Paradigma faturou R$ 8,5 milhões. Uma cifra excelente, mas que deverá ser superada nos próximos anos. A empresa está colocando em prática um plano de expansão de negócios que, junto com o crescimento da internet, fará o faturamento chegar a R$ 100 milhões até 2015. “Será uma das maiores empresas do Brasil”, garante Schmitt.
Sobram vagas e bons salários
O aumento intenso do setor de tecnologia da informação impõe um desafio difícil de ser superado: o apagão de mão de obra. Florianópolis possui hoje mais vagas de trabalho do que profissionais sem emprego. São cerca de 500 postos abertos, segundo mapeamento realizado pela Acate, que deve ser publicado em abril. A escassez da força de trabalho ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico do setor.
“Esse problema ocorre em muitos lugares no Brasil, mas acredito que Florianópolis seja uma das cidades mais afetadas”, comenta Rui Luiz Gonçalves, presidente da Acate.
O setor gera 5 mil empregos diretos e o salário inicial é de cerca de R$ 2 mil. Na média, segundo Rui, um bom programador ou um bom técnico ganha entre R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês.
Cifras que destoam do setor de turismo. Apesar de não haver um estudo mapeando os rendimentos na hotelaria, o piso salarial é de R$ 595. Porém, se os salários são menores, o impacto na geração de empregos é muito maior.
Segundo levantamento do Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Florianópolis, a Capital tem cerca de 17.200 empregos ligados ao turismo.
Para colocar um hotel em funcionamento, uma ampla cadeia de serviços é beneficiada, desde engenheiros, arquitetos, até camareiras e garçons. Além disso, um hotel tem uma demanda indireta forte. Quando um hóspede entra, são movimentados serviços como táxi, agências de viagem, passeios por vans e eventos culturais.
“O setor de TI é menos intensivo em mão de obra, mas com muito capital, ou seja, ele consegue faturar mais com menos gente trabalhando”, resume José Álvaro de Lima Cardoso, supervisor técnico do Dieese.
Setor hoteleiro quer faturar o ano todo
A beleza de Florianópolis é o grande atrativo da cidade. Disso, ninguém discorda. O lado ruim é que os visitantes só se interessam em vir para cá durante o verão. Fora de temporada, o turismo desaba e o setor fica fragilizado.
“A questão da sazonalidade é um sério agravante. Dependemos ainda de outros setores, da macroeconomia, do clima, dos acidentes naturais e da taxa do dólar. Qualquer alteração no equilíbrio desses itens nos afeta diretamente”, afirma Maria Cláudia Evangelista, diretora executiva do Florianópolis e Região Convention & Visitors Bureau.
Para minimizar os problemas, as entidades turísticas na Capital se concentram em ampliar a oferta de atrativos. Além das praias, a ideia é trazer turistas que se interessem por gastronomia, festas eletrônicas, aventuras, culturas (bairros típicos) e, lógico, muitos eventos.
“Apesar da dificuldade, vemos uma melhora sensível do setor. No passado, hotéis e restaurantes fechavam as portas após a temporada. Hoje em dia, ficam abertos o ano todo”, assinala Maria Cláudia.
No Celta, a origem de tudo
Citadas como uma das principais razões para o sucesso das empresas de tecnologia em Florianópolis, as incubadoras ajudam os empreendedores a darem os primeiros passos rumo à carreira de sucesso. O Celta (Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas) é pioneiro neste campo.
Foi criado em 1986 em Florianópolis e hoje gera 750 postos de trabalho. O Celta serviu de referência para similares no México, Peru e Venezuela, além de outras experiências no Brasil. É a única incubadora autossustentável do país, ou seja, não depende de recursos públicos para se manter. Os recursos são provenientes das próprias empresas.
Ao longo de seus 24 anos, já graduou 63 empresas, as quais têm um índice de sobrevivência no mercado superior a 90%. Hoje, possui 30 empresas incubadas que faturam R$ 45 milhões por ano.
Florianópolis produz um leque imenso de produtos no setor de tecnologia da informação. Abaixo, conheça os principais mercados de atuação e exemplos de como a cidade colabora com o desenvolvimento tecnológico.
Games: criação de jogos online e para celulares
Energia: negociação de energia por leilões e equipamentos para o setor
Segurança: desenvolvimento de soluções em biometria
Saúde: desenvolvimento de equipamentos, como stents.
Área bancária: soluções para pagamento e transações financeiras digitais
Setor público: softwares para gestão e administração de recursos
Telecom: sistema para processamento de chamadas e call center
Saiba mais Número de empregos
Tecnologia da Informação
– 5.000 empregos diretos gerados
– 75.000 indiretos
Turismo (Hotéis e gastronomia)
– 17.200 empregos diretos gerados
– 8.200 empregos gerados a mais na alta temporada
Fontes: Acate, Caged, SHRBS-Florianópolis
(ND, 21/03/2011)
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1 Comentário
florianópolis, cidade em pleno desenvovimento, além de ser umas das cidades mais belas se não a mais do brasil, ainda a um leque muito grande para a o crecimento do pib, basta apenas as pessoas responsaveis insentivem projetos em pró, a cidade, e já que nÃo consegue conter o crecimento de imigrantes de outros estados , acelere projetos importantes para a qualidade de vida que é a caracteristica da cidade facam sua parte porque eu estou fazendo a minha….