O discurso é o de que o Estado precisa atrair visitantes de maior poder aquisitivo. A realidade mostra que, no Carnaval catarinense, quem se diverte mesmo são os turistas foliões da nova classe C brasileira.
Esta é a conclusão de uma pesquisa divulgada ontem pela Fecomércio-SC, que ouviu 1,9 mil visitantes e 554 empresários em Florianópolis, Laguna, Joaçaba e São Francisco do Sul, cidades em que a festa do Rei Momo tem maior expressão econômica no Estado.
O documento traça um perfil dos turistas que vieram pular o Carnaval em Santa Catarina este ano. Do total de entrevistados, 29% ganham até R$ 1.126 – em Laguna, a fatia chegou a 42,6% –, quase metade deles (46%) tem entre 18 e 29 anos e o meio de hospedagem mais utilizado foi a casa de amigos e parentes (34%).
Eraldo Alves da Cruz, vice-presidente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio (CNC), observa que o fato deste turista gastar pouco fica bastante claro em outro dado levantado pela pesquisa: à exceção de Joaçaba, o faturamento do comércio caiu no Carnaval em relação ao mesmo período do ano passado. São Francisco do Sul registrou a maior queda (16,4%). Na capital catarinense, a redução foi mais modesta, de apenas 2,6%.
– Vale a pena investir no Carnaval se não há perspectiva de retorno? – questiona ele.
Cruz defende que o caminho é encontrar outro viés turístico para o período. Ele usa como exemplo Fortaleza, a capital cearense, que se consolidou como um destino tranquilo, procurado por quem abre mão da folia para descansar na data.
Para ele, Florianópolis deve diversificar as opções de lazer no período, crítica feita por 24% dos turistas ouvidos, e deixar em segundo plano as festas de Carnaval. Outra opção seria a de reinventar o Carnaval catarinense, adaptando-o a atrações turísticas já consolidadas no Estado. Algo como “o Carnaval das colônias alemãs”.
A pesquisa identificou ainda que uma das maiores reclamações dos turistas é a falta de atrações turísticas. Segundo Cruz, o que falta, na verdade, são produtos turísticos.
– O turista pode ir até o mirante da Ponte Hercílio Luz e passar cinco minutos tirando fotos com a família. Ou passar duas horas na ponte caso existisse, no local, a apresentação de grupos folclóricos, bares, feira de artesanato, por exemplo – ilustrou.
Para Cesar Souza Junior, secretário estadual de Turismo, a grande questão diante dos dados apresentados é como atrair público mais qualificado, que custe pouco e gaste muito. Uma pergunta que continua sem uma resposta clara. O secretário pretende se reunir com os municípios e o trade turístico catarinense para avaliar os resultados e buscar novas estratégias para o Carnaval 2012. Começar a vender pacotes para a festa mais cedo e melhorar a estrutura dos locais são algumas das sugestões.
Fábio Queiroz, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SC), disse que a pesquisa apresentada ontem está alinhada com aquela realizada pela própria entidade. Para mais da metade dos donos de bares e restaurantes ouvidos, a temporada de verão deste ano foi pior do que a última. Queiroz observa que o problema não se resume ao Carnaval, que, este ano, ainda teve o agravante de cair mais tarde, no mês de março.
João Eduardo Moritz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) em SC, ressaltou que o Carnaval é uma festa popular, em que as pessoas gastam pouco, mas que, tendo como base Florianópolis, pode oferecer opções para todas as classes.
O gasto médio diário por turista, durante o feriado, na Capital, foi de R$ 465,34, 85% maior do que a média catarinense. Este valor foi alavancado, segundo Moritz, pelos turistas que procuraram Jurerê Internacional por suas casas noturnas e como opção de descanso. O segmento hoteleiro veio de um mês de fevereiro ruim devido às chuvas e ao reinício das aulas.
Enquanto SC discute o que fazer, outros estados têm obtido grandes resultados. O setor de turismo do Rio de Janeiro nunca faturou tanto quanto no último Carnaval. A capital fluminense recebeu 1 milhão de turistas, que geraram uma receita de R$ 1,2 bilhão (US$ 740 milhões), dinheiro gasto em hotéis, restaurantes e passeios, entre outras opções. Segundo cálculos da prefeitura do Rio, o número de visitantes cresceu 37%, e a receita teve alta de 40% neste ano.
(FlorianópolisCVB, 24/03/2011)
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