Será que vai rolar? Show na Praia do Campeche, na Capital, está previsto para sábado e deve reunir cerca de 8 mil pessoas. Mas a prefeitura ainda não deu a autorização
Após quatro anos, fãs de Ben Harper, que moram ou estão a passeio na Ilha de Santa Catarina, contam os dias para conferir de perto o blues, o reggae e o soul das cordas vocais do cantor californiano que faz sucesso no mundo inteiro. Mas o show promovido pela Skol ainda depende do aval da prefeitura para acontecer.
O evento será gratuito – em troca de dois quilos de alimento – e bem perto do mar. Quase 200 mil votos, pela internet, escolheram a Praia do Campeche (no trecho conhecido como Riozinho), no Sul da Ilha, para receber, além de Ben Harper, Donavon Frankenreiter e Tom Curren, considerados ícones do surf music, e também Armandinho. A Capital concorreu com Maresias (SP) e Búzios (RJ), mas o Riozinho levou a bolada.
A combinação natureza e os diversos ritmos de Ben pode ser perfeita para o público, que disputará os oito mil ingressos oferecidos pelo Praia Skol Music. Porém, para que o show ocorra em sintonia com as leis do município, a prefeitura da Capital ainda precisa dar o aval.
Faltando cinco dias, pouca coisa está definido. Ontem, aconteceu a primeira reunião entre os organizadores e a Fundação Municipal do Meio Ambiente. Um plano de controle ambiental foi entregue pela Skol ao superintendente da Floram, Gerson Basso.
No documento, constam as cercas para proteger as Áreas de Preservação Permanente que ficam à beira-mar. Além disso, previsão de banheiros e estacionamentos. Por enquanto, os telões na praia estão proibidos. A expectativa é que as licenças sejam concedidas, no máximo, até quinta-feira.
O secretário municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, José Carlos Rauen, afirma que a oficialização do show foi protocolada na secretaria na quinta-feira passada, e que o prazo mínimo legal para se ter uma análise sobre a viabilidade do evento é de 15 dias.
– Se a organização não se mexer, não autorizaremos o show. Não temos nada acertado ainda. Mesmo o evento sendo feito em um terreno particular, a cidade tem leis que precisam ser obedecidas.
O secretário de Turismo da Capital, Márcio de Souza, também enfatizou que não houve contato prévio com a prefeitura. Ele diz que convocará as entidades envolvidas para reunião amanhã, às 9h.
– Eu não estava preparado para coordenar um evento dessa magnitude antes do Carnaval, mas vou assumir o controle do evento para o bem da nossa cidade – afirma Souza.
Outra reunião está marcada para hoje, a fim de definir o transporte coletivo. Segundo o secretário de Transporte, João Batista Nunes, há intenção de disponibilizar mais ônibus até o local. O 4º Batalhão da Polícia Militar de Florianópolis, comandado pelo tenente-coronel Newton Ramlow, também não tem esquemas programados para o show. O mesmo vale para a Polícia Militar Rodoviária Estadual (PMRv).
A Associação dos Moradores do Campeche (Amocam) é contra o show na Praia do Campeche. O presidente da associação, Athaíde Silva, explica que o evento poderia ser feito em outro local, onde não haja transtornos de mobilidade ou impacto ambiental. Uma representação seria protocolada pela entidade no Ministério Público Federal (MPF), que ainda não havia recebido o documento até o início da noite de ontem.
– Esse evento não é o progresso que queremos para a região sul da Ilha. Existem outro locais melhores, como o aterro da Baía Sul, onde foi o show do Roberto Carlos – alega Silva.
(VANESSA CAMPOS, DC, 01/02/2011)
Quem mora perto, gostou
Moradores e comerciantes próximos ao local do show aguardam ansiosos. Luiz Antônio Inácio é dono de um bar a três metros do lugar. Para ele, o Skol Music vai aumentar o movimento do comércio, como aconteceu no último sábado, com o show da banda catarinense Dazaranha, no mesmo espaço.
– Não acho que vai causar problemas, vai nos ajudar a vender mais.
Moradores de uma casa a poucos metros do evento, Luceli e Juarez Anacleto, também não temem transtornos.
– Se fosse à noite e indo até a madrugada, incomodaria. Mas será durante o dia. Não vemos nenhum problema – argumenta Luceli.
A moradora, Marly Souza dos Santos não sabe nem quem é Ben Harper, mas espera que o evento divulgue a praia e atraia a atenção das autoridades.
– Temos uma das águas mais limpas da Ilha. É bom uma atração desse porte para que os órgãos olhem mais para cá e melhorem nossas ruas e sinalizações.
Jerusa Guercio, moradora da região, também comemora a vinda do cantor:
– Acho ótimo ter um show desses aqui. Não entendo como é que as pessoas não querem um agito! Praia pede isso.
(DC, 01/02/2011)
Para entrar, só com ingresso
Apesar de a Praia do Campeche ter sido escolhida pelo público com mais de 200 mil votos via internet, o evento – se as licenças forem concedidas e o show realmente acontecer – será limitado a apenas 8 mil pessoas, quantidade autorizada pelo Corpo de Bombeiros. A produtora de eventos Camila Líbera explica que esse número foi considerado o ideal para a área de 5 mil metros quadrados.
– É uma questão de segurança e também de conforto. Claro que, se pudéssemos, colocaríamos mais pessoas. Sabemos que muitas outras votaram, mas esse foi o limite autorizado.
Ela assegura que o espaço não ficará apertado, porque geralmente é calculada uma área de um metro quadrado para quatro pessoas. Das oito mil pessoas, cerca de mil não terão visão completa do palco. Para essas, haverá um telão. Quem estiver na praia, não contará com telas para assistir ao show nem terá acesso ao evento. Mesmo com ingresso na mão, será preciso dar a volta e entrar pela rua principal. De acordo com Camila, as entradas estarão sinalizadas.
– Não ter telão na praia foi uma exigência da Polícia Militar (PM), por uma questão de segurança e para evitar poluição, temida pelos órgãos ambientais.
A produtora justifica que nem foi considerada a hipótese de mudar o show de lugar, porque as pessoas escolheram o Campeche para receber a atração. Para ela, não teria sentido transferir o Skol Music para outra praia.
Ontem, a estrutura estava sendo montada e o palco estava praticamente pronto. O backstage, com camarins e camarotes, ficará numa casa onde, hoje, é uma pousada, exatamente atrás do palco. A organização ainda não sabe quando Ben Harper e outros cantores vão chegar, nem quanto tempo ficarão na Capital.
A segurança do evento será feita por 170 homens de uma empresa privada e ainda terá o reforço da Polícia Militar. Será feita coleta seletiva de lixo, e a Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap) vai dar suporte para a limpeza da região. A estrutura ainda conta com banheiros móveis – haverá um para cada 80 pessoas. A Skol vai doar R$ 100 mil para a prefeitura, destinados a melhorias da praia.
(Julia Antunes, DC, 01/02/2011)