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Fugindo do calor e da conta de ar-condicionado

Por Raul Bueno*, O Eco Cidades, 09/02/2011.

Estamos em pleno verão. Até abril, sol de rachar e muito calor. Quem mora em residência voltada ao leste, sofre pela manhã. Aqueles virados para oeste, só conseguem voltar para casa à noite. Soa familiar? É, segundo os especialistas em conforto térmico, os europeus constroem pensando no inverno e nós deveríamos o fazer pensando no verão. Infelizmente, a regra não é essa. Economizamos na obra para, depois, sofrer na habitação com um isolamento térmico de terceira. Felizmente, existem formas de minorar o problema.

O arquiteto João Figueiras Lima, o Lelé, idealizador dos Hospitais da rede Sarah Kubitschek, famoso entre outras coisas por sua arquitetura climática no Nordeste do Brasil, precisou recorrer ao ar-condicionado em um projeto de hospital no Rio de Janeiro. Entretanto, o prédio gasta uma fração da energia comumente necessária para a função, devido ao bom isolamento térmico e sistemas de ventilação. Quer dizer, quando não dá para dispensar o aparelho, é possível reduzir sua necessidade.

Muitos dos antigos apartamentos construídos em cidades quentes, como o Rio de Janeiro e até Campinas (SP), vinham com um acessório em suas janelas, a persiana externa, também conhecida como persiana Copacabana. Ela foi muito usada em quartos e suítes entre os anos 50 e 70. Como fica do lado de fora da janela, mantém o calor por lá refletindo suas causas, a luz e os raios infravermelhos. Outro recurso é o brise soléil, um quebra-sol que impede a entrada direta da luminosidade.

Por que então, nas últimas décadas, as construtoras pararam de instalar persianas externas e brises? Bem, elas encarecem a obra. Depois da casa habitada, quem paga a energia elétrica é o comprador e este, costumeiramente, é mais sensível e informado sobre as economias do presente do que aquelas produzidas ao longo dos anos.

Quanto uma persiana pode economizar? Fazendo cálculos básicos, um quarto de 12m² com um janelão de 4,5m² sem proteção precisa de um condicionador de ar de 13.400 Btus. Se tiver persiana, esse valor cai para 11.400 Btus. Trata-se de uma redução de 2.000 Btus ou 15% do total. Nada desprezível, pois economiza 585 Watts/hora ou cerca de 70 reais por mês para cada cômodo desse tamanho, considerando um uso de 8 horas diárias do aparelho.

A persiana mantém o calor do lado de fora, ao contrário da proteção interna à janela, como mostra croqui de Raul Bueno – veja no site de O Eco Cidades.

Parabéns a quem mora em um apartamento antigo e é o orgulhoso proprietário de um sistema de persianas Copacabana. Você já economiza energia. Mas e quem não tem essa sorte e mora em um prédio sem o recurso?

Uma janela de vidro fechada por causa do ar-condicionado não impede a entrada dos raios infravermelhos, mas atrapalha a sua saída. Cortinas blecaute de plástico e insulfilm até escurecem o ambiente, mas também absorvem, armazenam e transmitem calor para dentro do apartamento. Faça uma experiência: após duas horas, encoste numa cortina blecaute que recebeu a mesma quantidade de sol que uma cortina branca e constate que a última estará mais fria.

Para os arrojados e que pensam a longo prazo, a solução é fazer uma reforma que instale brises ou persianas. Não é barato, mas, com base na economia de eletricidade, o custo da obra deve se pagar em cerca de 5 anos. Porém, é bem possível que a alteração esbarre na convenção do condomínio e que o projeto, para sair, precise ser aprovado e seguido pelos vizinhos.

Se a reforma não for possível, uma maneira simples e funcional de atacar o problema é usar uma cortina de pano branco ou mesmo uma placa de isopor, essa última fixada no vidro com fita dupla-face. Ambas refletirão a luz para fora. Se o local não ficou escuro o suficiente para um cineminha em plena tarde, coloque um blecaute por trás da cortina branca. Ok, agora você só consegue ver a vista quando abre a janela. Mas não se pode ter tudo nesta vida, certo? A não ser que a gente pense um pouco mais antes de construir e comprar casas e apartamentos.

* Raul Bueno mora no Rio de janeiro e é um ciclista inveterado. Além disso é Arquiteto Urbanista, trabalha na Defournier & Associados e leciona no Bennett e na FAU-UFRJ.

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