Como será Nova York em 2030? Será possível o corte quase total de veículos motorizados, ‘pedestrealizá-la’ e cobrir o espaço público com áreas verdes? Michael Sorkin, urbanista local, acredita que sim e tenta provar com um projeto para transformar a área conhecida como Lower Manhattan. Seu trabalho foi uma resposta ao desafio lançado pelo Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento (Institute for Transportation and Development Policy – ITDP) a 10 arquitetos de renome. O objetivo: criar cidades sem engarrafamentos, com formas não poluentes de transporte e muita qualidade de vida. O dele e os demais resultados estão na exposição multimídia ‘As Cidades Somos Nós – Desenhando a mobilidade do futuro’, aberta até o dia 13 de março no Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro, e exibida simultaneamente na Cidade do México.
Residência de uma população acima de oito milhões de pessoas, Nova York cresceu a partir de suas linhas de metrô – a primeira linha foi instalada em 1904 — e trens de subúrbio considerados parte do maior sistema de transporte rápido do mundo. Com o passar do tempo, curvou-se aos automóveis que hoje entopem suas artérias e roubam tempo das pessoas no trajeto casa-trabalho.
Ao longo das décadas, também mudaram a natureza dos trabalhadores e das classes sociais em Manhattan. A ponte do Brooklyn é um exemplo da transformação. Inaugurada em 1883, servia ao transporte de massa e, hoje, seu acesso é exclusivo a carros particulares. A parte da ponte destinada aos 4 mil pedestres e 2.600 ciclistas que a cruzam diariamente está superlotada.
“As pessoas são mais importantes do que os carros”, afirmou Sorkin em palestra proferida, ontem, no Centro dos Correios. O que propomos essencialmente é ‘pedestrializar’ a região de Lower Manhattan. “Queremos livrar-nos dos carros”, levar cerca de quatro horas por dia só na ida e volta ao trabalho é uma “forma irracional de desenhar as cidades”, completou.
“Lower Manhattan é uma área interessante, pois se tornou nos últimos 20 anos um bairro residencial com grande potencial de crescimento. Por muitos tempo foi predominantemente comercial. As ruas são estreitas, o estacionamento é difícil e incrivelmente caro”. Apesar de ser um local bonito em si, diz Sorkin, a área da ponte do Brooklyn é ainda degradada e agredida por um emaranhado de rampas, pistas e estacionamentos a céu aberto. Esses obstáculos impedem o fluxo de pessoas de localidades próximas, como, por exemplo, quem vem de Chinatown.
Em 2030, ao contrário de hoje, Sorkin visualiza Lower Manhattan como uma “zona eco”. Quase todas as ruas passarão a ser exclusivas para pedestres ou compartilhadas com veículos lentos. Para torna-las mais convidativas aos pedestres, serão arborizadas e pavimentadas com paralelepípedos.
Haverá taxis-bicicleta e sistemas de bicicletas compartilhadas. Os transportes de massa serão integrados, incluindo os corredores exclusivos para ônibus (BRT ou Bus Rapid Transit, na sigla em inglês), metrô e linhas de bonde. A via expressa Franklin Delano Roosevelt, que corta o local e segue em direção ao sul da cidade, será substituída por um boulevard com ciclovias e faixas de BRT. Por fim, espera-se que a implantação de um pedágio urbano na ponte do Brooklyn acabe com os engarrafamentos de carros e caminhões de carga, que, mesmo pagando, só terão permissão para circular se usarem tecnologia ultra-limpa.
Os desafios da cidade de Nova York neste século 21 não são poucos, admite Sorkin. “Há este de tornar a cidade mais sustentável, mais sensível no quesito ambiental, mas também existem demandas sociais. Nova York está muito cara. O custo de vida assusta cada vez mais a classe média e baixa. A economia local precisa mudar para incluir todos os tipos de pessoas”. O complemento da revolução que propõe para a paisagem pública e para a mobilidade é tornar a cidade democrática.
(Por Fabíola Ortiz, O Eco, 25/02/2011)
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