A sujeira é uma infeliz e indesejada presença nas praias da Capital. Visitamos quatro entre as mais movimentadas de Florianópólis – Canasvieiras, Ingleses, Joaquina e Barra da Lagoa. Foram 12 horas na areia, e constatamos que essa realidade não ocorre por falta de lixeiras ou de equipes de limpeza, e, sim, pela falta de conscientização dos frequentadores, que insistem em transformar a areia em lixeira.
Se, no início do dia, a praia está um pouco mais limpa, pela presença dos garis, no final, a situação é outra. Copos e garrafas plásticos, latas de alumínio, restos de comida são alguns dos itens que podem ser encontrados.
Mas o microlixo ainda é o grande problema: bitucas de cigarro, canudinhos e espetos de madeira se misturam com a areia e dificultam a remoção.
Segundo a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), em média, são recolhidas 24 toneladas de lixo das praias por dia.
Nos finais de semana com tempo bom, esse número sobe 37,5% e chega a 33 toneladas. Para dar conta da sujeira, 188 funcionários estão voltados exclusivamente para o serviço e são utilizados até 1,1 mil sacos de lixo de cem litros.
Em geral, o serviço é feito entre 7h e 19h. Nas praias onde o movimento é intenso, como Canasvieiras e Ingleses, os garis trabalham até as 5h.
Nas mais calmas, como Ribeirão da Ilha e Pântano, é somente feita na parte da manhã e, nas consideradas quase desertas, como Naufragados e Caiacanga, é em sistema de mutirão, uma vez por semana.
Joaquina – Dia
Início do dia: às 7h10min, funcionários da Comcap recolhem a sujeira em diversos pontos da Joaquina, no Leste da Ilha. Muitos dos frequentadores parecem não tomar conhecimento das mais de 20 lixeiras na areia.
O atendente de barraquinha à beira-mar, Cassiano Nodari, diz que a limpeza está melhor do que no ano passado. Só sente falta de uma placa sobre a importância de não jogar o lixo junto ao costão da Joaca. Para ele, o grande problema é o microlixo:
– Não tenho nada contra quem vende queijos, mas as pessoas não podem jogar o espeto na areia. Furei o meu pé com um deles. Além disso, os pássaros e os peixes acabam engolindo o palito.
Barra da Lagoa – Dia
Início do dia: diariamente, cerca de uma tonelada de lixo é retirada da Barra da Lagoa por funcionários da Comcap. As lixeiras não são tantas quanto na Joaquina. Atirados no chão, foi possível avistar copos e garrafas plásticos, tampas, canudos, bitucas de cigarro e fezes de cachorros.
Um dos garis diz que o comércio irregular na areia à noite gera muito lixo. Para dar conta do serviço e deixar a praia organizada para quem chega cedo, a limpeza começa a ser feita antes das 6h.
O comerciante Hesio Oliveira, morador do bairro, critica a falta de educação dos frequentadores:
– Eles sentam ao lado da lixeira e mesmo assim jogam os resíduos no chão.
Ingleses – Dia
Início do dia: enquanto que veranistas acompanhavam a pesca de arrastão em um dos pontos da Praia dos Ingleses, Norte da Ilha, os garis se desdobravam para recolher o lixo que foi deixado na areia.
Ao mesmo tempo, antes das 9h, o caminhão de lixo encostava em uma das ruas para carregar os recipientes abarrotados de sujeira.
Mesmo em pequena quantidade, latinhas de cerveja, tampas, canudos e bitucas de cigarro podiam ser avistados. Alguns destes itens, jogados bem ao lado das lixeiras, demonstrando que a educação e a falta de higiene de muitos que circulam pelas praias da Capital são os principais responsáveis pelo excesso de sujeira à beira-mar.
Canasvieiras – Dia
Início do dia: a praia mais movimentada do Norte da Ilha também é a que apresentou maior quantidade de sujeira no período da manhã. Na areia, era possível avistar canudos, copos, bitucas de cigarro. Mas, nos acessos e, principalmente, na Praça José Carlos Daux, a quantia de garrafas plásticas, latas de alumínio, carteiras de cigarro, copos com restos de bebida, papéis e plásticos era enorme e deixava um aspecto péssimo ao local.
– Eu chego cedo, entre 7h e 8h, já está sujo e não vejo pessoas limpando. Para mim, está o maior descaso. Se o turista cuidar, vai ajudar a manter a praia limpa – opina o cirurgião-dentista de Erechim (RS) Edson Albano Schwartz.
Joaquina – Noite
Começo da noite: às 20h, poucas pessoas caminham na praia e os lixos como copo plástico, bitucas de cigarro e canudos se confrontam com a bela paisagem. Até mesmo próximo das lixeiras, há latas e outros resíduos. Não havia ninguém da Comcap limpando a praia neste horário.
O casal de Porto Alegre Luiz Ari de Lima, 59 anos, e Lais Lima, 60, se decepcionam ao ver a areia suja no passeio noturno.
– As pessoas não consideram a praia um lugar de todos e pensam que a responsabilidade pela limpeza é do poder público. A vontade que dá é sair catando tudo – confessa Lais. Os gaúchos acreditam que esse é um problema comum de toda costa brasileira.
Barra da Lagoa – Noite
Fim do dia: por volta das 19h30min. os banhistas já tinham deixado a praia. Nela, estavam apenas moradores e turistas jogando futebol no campo, além de surfistas circulando. Havia lixo, principalmente bitucas de cigarro, mas nada comparado com os outros balneários visitados. A maioria dos cestos espalhados pela praia estava vazio, mostrando que a Comcap tinha passado não fazia muito tempo por ali.
Os frequentadores estão satisfeitos com a limpeza da praia, como o analista de sistemas José Freitas, 26 anos, que passava com sua prancha pelas areias da Barra.
– Pelo tanto de gente que esteve aqui hoje, até que a praia está legal.
Ingleses – Noite
Fim do dia: próximo das 19h, enquanto algumas mulheres ainda tentavam se bronzear com o mormaço, outras pessoas aproveitavam o entardecer para caminhar na praia. No caminho: lixo. Desde tampa de garrafa, sabugo de milho verde, guardanapos e até caixa de pizza.
Poucas pessoas pareciam estar preocupadas com a situação, mas a família da contadora Marcia Ramos Moraes, 34 anos, não aprovaram o visual.
Vieram de Cuiabá (MT) e no primeiro dia de estada no balneário se depararam com o mar de lixo.
– Está muito sujo, o pessoal não respeita mesmo. Meu marido até andou catando copos e sabugos de milho.
Canasvieiras – Noite
Fim do dia: perto do entardecer, o cenário na praia era de lixo por todos os lados. Pior do que pela manhã, a Praça José Carlos Daux continuava cheia de latinhas, cocos verdes e guardanapos. Canudos e bitucas se misturavam com a areia e até com o mar.
Ao lado das turistas argentinas Paola Calete, 19 anos, e Sabrina Stranges, 20, havia um monte de lixo. Questionada sobre a sensação de ficar em um local sujo, Paola discorda:
– Aqui está muito limpo em comparação com as praias da Argentina. Lá tem garrafas de vidro pela areia.
O gramado, que separa a praia da avenida, estava repleto de lixos. Mas, um homem, deitado no local, parecia não se encomodar com a sujeira.
melissa.bulegon@diario.com.br roberta.kremer@diario.com.br
(MELISSA BULEGON, ROBERTA KREMER, DC, 14/01/2011)
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1 Comentário
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