Investir em bens e serviços ligados à cultura pode contribuir para que países em desenvolvimento cumpram Objetivos do Milênio, diz estudo
Apostar na indústria criativa — setor que engloba serviços e produtos culturais diversos (incluindo comunicação, arquitetura e artesanato) — pode ajudar os países em desenvolvimento a alcançar ao menos seis metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aponta um estudo do PNUD e da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). A estratégia é especialmente válida para os países mais pobres contaminados pela crise de 2008 e 2009.
“Qualquer estratégia que usa a cultura como um meio para o desenvolvimento econômico e aumento do poder da população tem a capacidade de alcançar todos os membros da comunidade e de afetar suas vidas de algum modo, independentemente de seu status socioeconômico”, destaca o Relatório de Economia Criativa de 2010.
As atividades que impulsionam a economia criativa são aquelas que se amparam nos diferentes tipos de manifestações culturais, como pintura, dança, teatro, cinema, novelas e música. E são justamente essas que, segundo o estudo, ajudam a erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades sociais, como preconiza o primeiro Objetivo do Milênio.
A explicação para isso é que os segmentos que compõem as indústrias criativas geralmente são formados por pequenas unidades de negócio – boa parte delas, familiares –, mais alinhadas com a economia informal e concentradas nos segmentos mais pobres. Podem se tornar, portanto, “um veículo mais efetivo para iniciativas de desenvolvimento econômico cujo foco é a erradicação da pobreza”, avalia o documento, lançado em 15 de dezembro.
Algumas mudanças são importantes para aumentar a chance de que esses resultados sejam atingidos – o que implica também um apoio maior ao oitavo Objetivo do Milênio, que prevê a colaboração entre o mundo desenvolvido e os emergentes. O relatório menciona a necessidade de ampliar o acesso dos países pobres ao mercado global de bens e serviços criativos. Sugere também dar tratamento preferencial ao fluxo de artistas de nações em desenvolvimento pelos grandes mercados do setor e aumentar o apoio a programas de empreendedorismo cultural.
Igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável
Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres talvez seja um dos Objetivos com o qual a economia criativa mais pode contribuir, já que é grande a participação delas em atividades como artesanato e moda. “Com isso, elas podem se encarregar de suas vidas e gerar renda para as famílias e comunidades, particularmente nas áreas rurais”, destaca o estudo.
Valorizar a cultura, principalmente nos locais onde ela está se perdendo, também é uma das formas de assegurar o caminho sustentável e inclusivo para o desenvolvimento de países pobres, segundo o relatório. O texto defende que a economia criativa, por depender fortemente da biodiversidade (sobretudo moda, artesanato, design de interiores e de acessórios), estimula o engajamento ambiental, contribuindo para o sétimo ODM.
Jovens e novas tecnologias
Os jovens são peça fundamental para impulsionar a economia criativa nos países em desenvolvimento, afirma o relatório. A ênfase nas artes e em outras atividades culturais pode ajudar a tirá-los da marginalidade, pois, além de gerar emprego, ainda aumenta a autoestima e consciência social deles.
O documento defende que estimular as indústrias criativas locais oferece oportunidades de geração de renda para a população jovem de áreas rurais e diminui o impulso de tentar a vida nas grandes cidades, o que contribui para diminuir o problema da violência. “Esses esforços para ajudar os jovens a descobrir e desenvolver seus talentos criativos têm resultado em uma queda significativa da criminalidade, dos homicídios e do tráfico de drogas”, aponta o texto, citando o caso de Medellín, na Colômbia.
Estimular o setor também ajuda a alcançar a meta do milênio que prevê ampliar o acesso aos benefícios das novas tecnologias – especialmente no que diz respeito à comunicação. “Com a expansão da indústria criativa, há mais capacidades para uso de ferramentas de tecnologia e comunicação não só para comunicar, mas também para promover mais amplamente a criatividade, o trabalho conjunto e o acesso nos mundos real e virtual”.
(PrimaPagina/PNUD, 03/01/2011)
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