A renda de bilro é um símbolo da cultura de Florianópolis, lembrada em nome de avenida e na letra do hino da cidade. Este artesanato tradicional inspira também uma exposição no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição, local que deve abrigar um Centro de Referência da Mulher Rendeira, administrado pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC).
Até 18 de fevereiro, estarão expostas almofadas, toalhas, trilhos de mesa e outras peças tradicionais com renda, que dividem espaço com peças mais contemporâneas de renda de bilro aplicadas em objetos utilitários e de vestuário, ou na decoração de ambientes.
– A ideia é mostrar um pouco do que é feito pelas rendeiras no dia a dia e nas oficinas de arte-educação realizadas no Casarão da Lagoa, valorizando as múltiplas possibilidades deste fazer artesanal – ressalta a superintendente em exercício da fundação, Roseli Pereira.
Em 2011, o Casarão da Lagoa deve ser transformado no Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, conforme convênio firmado com a Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec) e Ministério da Cultura (MinC), dentro do Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart).
De acordo com o projeto, o prédio vai abrigar uma sala de exposição permanente com variados tipos de renda produzidos na Capital, além de loja, biblioteca e centro museográfico com acervo de fotos, vídeos, folhetos, livros e outros materiais de registro deste artesanato. Terá ainda um local para oficinas permanentes de repasse de saberes tradicionais sobre cantorias, formas de fazer o pique, pontos e almofadas, entre outras atividades. Após uma reforma, o espaço será rebatizado como Casarão das Rendeiras.
A ceramista paranaense Kátia Sestrem produz peças esmaltadas decorativas e utilitárias inspiradas na temática. Cinco obras da artista, reproduzindo a renda tramoia, com piques (desenhos) que ela mesma cria integram a exposição do Casarão da Lagoa.
A técnica consiste na prensagem de uma amostra de renda na argila, deixando uma textura similar à trama dos fios. Depois que a renda é retirada, as ranhuras recebem pintura com esmalte cerâmico e, em seguida, a peça é submetida a vários processos de queima.
– As pessoas olham e pensam que a renda está colada na cerâmica e até sentem a textura, mas não tem renda ali – observa Kátia Sestrem.
(DC, 21/01/2011)
Uma arte trazida por açorianos
Não se sabe ao certo a origem da renda de bilro. Alguns pesquisadores defendem que o artesanato surgiu em Flandres, na Bélgica, no século 15, de onde se espalhou pela Europa, em especial para a Itália e França, até chegar a Portugal e arquipélago dos Açores. Ao virem para o Brasil, os portugueses teciam os fios para enfeitar trajes e alfaias da igreja, além de ornamentar toalhas, cortinas, lençois e peças do vestuário da nobreza.
Na Ilha de Santa Catarina, a renda de bilro surgiu por influência dos açorianos. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, chegando ao destino em 6 de janeiro de 1748. Em homenagem a esses antepassados e suas tradições a Lei nº 8030/2009 instituiu a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira.
Naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade pesqueira com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro, numa tradição cultural que foi passada de geração a geração. Entre as rendas de bilro mais conhecidas, feitas no município, estão a maria morena e a tramoia, ou renda de sete pares, considerada produto típico de Santa Catarina.
Agende-se
O quê: Exposição Renda de Bilro
Quando: até 25/2, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Onde: Centro Cultural Bento Silvério – Casarão da Lagoa (Rua Henrique Veras do Nascimento, 50, Lagoa da Conceição, Florianópolis)
Quanto: gratuito
(DC, 21/01/2011)
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