Entrevista: Dalírio Beber, PRESIDENTE DA CASAN
Com as dívidas ajustadas, a Casan pretende investir R$ 1,221 bilhão nos próximos quatro anos. A maior parte na coleta e tratamento de esgoto. Do montante, R$ 255,3 milhões vêm de financiamento da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), R$ 395,4 milhões da agência japonesa JICA, R$ 384,5 milhões do PAC e R$ 186,2 milhões serão recursos próprios. Quem vai liderar os investimentos é o novo presidente da estatal, o advogado e empresário Dalírio Beber.
Diário Catarinense – Quais foram as recomendações do governador Raimundo Colombo ao senhor à frente da Casan?
Dalírio Beber – Ele solicitou a boa gestão da empresa, que tem 40 anos e escreveu uma bela página na construção do saneamento que temos hoje. Dos 198 municípios que atendemos, praticamente 99% da área urbana têm água de qualidade e com certa regularidade. Eventualmente, temos dificuldades devido a enchentes ou problemas de captação. Por isso há investimentos. Foi noticiado que nesta virada de ano, pela primeira vez, não houve falta de água no Norte da Ilha de SC. Isto foi fruto dos investimentos e, também, do público que está usando a água com mais racionalidade.
DC – Que áreas terão mais investimentos na oferta de água?
Dalírio – Em algumas regiões, especialmente na Grande Florianópolis, estamos com dificuldades para sustentar a regularidade no abastecimento. Por isso estamos com um projeto que devemos licitar em breve, que é o aumento da capacidade de tratamento e da qualidade da água que vai sair da estação do Morro dos Quadros, em Palhoça, com captação em Santo Amaro da Imperatriz. É um investimento de R$ 14 milhões. Vamos garantir a água necessária por, pelo menos, cinco anos.
DC – No interior do Estado, quais são os projetos para tratamento de água?
Dalírio – Estamos fazendo licitação para investir mais R$ 3 milhões em Chapecó. Estamos fazendo perfurações de poços que atingem o Aquífero Guarani em Xaxim, Maravilha e São Lourenço do Oeste. Em Chapecó há estudo para uma grande captação no Rio Chapecozinho, para garantir água no médio e longo prazo à cidade e ao agronegócio. No Sul do Estado, a exemplo da barragem de São Bento, os estudos estão avançados para providenciar a desapropriação das áreas faltantes para uma grande barragem no município de Timbé do Sul, que vai envolver investimentos de R$ 70 milhões.
DC – Por que a renovação dos hidrômetros?
Dalírio – Do total de água que tratamos na ponta há casos de perda de até 55%. Uma das razões é o hidrômetro velho, que passa a medir menos. A Casan fez, em outubro passado, um empréstimo de R$ 40 milhões com a IFC – International Finance Corporation (entidade do Banco Mundial), para comprar 300 mil hidrômetros e também macromedidores. Vamos demorar dois anos para instalar todos. Eles poderão significar uma redução considerável nas perdas. Com hidrômetros velhos, uma residência que esta pagando por 10 metros cúbicos de água, pode estar passando pelo relógio 12 ou 13 metros cúbicos. A perda média da Casan está entre 38% e 39%.
DC – SC sempre é apontada como um dos patinhos feios em esgoto sanitário. Qual é a média do Estado e dos municípios atendidos pela Casan?
Dalírio– A média de esgoto sanitário tratado no Estado é de 13%. Se considerarmos só os municípios conveniados, a média é maior, 18%. Na Ilha, temos 55% e a meta é chegarmos, em breve, a 80%. O empresário Jorge Gerdau fez um artigo dizendo que estamos à frente do RS no ranking de esgoto sanitário, em 16º ou 17º lugar. Não concordo com o que dizem que estamos apenas à frente do Piauí. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tratamento por meio de fossa asséptica, exigência que fazemos para dar o habite-se no Litoral, é um tratamento de esgoto. Temos percentual baixo em rede coletora de esgoto tratado. Mas se considerarmos residências com algum dispositivo, estamos bem acima dos 13% no Estado.
DC – Quais os principais projetos para o segmento de esgoto?
Dalírio – O maior é o que envolve o empréstimo de R$ 395,4 milhões da Agencia Japonesa de Cooperação Internacional (Jica) para implantação de coleta e tratamento de esgoto, com montante maior para Florianópolis e distribuição, também, para outros municípios no Litoral. O contrato foi assinado em março do ano passado e envolve uma série de procedimentos. Até o final do ano devemos ter os primeiros recursos para iniciar as obras.
DC – O risco de perder municípios está controlado?
Dalírio – Os titulares das concessões são os municípios. Nós esperamos que, com as perspectivas de investimento, temos condições de dizer que a concessão é produtiva para a comunidade. É nesse sentido que conversamos com os prefeitos. Dos 198, temos 20 que representam 75% do faturamento da empresa. Esses vão ver que a parceria é boa.
DC – A empresa foi criticada ano passado pela sua política de distribuição de lucros. O que está previsto?
Dalírio – No ano passado houve uma resolução do conselho de administração da empresa colocando um limitador. De que o percentual que poderia, em tese, ser distribuído aos diretores ficaria limitado a três remunerações da diretoria, isto é, três salários. É o que acontece também na Celesc. Este é um assunto com o qual eu ainda não me debrucei. Primeiro quero ter mais informações. Mas, com mais conhecimento, vou levar essa posição ao governador para saber o que ele pensa.
DC – A Casan acumulou dívida com a Celesc por não pagar a conta de luz. Em 2008, foi feita uma operação com a SC Parcerias que se tornou acionista da empresa e assumiu o pagamento da dívida de R$ 176 milhões. Depois disso a empresa passou a pagar a conta?
Dalírio – Não existe nenhuma conta em atraso. A Casan mantém, regularmente, o pagamento da fatura de energia, que é de aproximadamente R$ 4 milhões por mês. Praticamente 10% da nossa receita vai para pagar energia elétrica. Temos um programa de eficiência energética para a redução do consumo.
DC – Uma das críticas à empresa é que ela tem 11 diretores. Há plano de redução desse número?
Dalírio – O número de diretores é uma coisa que não me preocupa neste momento. A Casan buscou mais proximidade dos nossos parceiros, que são as municipalidades. Foram criadas diretorias regionais no interior e na Grande Florianópolis, pela importância dos municípios. Isto respondeu satisfatoriamente durante um período. Vamos avaliar e ver o que é melhor nesse novo momento.
DC – Como está o projeto da água mineral com a marca Casan?
Dalírio – A Casan fez um estudo de prospecção. No momento, não é desejo nosso concorrer no segmento. Nossa atividade principal é tratar e distribuir água, coletar e tratar esgoto. Nós embalamos água da estação de Ingleses para consumo de órgãos do governo e para doações.
(ESTELA BENETTI, DC, 27/01/2011)
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