Hercílio Luz e Beira-mar Norte, duas das principais vias da Ilha, são excelentes exemplos de que é possível humanizar os espaços urbanos
Humanizar os espaços urbanos é aproximar a população da cidade onde ela vive. Passeios públicos, ciclovias, praças e árvores deixam o ambiente muito mais agradável e Florianópolis tem dois bons exemplos: a avenida Hercílio Luz, reurbanizada entre 2008 e 2010, e a avenida Beira-mar Norte, cujas obras de revitalização estão praticamente concluídas.
Observar imagens do passado inspira momentos de saudosismo, mas é impossível não notar a transformação radical de duas das principais avenidas do coração da Ilha. Quem mora e trabalha nelas sabe o tamanho da diferença entre a Hercílio Luz – com os seus 89 anos – e Beira-mar Norte – que beira as cinco décadas – do passado e do presente. Ninguém hesita em afirmar que essas duas senhoras estão cada vez mais jovens e atraentes.
A Hercílio Luz
Passear, caminhar, andar de bicicleta ou jogar dominó. Atividades hoje comuns na avenida Hercílio Luz, no Centro da Capital, eram impossíveis até pouco tempo atrás. A mudança radical que hoje trouxe vida à região foi proporcionada pela revitalização da avenida, obra realizada pela Prefeitura da Capital e entregue à população no início do ano passado.
O projeto de construção da Hercílio Luz, sobre o córrego da Fonte Grande (ou rio da Bulha) começou em 1920 e foi concluído em 1922. Desde então, a avenida vinha recebendo pouca atenção com relação a melhorias. Quem mora ou trabalha no local percebe claramente a diferença que a revitalização trouxe à avenida, cortada por um canal.
“Antes havia um cheio muito forte. Os clientes entravam na loja e pensavam que o cheiro vinha daqui. A gente tinha que dizer que era do valo. Agora aqui tem vida. Hoje em dia nem se compara. De um a dez, a nota é dez nessa rua.”, conta o dono de tradicional sebo, Marcelo Alexandre Coelho, há 17 anos no local.
Seu Mauro Murara, 64, tem uma farmácia na Hercílio Luz há 28 anos e acompanhou de perto as transformações da avenida. “Era tudo aberto. Hoje está bem melhor, mais arejado, mais humano”, diz. Seu Mauro guarda na farmácia os jogos de dominó que uma turma de amigos da região utiliza nas mesas espalhadas pela avenida, a maior parte bem em frente ao estabelecimento.
O comerciante Munir Nunes, 50, faz parte não só da “jogatina”, mas também dos churrascos – preparados em latões improvisados sobre a avenida – e das conversas sobre a vida e também o futebol. “Também das fofocas”, frisa aos risos o aposentado Carlos Luiz de Oliveira, 64, conhecido como Chiquinho. “Aqui tem tudo o que você precisa. Tudo o que é feito para ser uma área de lazer valoriza a todos nós. O mais importante são as pessoas”, avalia Nunes.
Qualidade de vida
“É muito gratificante para a secretaria participar da transformação da cidade. Transformar o que antes tinha um aspecto ruim em um local que traz as pessoas para a convivência com a rua, com a cidade é realmente gratificante”, destaca o secretário de Obras da Capital, Luiz Américo Medeiros. “Ganha em turismo e em qualidade de vida”, acrescenta o engenheiro Pablo Zimmer, da empresa Pavicon, responsável pela obra na Hercílio Luz.
A Beira-mar Norte
A revitalização da Beira-mar Norte, com previsão para ficar totalmente concluída em fevereiro, deu uma nova cara ao cartão-postal da cidade. Com a duplicação do passeio público a população que utiliza o local para caminhadas e também para o contato com a natureza, agora tem um espaço muito maior para dividir com os ciclistas, que tiveram o piso da ciclovia melhorado.
O pequeno Gabriel Bonassa, 3, aproveita a ciclovia reformada para passear de bicicleta com a mãe, a advogada Kássima Bonassa, 32. Após alguns minutos de pedalada, os dois sentaram-se à margem da Beira-mar para descansar e curtir o visual. “O espaço está muito bom. A gente pode sentar aqui, olhar para o mar, e até jogar pedrinha na água”, conta Kássima, referindo-se ao filho que ficou encantado com o barulho do mar.
Paisagens como a da Beira-mar trouxeram o microempresário Jorge Takemura, 57, para Florianópolis há seis anos. “Melhorou tudo aqui. Tanto a ciclovia quanto o piso para as caminhadas”, diz. A aposentada Mirian Ana Piva, 69, já caminhava antes da revitalização e agora ganhou um incentivo a mais. “Tinha mesmo que aumentar o espaço para as pessoas. Só a visão que a gente tem daqui é uma maravilha”, ressalta.
O casal Rosângela, 31, e Paulo Roberto da Silva, 38, passou a caminhar após a revitalização. “A paisagem ajuda a combater a preguiça”, admite Rosângela, durante uma paradinha, após 20 minutos de caminhada, para descansar nas pérgolas, espécies de decks de madeira cobertos construídas ao longo da orla. A obra integra ainda novo trapiche, heliponto e reforço com camadas de pedras para proteger o aterro antigo.
Recuperação do asfalto
Prevista para ficar pronta em 120 dias, a recuperação do asfalto, com sistema de drenagem, levou metade do tempo, um recorde para obras públicas. Conforme o gerente de contratos da Sulcatarinense Engenharia, vencedora da licitação, Marcio Abreu, uma força-tarefa acelerou o trabalho. “Não podíamos permitir que a obra se estendesse até o fim do ano”, explica. Segundo ele, o pedido partiu do prefeito Dário Berger. “Ele solicitou que não medíssemos esforços para acelerar a execução”.
(Maiara Gonçalves, Robinson Gamboa, ND, 07/01/11)