Nos últimos dois anos, triplicou o volume de resíduos reaproveitáveis recolhidos em Florianópolis
Você se dá ao trabalho de separar o lixo que produz? Ou pensa que, depois que as embalagens ficam vazias, a responsabilidade não é mais sua? Em Florianópolis, o número de moradores que respondem sim à primeira pergunta e não à segunda, cresce cada vez mais. Nos últimos dois anos, a Capital triplicou o volume do material reciclado recolhido nas ruas, passando de 189 para 586, 5 toneladas mensais.
Incluindo a economia gerada para a prefeitura – que não gasta para enterrar o material –, e a renda para as associações de catadores, a coleta seletiva movimenta aproximadamente R$ 1 milhão por ano na cidade.
Uma pesquisa da empresa ambiental Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), de São Paulo, aponta Florianópolis como a segunda cidade do país que mais investe na coleta seletiva. O estudo feito nas capitais e municípios com mais de 500 mil habitantes, em 2008, considerou a abrangência dos programas, os investimentos das prefeituras e a disponibilidade de informações.
O diretor executivo da Cempre, André Vilhena, explica que, em Florianópolis, cada tonelada produzida de material reciclável representa um investimento de R$ 658 para a administração municipal. A campeã é Santos, onde são investidos R$ 1.027. O levantamento apontou que Florianópolis também é a segunda cidade do país com maior cobertura da coleta seletiva: 84% dos moradores são atendidos. Perde para Porto Alegre e Curitiba, empatadas em primeiro lugar.
De acordo com a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), houve uma ampliação no atendimento de 2008 para cá. A cobertura, agora, já estaria em 90%.
Nos locais que ainda não são atendidos, os moradores precisam de um empenho extra para ser ecológico: é preciso levar o lixo até um ponto onde o caminhão passe.
Material selecionado beneficia 120 recicladores da cidade
Apesar da boa abrangência da coleta, o material reciclado representou apenas 3,6% do total recolhido no ano passado. Este ano, a taxa subiu para 5,3%, segundo o diretor da Comcap, Wilson Cancian Lopes.
– Temos potencial para reciclar muito mais. Mas falta consciência ambiental dos moradores – afirma.
O ideal seria reciclar até 30%, o que transformaria os atuais R$ 1 milhão em R$ 8 milhões. Com esse pulo, as toneladas recicladas por ano aumentariam de para 5,3 mil para 44 mil.
O material coletado pela Comcap é entregue para duas associações, que empregam cerca de 120 recicladores. A Associação dos Coletores de Material Reciclável (ACMR) e a Associação de Recicladores Esperança separam os resíduos e revendem para indústrias que reaproveitam a matéria-prima.
Mas quando papel, vidro e latinhas são jogados fora com o lixo comum, tudo vai para o aterro de Biguaçu, onde o material é enterrado.
– A coleta aumentou e nossa renda também. O problema continua sendo o reciclável que vem sujo, com rejeito. Perdemos mais de 20% do material porque as pessoas misturam lixo sanitário com o seco – comenta o presidente da ACMR, Nelson Zampara.
A lógica é simples: quanto mais pessoas aderirem à coleta seletiva, mais dinheiro público será poupado e mais recicladores terão renda. Mas o maior benefício vai além: com a preservação ambiental, o planeta é que sai ganhando.
(Por FRANCINE CADORE, DC, 31/08/2010)
Distância não é obstáculo para reciclar
A comerciante Vanusa Santos da Silva é uma das moradoras de Florianópolis que precisa “suar a camisa” para garantir a reciclagem do lixo que produz. Ela transporta o material por quase um quilômetro, até a rua onde o caminhão passa. Na servidão onde mora, na Praia dos Ingleses, no Norte da Ilha, não há coleta.
Como o caminhão só passa uma vez por semana, ela acumula em casa as latinhas de metal, caixas de leite, embalagens plásticas e papéis. Resultado: fica com a despensa lotada e com menos espaço. Mas ela não se importa, é por um bom motivo.
– O hábito é difícil de ser assimilado, mas depois que acostuma, a gente não volta mais atrás. Todo mundo deve ser persistente para entender e participar da coleta seletiva.
A Comcap explica que o caminhão não entra em ruas estreitas por causa da estrutura (é um caminhão-baú) e de uma recomendação do Ministério Público para não fazer manobras em ré porque isso oferece risco aos garis e também aos moradores.
O estudante Rodrigo de Araújo de Moraes Lima é outro adepto da reciclagem. Ele entrega o material no Espaço Recicle, no Bairro Coqueiros. A iniciativa da empresa Novociclo tem um sistema de pontos que, depois de acumulados, são trocados por brindes produzidos com material reciclado, como camisetas, livros e bolsas.
– Sei que essas ações vão melhorar o futuro dos meus familiares – afirma o estudante.
O Espaço Recicle é uma das ações do projeto Lixo Zero na Capital. Uma das metas é aumentar o potencial de produtos recicláveis de 5% para 30%, até 2015, e diminuir a produção de lixo a níveis mínimos até 2030.
O presidente da Novociclo, Rodrigo Sabatini, diz que a ideia é viável porque prevê que cada pessoa reduza gradualmente o que gera de lixo e estabelece que os resíduos, limpos e separados, sejam encaminhados para usinas e fábricas que os utilizarão como matéria-prima para outros produtos.
(DC, 31/08/2010)
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