Depois das ressacas, agora a maré baixa chama a atenção, deixando a água turva e lixo na areia
O mar não para de surpreender os catarinenses. Depois do susto por causa da ressaca no final de maio, agora a maré baixa chama a atenção dos catarinenses. Além de revelar a faixa de areia, que ficou encoberta pela água nas últimas três semanas, a maré baixa, conhecida como seca ou morta, trouxe à tona lixo e entulho.
As mudanças no cenário não param por aí: a água do mar, em vários pontos do Litoral, ficou escurecida e turva. De acordo com especialistas, a oscilação da maré é um fenômeno normal que ocorre a cada 15 dias.
O professor da Fundação Universitária de Rio Grande (Furg) e PHD em Ciências Oceânicas, Eloi Melo, disse que as mudanças no mar ocorreram por causa da tentativa das praias de voltarem ao estado que tinham antes da ressaca. Ele explica que a praia (um traçado que percorre, na zona emersa, uma faixa entre as dunas, areia, zona de arrebentação das ondas, e se estende até uma profundidade de 10 metros mar adentro) é um sistema dinâmico que trabalha para manter o próprio equilíbrio. É comum as praias apresentarem variações de largura.
– A ressaca tira a areia exposta da praia e a leva para o mar. Para manter o equilíbrio, depois que a ressaca cessa, as ondas devolvem areia para a parte emersa. Não é o mar que recuou, mas a areia que está voltando ao seu espaço anterior. É normal que a linha de costa avance e recue diariamente.
Para o oceanógrafo da Epagri Argeu Vanz, o cenário litorâneo mudou por causa da combinação de diversos fatores: maré astronômica, influenciada pela entrada da lua nova no dia 12, ausência da maré meteorológica e ocorrência de vento norte. Juntos, os efeitos da maré baixa ficam mais visíveis. Um dos efeitos desagradáveis deste fenômeno, combinado com as chuvas intensas das últimas semanas, foi o aparecimento de lixo na orla e o escurecimento da água do mar.
Vanz disse que segunda-feira, a tábua de marés, medida da variação de amplitude das marés baixa e alta (preamar), registrou a maior do mês. Os cálculos indicaram uma diferença de 1,1 metro entre a maré seca, às 11h15min, e a preamar, às 16h32min. De acordo com o meteorologista da Epagri Marcelo Martins, a previsão é que a maré baixe mais nesta semana porque não há previsão de vento sul, que “empilha” a água do mar na costa, e nem ocorrência de ciclones, que influenciam as marés meteorológicas.
(Por Francine Cadore, DC, 16/06/2010)
Moradores otimistas para o verão
O ressurgimento da faixa de areia e a obra do muro de contenção tranquilizam a comunidade
Mesmo após terem visto a praia ser engolida pelo mar, os moradores da Armação do Pântano Sul, no Sul da Ilha de SC, preferem permanecer no local. A construção do muro emergencial, com a colocação de pedras em um trecho de 1.750 metros, e o ressurgimento da faixa de areia, na segunda-feira, devolveram a esperança que a praia será recuperada até o verão.
O comerciante Iony Pires é um dos moradores que recuperou o otimismo. Dono de uma pousada, ele acredita que os turistas não deixarão de visitar a Armação e, para melhor recebê-los, pretende fazer melhorias no estabelecimento.
O estudante Sérgio Pires, cuja família mora há mais de 30 anos na praia, disse que tem boas expectativas quanto à restauração da orla. Mesmo com a ressaca, eles nunca pensaram em sair do imóvel. A família da lageana Édina Wolf chegou ontem da Serra para verificar a situação. Eles temiam que a casa também tivesse sido atingida pelo mar. Depois de avaliar que a casa não estava em risco, optaram por ficar com o imóvel e não vendê-lo.
De acordo com o corretor João Borinelli, os proprietários avaliam se vendem ou não as casas. Por enquanto, cerca de 20 imóveis estão à venda, número típico para a estação de baixa temporada, pois a oferta é semelhante a de anos anteriores.
A corretora Rute Araujo prefere não nutrir expectativas sobre como será a venda de imóveis até o verão. Ela acredita que o setor será alterado conforme o desfecho das obras de contenção.
– Tudo dependerá de como o enrocamento impactará na praia. Agora, é um paredão de rocha que até nos intimida. Se o projeto de urbanização, com a construção de uma ciclovia e área para pedestres for bem feito, poderemos voltar a ter uma praia linda e movimentar as vendas.
Rute menciona que foi procurada por alguns proprietários que cogitaram vender os imóveis. Mas, nenhum deles fechou negócio. Para ela, o mercado imobiliário da praia está em avaliação. Uma casa posta à venda antes de maio por R$ 300 mil, agora, sai ao custo de R$ 220 mil.
Segundo o secretário de Obras Luiz Américo Medeiros, 30% do muro de contenção já foram concluídos. A meta é terminar a obra até agosto.
Na Barra da Lagoa, também na Ilha de SC, segundo a Defesa Civil, com o término da ressaca a situação voltou ao normal. Os bares seguem interditados, mas não oferecem mais risco para os moradores. (F.C.)
(DC, 16/06/2010)
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