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Os desafios e conquistas nos vinte anos da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo. O programa Terra da Gente (da EPTV, afiliada da Rede Globo no interior de SP e MG) viaja neste sábado (01) à Florianópolis, capital de Santa Catarina. E revela preciosidades guardadas em terra e no mar, na região costeira da ilha de Santa Catarina. Os nossos repórteres Marcos Correia e Josinaldo Rodrigues visitam três áreas preservadas, conhecem os recursos marinhos e as ameaças aos ecossistemas. Uma delas é a Estação Ecológica Carijós, com grande extensão de manguezais. Também a área de proteção ambiental do Anhatomirim, com uma antiga fortaleza e canhões intactos. Em mar aberto, o mergulho é na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo. Lá, é desenvolvido o trabalho de pesquisa para salvar a garoupa, um peixe dócil e de grande porte. Já no continente, na praia da armação, o Terra da Gente conhece seu Esperândio, um experiente pescador e ex-caçador de baleia. Ele hoje é um defensor desses mamíferos gigantes e denuncia à nossa equipe a invasão das praias por casas de veraneio.

Uma ilha de mistérios

Florianópolis se espalha em belezas. A cidade ocupa mais de 97% do território da ilha de Santa Catarina. Somada a área continental são 436 quilômetros quadrados, banhados por pelo menos 100 praias. A maioria delas preservada. E tem ainda as águas azuis da Lagoa da Conceição. A ilha-capital tem motivos de sobra para tanta fama. A começar pelas marcas deixadas pelos homens primitivos. Na Praia do Santinho, a pedra escavada no ato de afiar ferramentas comprova onde funcionava uma oficina rudimentar. Os sinais entalhados na rocha revelam um senso estético. O significado destas linhas só se pode imaginar. A confirmação já se perdeu no tempo.

Vamos agora mudar de cenário e de história, mas sem sair da ilha. Os encantos das praias da Solidão e do Pântano do Sul servem de moldura para o lar de uma antiga comunidade de pescadores artesanais. Enquanto turistas se dirigem até os barcos de passeio, os homens do mar preparam suas redes. Um trabalho que se repete há anos. São poucas mudanças desde as primeiras armações, os lugares onde os pescadores se preparavam para sair para o mar ou se armavam, como era costume dizer. Daí o nome.

As armações, locais onde os pescadores se preparavam para sair à caça das baleias, foram construídas entres os séculos 18 e 19. A principal atividade econômica desses lugares era esse tipo de pesca. Na Praia da Armação, no extremo Sul da ilha de Santa Catarina, ainda é possível encontrar algumas pessoas que participaram dessa atividade perigosa. São pessoas que guardam lembranças de uma época que ficou marcada na memória.

Seu Esperândio é um desses pescadores. Hoje, as mãos calejadas não se atrapalham na delicada tarefa de consertar as redes de pesca. Os olhos, cansados de tanta maresia, não dão sinal de fraqueza. Nada o afastou do mar: o velho e o mar, juntos. Enquanto a saúde permitir.

A última baleia franca que seu Esperândio ajudou a caçar foi em 1957. Hoje ele prefere ver os grandes cetáceos livres e protegidos, nas águas que banham a ilha de Santa Catarina. Mas o que preocupa mesmo o velho pescador é a situação da praia. Reduzida a uma estreita faixa de areia.

Moradores, sejam eles das antigas e novas gerações, fazem parte das riquezas de Florianópolis. Mas outra Floripa, não tão conhecida, também esconde encantos e tesouros.

As ilhas de Santa Catarina

A ilha e a costa no litoral catarinense guardam uma grande variedade de ecossistemas. Vamos visitar três áreas preservadas na ilha de Santa Catarina, num trecho de continente e em arquipélagos vizinhos. Primeiro a Estação Ecológica Carijós, uma área de mangues no Noroeste da ilha. Depois a Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim, que compreende a ilha de mesmo nome e uma extensa faixa de litoral do Estado de Santa Catarina. Por fim, a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, composta por mais de 17 mil hectares de mar e três ilhas principais: Arvoredo, Deserta e a da Galé. É neste recanto que está nosso principal objetivo: acompanhar uma pesquisa sobre as garoupas, um peixe muito procurado por pescadores e mergulhadores.

Na Estação Ecológica Carijós, nosso guia é o diretor da unidade, Apoena Calixto Figueirôa. São mais de sete quilômetros quadrados de manguezal e restinga, divididos em duas glebas. Escolhemos o trecho mais preservado. O trajeto tem que ser feito de barco, pelo leito do rio Ratones.

A natureza se descortina à nossa volta, com a vegetação típica do mangue e a presença de alguns moradores. O aratu é visto com frequência saindo de suas tocas no meio da lama. Aves como a garça-cinzenta aparecem nos galhos. Uma ilha de respeito à natureza. Mas o mangue é apenas uma pequena parte do que Santa Catarina tem a oferecer…

O nosso destino hoje é a noroeste. As praias se afastam e monumentos de outros tempos se aproximam. À primeira vista, o Forte de São José da Ponta Grossa, construção destinada à defesa da ilha ainda nos tempos do Brasil colônia. Avançamos cada vez mais, em busca da área de proteção ambiental do Anhatomirim. São 4 mil e 600 hectares, mais da metade deles de mar azul. Uma parte da região está ocupada por imóveis de veraneio e comunidades tradicionais.

Em determinados pontos da costa, atividades como a pesca e a criação de mariscos é permitida. Em outros, o foco principal é a preservação, como na Baía dos Golfinhos. A APA (Área de Proteção Ambiental) representa o desafio de combinar defesa do meio ambiente, com qualidade de vida das populações.

Uma ilha guarnecida por uma antiga construção faz parte da APA. É a fortaleza de Santa Cruz, construída em 1739. Os velhos canhões de ferro continuam apontados para o mar, numa posição de vigília permanente. No antigo quartel da tropa, há muito vazio, o passado se estende até os dias atuais, como uma ponte que atravessa os anos. Uma viagem no tempo.

O forte é um lugar visitado com frequência. É mais uma prova do potencial turístico da Área de Proteção Ambiental. Atrativo que pode ser melhor explorado quando a regulamentação da APA estiver pronta e reverter em ganhos para as comunidades que vivem na região.

Em busca da garoupa

Deixamos Anhatomirim, com seus fantasmas e histórias, e mudamos mais uma vez de direção. Já é hora de conhecermos o pedaço de oceano onde pesquisadores da Espanha e do Brasil fazem seu trabalho em defesa da garoupa. Uma espécie importante que contribui para regular o meio ambiente. Navegamos para o Norte da ilha de Santa Catarina até uma reserva biológica marinha.

Agora vamos visitar duas ilhas. Primeiro a Deserta, que faz por merecer o nome. Um grande bloco de granito e basalto sobre as ondas. Algumas formações chamam a atenção, pois lembram duas grandes torres de rocha. Essa ilha, embora pequena, tem grande importância ecológica. É o berço de algumas espécies de aves muito exigentes e ameaçadas de extinção.

A pouca distância da Deserta fica a ilha do Arvoredo. Aqui a vegetação é generosa. Só abre um pequeno espaço para o velho farol de ferro, que serviu de guia para muitas embarcações. Seja no mar ou em terra firme, pesquisadores e funcionários da reserva ainda têm muitos desafios. Mas os mistérios da reserva vão começar a ser revelados na terceira ilha do arquipélago. A da Galé.

Deixamos a ilha de Santa Catarina passando ao lado da histórica ponte Hercílio Luz. Vamos para uma pequena cidade de belas praias, onde o mar é calmo e convidativo.

Lá encontramos um barco à nossa espera. Vai começar o trabalho de pesquisa com as garoupas. Somos guiados pelo biólogo da universidade de Murcia na Espanha, Carlos Werner.
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Em nossa rota, encontramos a bela Ilha do Macuco. Seguimos adiante. E logo aparece a Ilha da Galé. Hora de preparar o equipamento de mergulho e começar a aventura debaixo d’água atrás das garoupas que povoam o litoral.

O primeiro mergulho revela a fauna e a flora subaquática. Algas e muita matéria orgânica em suspensão. Os mergulhadores encontram um mundo rico em biodiversidade. Passam por um cardume de piaba-do-mar.

O simpático peixe-porco parece não se incomodar com a presença estranha. A moréia também dá uma olhada no que está acontecendo. O baiacu-pinima é muito comum nessas águas. Presas nas rochas, estrelas e ouriços-do-mar são frequentes. Assim como o coral-mole, conhecido como baba-de-boi, e as esponjas, de variadas formas e cores.

Mas apesar do fascínio desse ambiente é preciso fechar o foco sobre o principal objetivo: as garoupas verdadeiras. Logo aparecem alguns possíveis esconderijos do bicho. E os peixes não demoram a se mostrar. Os pesquisadores se aproximam com isca e anzol para fazer a captura. A armadilha vai capturando exemplares que depois vão ser embarcados.

Algumas garoupas dão um pequeno espetáculo. Essa parece um cachorrinho brincando com a comida. Manhosa, que só ela, exige muita paciência do pesquisador. “Pega a isca e leva pra toca, mas solta. Pega de novo, e nada. Só na terceira tentativa ela é enganada”.

No barco, os peixes são medidos e pesados. Uma parte da nadadeira é cortada para exames de DNA. Cai a tarde de um dia produtivo. Na manhã seguinte, saímos da ilha de Santa Catarina pela Barra da Lagoa. As embarcações de pescadores margeiam nosso caminho.

À procura de mais peixes

Logo estamos em mar aberto. Chegamos à Ilha das Aranhas. É aqui que vamos procurar os peixes. “Então vamos para a água!”.

Nessas águas um pouco mais claras que na Ilha da Galé, as garoupas se mostram ainda mais arredias. Várias tentativas de captura acabam em nada. Aqui também a vida submarina dá um espetáculo.

Caranguejos, esponjas roxas e laranjas, o ouriço-branco, peixes como a donzelinha-comum e o badejo-mira, seguido de perto por uma das teimosas garoupas.

Mas é preciso insistir e logo o esforço é premiado. No barco, o trabalho de marcação com as tags (etiquetas que levam informações) é feito novamente, mas dessa vez a identificação tem cor diferente.

É bom lembrar que a garoupa hoje é considerada uma espécie vulnerável. Depois de colhidas informações e material genético, as garoupas são devolvidas ao oceano. Com a esperança de que continuem nessas águas ainda por muito, muito tempo.

Programa 609 – Garoupa-Arvoredo

Agradecimento:

Reserva Biológica Marinha do Arvoredo/ ICMBio

Escola de Cultura Subaquática – Florianópolis, SC.
www.culturasubaquatica.com.br

Bertuol Escola de Mergulho – Bombinhas, SC.
www.bertuolmergulho.com.br

(EPTV, 30/04/2010)

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