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Reforma do CIC ainda não chegou no cineclube

Ao percorrer os corredores do Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, o que se vê é reforma. O cheiro das tintas, do cal, da madeira. Mas um local continua lacrado e, por enquanto, intocado. É a sala de cinema, que abriga o Cineclube Nossa Senhora do Desterro – exibidor de filmes que estão à margem do chamado “cinema de shopping”.

Uma lista com 850 assinaturas foi entregue sexta-feira à presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Anita Pires. O abaixo-assinado pede reabertura da sala até o mês de julho.

Não existe uma guerra entre cinéfilos e governo, mas os primeiros estão inquietos. Desde que a sala foi fechada para as reformas do CIC, em setembro do ano passado, os filmes que lá eram exibidos – independentes norte-americanos, europeus, asiáticos e clássicos – não podem ser vistos nos cinemas catarinenses.

Frequentadores da sala desde o início de suas atividades (e ainda antes do Cine York de São José, a partir de 1975), os professores aposentados Affonso e Miriam Alles estiveram com a presidente da FCC.

Ouviram que o maior empecilho é a burocracia do processo licitatório. Empresas que participam da licitação das obras do cinema e do teatro – que serão realizadas em conjunto – impugnaram concorrentes. A reclamante tem prazo de 30 dias para resposta e retomada das obras. Mais de uma empresa protocolou o pedido para impugnação.

O cronograma estimado para a conclusão da obra pela equipe técnica da FCC é setembro, no mais tardar outubro. O primeiro prazo informado foi março; o segundo, julho. Na planta, o projeto do novo cinema e do novo teatro estão prontos desde dezembro. O custo inicial foi orçado em R$ 6 milhões, mas já passa dos R$ 7,5 milhões .

Um dos signatários da carta, o cineasta Marco Martins, tem um curta-metragem pronto, rodado em 35 milímetros, desde setembro. Por conta do fechamento do CIC, ainda não o exibiu na Capital. O filme foi feito com recursos do governo estadual, distribuídos pelo edital Cinemateca.

– Se ficarmos dependentes apenas das salas comerciais dos shoppings, a cultura cinematográfica vai pro brejo – lamenta Affonso Alles, que em boa parte dos seus 77 anos dedicou preciosas – algumas inesquecíveis – horas às imagens da grande tela.

Ele e a mulher percorreram os corredores do CIC na quinta-feira à tarde, e observaram as reformas, explicadas em detalhes. Miriam inclusive tirou fotos no local. Entendem os problemas burocráticos, mas é difícil de aceitar que a sala permaneça fechada sem perspectiva para reabrir.

Assistir a filmes não é apenas passatempo. A professora aposentada, de 67 anos, explica que o cinema faz parte da agenda.

– Mudou até mesmo nossa rotina, pois duas ou três vezes por semana nós assistíamos aos filmes aqui – explica, enquanto observa detalhes da restauração do prédio.

Reforma para rede de esgoto “inexistente”

A diretora de Patrimônio Cultural da FCC, Simone Harger, explica que as obras no centro cultural também sofreram atrasos por conta de surpresas desagradáveis.

– Estava prevista a reforma da rede de esgoto “existente”. Mas descobrimos que nem havia essa rede. Os banheiros existentes eram insuficientes, e também não estavam adaptados para portadores de necessidades oficiais – lista Simone.

Ela reforça que não faz sentido promover ações separadas, já que todo o conjunto precisava de reformas.

– O Ministério Público e o Corpo de Bombeiros há tempos cobravam a Fundação por várias questões técnicas e de segurança. Todas serão sanadas – explica o gerente de Pesquisa e Tombamento, Halley Filipouski.

– É claro que o espectador precisa de um lugar seguro para assistir filmes. Mas ser privado da magia e a emoção de assistir a um filme na telona – “só assistimos filmes em cinema” – também é sofrido. É o que revela Miriam, lembrando que a data – dia 29 de abril – marcava 30 anos da morte de Alfred Hitchcock

(Por Renê Müller, DC, 01/05/2010)

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