Ambiente. Verdadeiras cidades flutuantes, esses navios – que recebem, em média, 2 mil pessoas cada um – produzem grandes volumes de lixo, esgoto e emissões de gases-estufa. Viagens pelo País aumentaram 66% nesta temporada em relação à anterior
A proliferação dos cruzeiros na costa brasileira, comemorada pelos municípios que recebem mais visitantes e pela indústria do turismo, traz também preocupação sobre o impacto ambiental dos navios. Verdadeiras cidades flutuantes, as embarcações produzem grandes volumes de lixo, esgoto e de emissões de gases de efeito estufa – a eletricidade usada a bordo geralmente é produzida por motores a diesel.
Na temporada 2009/2010, encerrada neste mês, a estimativa é que quase 900 mil passageiros viajaram em cruzeiros no País – 66% a mais do que no período anterior, iniciado em outubro de 2008 e concluído em maio de 2009. No total, 18 navios atracaram nos portos brasileiros. Em média, cada um tem 2 mil passageiros a bordo.
Todo o lixo orgânico produzido durante a viagem é lançado ao mar, de acordo com a convenção da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês). Segundo a regra, esse tipo de lixo pode ser descartado no oceano, desde que a uma distância de 12 milhas náuticas – cerca de 22 quilômetros – da costa. A mesma convenção autoriza o lançamento de esgoto no mar, mas com tratamento prévio.
A própria Associação Brasileira dos Cruzeiros Marítimos (Abremar) diz não possuir “dados sobre a quantidade de resíduos produzidos pelos cruzeiros”. No entanto, o Instituto EcoBrasil, organização voltada ao turismo sustentável, compilou informações a respeito.
A ONG estima que são produzidos 950 mil litros de esgoto humano e gerados o equivalente a duas piscinas olímpicas de águas cinza (provenientes de pias e chuveiros) por semana num navio de grande porte. Além disso, a operação de cruzeiros traz o risco de derramamento das chamadas águas de sentina (óleos, produtos químicos e solventes) no mar, o que pode prejudicar a vida marinha.
Outro problema trazido com os navios é o inchaço dos destinos turísticos, muitas vezes despreparados para lidar com um grande fluxo de pessoas. E nem sempre há grande retorno financeiro para as localidades. “Como os navios oferecem todas as refeições, em geral os passageiros fomentam um comércio de miudezas, compram souvenirs e sorvetes”, afirma Roberto Mourão, presidente da EcoBrasil.
Ecológicos. Grandes armadoras (as donas dos navios) que atuam no Brasil, como MSC Cruzeiros e Royal Caribbean, reconhecem que os navios trazem impactos ao ambiente, mas afirmam que a cada ano são implementadas novas tecnologias para amenizar a “pegada” ecológica das embarcações.
A MSC Cruzeiros, que possui seis navios em operação no País, adotou a norma internacional ISO 14.001, de gestão ambiental, para seus transatlânticos. “Para cuidar do lixo, temos a bordo incineradores, compactadores e trituradores. Parte dos resíduos volta aos portos e é encaminhado para reciclagem”, diz Adrian Ursilli, diretor comercial e de marketing da MSC Cruzeiros Brasil. Segundo o executivo, no ano passado foram recicladas 48 toneladas de latas de alumínio e 75 toneladas de óleo de cozinha seguiram para a produção de biodiesel. Ele não soube estimar a quantidade de lixo que cada passageiro produz diariamente.
Milton Sanches, diretor de cruzeiros da operadora de turismo CVC, afirma que um dos critérios observados pela empresa para a escolha de um navio é o atendimento às convenções internacionais. “Em alguns destinos mais sensíveis, como Fernando de Noronha, não se joga absolutamente nada no mar” diz.
Multas. Apesar de as empresas garantirem que se preocupam com a sustentabilidade, diversos navios receberam multas nos últimos anos por danos ambientais, como jogar ao mar águas sem tratamento e destruir corais. “Sabemos que precisamos melhorar cada dia mais no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável. O objetivo é que no futuro existam, sim, “navios ecológicos”. Hoje, porém, o trabalho das operadoras de cruzeiros já é exemplo de sustentabilidade”, diz Ricardo Amaral, presidente da Abremar e diretor da Royal Caribbean do Brasil. Segundo ele, as empresas “vivem do mar e atuam em prol de praias limpas, cidades litorâneas e oceanos saudáveis”.
MULTAS
Louis Cruises
Em 2007, empresa foi multada em 1,17 milhões de euros por poluir o mar com 450 toneladas de óleo.
Carnival Corporation
Pagou US$ 18 milhões em multas entre 1996 e 2001 por lançamento de óleo ao mar.
Royal Caribbean Cruises
Entre 1998 e 2000, foi multada por ter jogado ao mar águas poluídas e tóxicas.
(Por Afra Balazina e Andrea Vialli, O Estado de São Paulo, 16/05/2010)
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