A preservação do meio ambiente já não é uma preocupação restrita às classes sociais brasileiras com maior acesso à informação, estendendo-se também, nos últimos três anos, aos segmentos C e D. Mas as ações governamentais, de ONGs e da iniciativa privada não têm sido suficientes para ampliar o nível de conscientização da população.
Atenta ao impacto desse fenômeno nas intenções de consumo do brasileiro, a TNS Research International, líder mundial no segmento de pesquisas customizadas, elaborou um estudo com enfoque em sustentabilidade, concluído no primeiro trimestre deste ano. Após 1.500 entrevistas com homens e mulheres de 18 a 60 anos, realizadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, o levantamento constatou que, na prática, a população brasileira ainda se mantém distanciada das chamadas práticas sustentáveis. “Estamos num estágio embrionário como agentes da ‘revolução verde’, afirma Elizabeth Salmeirão, diretora da área de Varejo da TNS Research International. Segundo a pesquisadora, embora 67% dos entrevistados estejam, atualmente, mais preocupados com o tema, ainda é expressiva a parcela de pessoas (8%) que não têm nenhuma familiaridade com o assunto. Curiosamente, não são os jovens, mas pessoas com mais de 45 anos, em especial as mulheres da classe C, de São Paulo e de Porto Alegre, o público que demonstra maior grau de envolvimento com a questão. Os mais jovens também têm algum envolvimento com o assunto mas, de acordo com a os resultados da pesquisa, isso não se reverte em práticas sustentáveis.
Três perfis distintos de entrevistados foram identificados no estudo. Os “engajados”, aqueles que mantêm atitudes cotidianas em relação à sustentabilidade e consomem produtos “verdes” e representam apenas 4% do total da amostra. Já os “envolvidos”, maior parcela do público pesquisado (51%), adotam práticas de economia de água e luz, mas o fazem por economia e não pela conscientização. Por último, os “ausentes”, que representam quase a metade da população (45%) e mostram-se indiferentes a essa problemática, revelando pouca ou nenhuma familiaridade com o tema. Eles estão concentrados no Rio de Janeiro e em Salvador.
Práticas mais frequentes
Entre as conclusões do estudo, constatou-se que a população das classes de menor poder aquisitivo têm maior aderência às práticas que geram benefícios financeiros diretos, imediatos e concretos, como economia de água e de energia elétrica “A mobilização nesse segmento social se dá, em geral, pelo ‘bolso’ e não propriamente pela conscientização, enquanto que iniciativas como reciclagem de lixo e consumo de produtos verdes estão mais restritas aos “engajados”, destaca Elizabeth.
Estes últimos, embora em número expressivamente reduzido (4%), compõem um público em sua maioria feminino, mais maduro (na faixa dos 45-60 anos), das classes A/B, com renda familiar mais alta (R$ 4.200 em média), residem em São Paulo e Porto Alegre e diferenciam-se dos outros perfis, sobretudo, pelos hábitos de consumo. Compram produtos de higiene pessoal ecologicamente corretos (com embalagens reutilizáveis ou retornáveis), reciclados, orgânicos ou naturais e ainda reaproveitam água da chuva. Também usam dispositivos para economizar água, desligam completamente os eletrodomésticos quando não estão sendo utilizados e reciclam o lixo de casa ou levam para centros de recolhimento disponíveis nos supermercados.
Já os “envolvidos” são, em geral, da classe C, com renda familiar mensal próxima a R$ 4 mil e estão mais presentes em São Paulo e Porto Alegre. Estes até adotam algumas práticas de sustentabilidade, como apagar as lâmpadas nos ambientes desocupados, fechar a torneira enquanto escovam os dentes ou lavam a louça, mas essas práticas estão sempre ligadas à “economia” e não à conscientização. Em contrapartida, não atuam em práticas distantes desse objetivo, como reaproveitar água da chuva, utilizar sacolas plásticas dos supermercados ou reciclar o lixo e levá-lo para centros de reciclagem,
Por outro lado, entre os “ausentes”, caracterizados pela população mais jovem de classe C, com renda familiar mensal mais baixa (R$ 3,2 mil) e maior incidência no Rio de Janeiro e em Salvador, apenas a metade deles (22,5%) adota alguma prática sustentável em seu cotidiano e, quando isso ocorre, estas estão relacionadas à economia das contas básicas, como luz e água: apagam todas as lâmpadas nos ambientes desocupados, usam lâmpadas fluorescentes e fecham a torneira enquanto escovam os dentes ou lavam a louça.
Barreiras ao consumo
A compra de produtos “verdes” é mais restrita ao segmento dos “engajados”, que adotam a prática com frequência (14%). Os demais (62%), quando compram, o fazem esporadicamente ou nunca (24%), até porque não “reconhecem” esses produtos ou alegam dificuldade (52%) em encontrá-los nas gôndolas dos supermercados. “Há a percepção de inacessibilidade desse tipo de mercadoria nos pontos-de-venda”, ressalta Elizabeth.
Segundo a pesquisadora, essa percepção é decorrência do baixo envolvimento desses consumidores com a categoria. “Além da oferta restrita, os produtos desse segmento têm baixa visibilidade nos PDVs e sua disposição nas gôndolas nem sempre é visível ou “decodificável” para os consumidores”, explica. “O fato é que essa somatória de fatores representa um ‘freio’ para o consumo, sobretudo se considerarmos que há uma parcela de pessoas (os “envolvidos”) que mostra pré-disposição para comprar produtos com essas características”, complementa Elizabeth.
Oportunidades
Para os fabricantes que desejam aumentar o share de produtos “verdes”, a pesquisadora orienta a investir no fator “recompensa”. “As oportunidades estão baseadas em ações que gerem a materialização do benefício de forma imediata”, ensina. Em paralelo, ações voltadas à educação dos consumidores mostram-se fundamentais, sobretudo junto ao segmento dos “ausentes” e entre os jovens. “O investimento da indústria, nesse processo, não só tem potencial para retorno financeiro, como também pode contribuir fortemente para agregar valor à marca”, acrescenta a diretora da TNS Research International.
O estudo detectou, ainda, o que estimularia os entrevistados a adotar mais práticas sustentáveis no dia-a-dia. Os engajados com o tema argumentaram que essas iniciativas exigem, prioritariamente, maior atuação do governo ou de instituições não-governamentais, por meio de divulgação mais intensa de informações e educação. Os menos ou nada envolvidos com a questão mostraram-se prioritariamente carentes de orientações sobre as práticas avaliadas.
De forma geral, os aspectos mais preocupantes da população em relação ao meio ambiente são o aquecimento global (33%); a falta de água (29%), a poluição da água de rios e mares (14%), o desflorestamento/desmatamento (13%) e, por último, a poluição do ar (8%).
(TNS Research International, 10/05/2010)
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