Palestra do oceonógrafo Alberto P. Costa Neves, no I Seminário sobre Transporte Marítimo de Florianópolis, realizado em 25/03/2010.
Para um empreendimento ser sustentável deve atender quatro requisitos básicos. Primeiramente, ele deve ser ecologicamente correto. Deve atender a todo os requisitos, leis e regulamentos. Deve também ser economicamente viável. Vejam que este termo é abrange muito mais do que o custo da implementação do transporte aquaviário na ilha. Temos que levar em consideração o que será economizado em gás carbônico que deixará de ser emitido na atmosfera, em pontes que não precisarão ser construídas etc.
O terceiro e quarto requisito é que seja socialmente justo e culturalmente aceito. Para isso, será necessário fazer uma campanha de esclarecimento, o projeto tem que ser apresentado corretamente a população para que funcione.
O transporte marítimo não seria uma criação nossa, mas um resgate histórico do que já era feito. Isso até 1926, em que começou a construção da Ponte Hercílio Luz e fomos perdendo o contato com o mar.
Ao pensar o projeto, temos que levar em consideração alguns condicionantes: ventos, ondas, correntes, temperatura e visibilidade alteram significativamente as condições de viagem. Não pode haver erro, porque um passageiro que passe mal não voltará.
Também precisamos analisar algumas premissas: deve ser uma solução e não trazer mais problemas; o sistema tem que ser olhado coletivamente e tem que ser integrado com as ciclovias, com o viário. Tem que seguir as normas de acessibilidade tanto para portadores de necessidades especiais quanto para idosos. A tarifa deve ser acessível, outros sistemas já fracassaram por serem caros demais. Nós queremos que seja competitivo com o automóvel particular. Tem que convencer os motoristas a deixarem seus carros em casa e incorporar o sistema aquaviário ao seu dia-a-dia.
O conforto para os passageiros deve ser claramente atendido. Nosso público é diferente do turista, que está passeando e pode se molhar. Ele tem que ter certeza de que chegará seco ao trabalho. A duração dos trajetos deve ser conhecida, o passageiro deve saber a que horas ele chegará no trabalho. Deve preservar o meio ambiente e contar com a participação da sociedade, de modo que todos tenham voz ativa nas escolhas.
Queremos uma resposta rápida do sistema aquaviário, mas precisamos já pensar em medidas de médio e longo prazo, da mesma forma que a expansão para toda a grande Florianópolis e não ficar apenas restritos a nossa cidade.
Não podemos ficar restritos a soluções convencionais. Hoje comentávamos a distância dos terminais viários do mar. Na Austrália, utiliza-se ônibus anfíbios. Por que não usar um único meio que faça as duas coisas?
Uma ligação entre Abraão e o centro de Florianópolis já desafogaria imensamente as pontes. Uma vez estabelecida esta linha tronco, pode-se ligar o centro ao Ribeirão da Ilha e o centro a Canasvieiras.
Linhas ramais poderiam ser estabelecidas com a distribuição dos passageiros entre as diversas praias que ficam no caminho. Não há como criar inúmeras linhas devido aos possíveis conflitos com outras atividades, como as áreas de pesca ou maricultura.
O transporte marítimo é o menos poluente que existe, previne riscos de engarrafamento, é seguro. As vias navegáveis são vias prontas. O máximo que se precisará em questão de infraestrutura é de terminais hidroviários, mas não há necessidade de asfaltamento, por exemplo.
Santa Catarina tem um parque náutico de ponta, não é necessário buscar isso fora.
Este sistema também é altamente integrável ao turismo.
O sistema aquaviário aqui é mais do que desejável, é necessário e urgente. Retira veículos particulares, diminui o caos do trânsito e ainda ajuda a resgatar a cultura da ilha. Faz-se necessária a gestão de conflitos.
(PMF, 26/03/2010)