Ostras estão entre as espécies usadas como biomarcadores
O controle da poluição de ambientes costeiros e de recursos hídricos, ameaçados por esgotos industriais e domésticos, por metais pesados e pesticidas, é um desafio para o país. A inauguração de novas instalações para o Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica fortalecem a atuação da UFSC neste campo.
O Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica é um dos três setores que compõem o recém-inaugurado Núcleo de Estudos em Patologia Aquícola, implantado junto ao Departamento de Aquicultura, do Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Uma de suas principais competências é analisar organismos aquáticos, para identificação dos efeitos em nível molecular e bioquímico dos contaminantes presentes no ambiente. A nova estrutura do laboratório recebeu apoio financeiro da Finep, Fapesc, Ministério da Pesca e Aquicultura e da Petrobras.
As novas instalações fortalecem também a participação da universidade no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxicologia Aquática, que tem sede na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e conta como parceiros UFSC, UFPR, UEL, UFSCar e UFPE. O principal objetivo do instituto é identificar, com base em metodologias avançadas, biomarcadores em espécies da fauna brasileira (animais de água doce e marinha) que possam servir de parâmetros de referência para o estabelecimento de regulamentação ambiental.
“As necessidades atuais exigem que novas ferramentas sejam agregadas às metodologias clássicas para estabelecimento de critérios de qualidade de água e níveis de emissão de contaminantes no meio aquático, visando sua adequada preservação”, explica o professor da UFSC Afonso C.D. Bainy, que divide a coordenação do Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica com a professora Maria Risoleta Freire. Bayni é também vice-coordenador do INCT em Toxicologia Aquática.
“Atualmente, a conservação dos recursos hídricos enfrenta um grande desafio devido ao significativo avanço do desenvolvimento urbano, agrícola e industrial no mundo todo”, preocupa-se o professor. Ele explica que o monitoramento da água consiste no método mais tradicional de acompanhamento da contaminação aquática, apresentando como vantagens a fácil coleta de amostras e a possibilidade de detecção de poluentes recentes. Mas tem como desvantagem a dificuldade de detecção de metais, pesticidades e hidrocarbonetos, quando estão em baixa concentração. Além disso, a simples presença de um determinado contaminante na água não implica que ele esteja produzindo algum efeito tóxico no ambiente e nos organismos expostos.
Por esse motivo, a legislação ambiental brasileira exige que se colete as amostras de água em campo e, em laboratório, sejam feitas análises químicas e ensaios ecotoxicológicos. “No entanto, os testes de toxicidade, especialmente os agudos, não determinam parâmetros suficientes para proteger o ambiente, pois geralmente estão associados à mortalidade dos indivíduos ou seu insucesso reprodutivo. Estes parâmetros não têm o caráter de previsibilidade dos efeitos tóxicos que potencialmente podem ser causados pelos contaminantes aquáticos, não antevendo e não permitindo, portanto, que ações preventivas sejam tomadas antes que danos maiores ao ambiente e à biota sejam causados”, explica o professor.
Segundo ele, em função destes desafios, cada vez mais se tornam estratégicas técnicas de monitoramento biológico, que utilizam organismos para detectar a presença de contaminantes. Essa tecnologia é possível pois os animais acumulam quantidades significativas de substâncias em seus tecidos ao longo do tempo, tanto a partir da água como da alimentação. As pesquisas avaliam também os efeitos biológicos destes contaminantes na espécie em estudo, correlacionando suas consequencias aos níveis de exposição.
Estes efeitos são chamados pelos pesquisadores de biomarcadores, pois representam as respostas bioquímicas, fisiológicas ou comportamentais, medidas em tecidos, fluídos corpóreos da espécie em estudo. São os biomarcadores que fornecem evidências de exposição e efeitos adversos da poluição química nos animais.
A natureza destas respostas pode antecipar possíveis mudanças em relação a populações, comunidades e ecossistema, sinalizando a necessidade de que medidas preventivas sejam adotadas e impactos sobre os ambientes seja evitados. De acordo com o pesquisador, o programa de pesquisa do INCT em Toxicologia Aquática pretende, de forma inédita, realizar a avaliação integrada de um grande número de biomarcadores para identificação, calibração e aplicação dos mais adequados, práticos e econômicos em políticas públicas.
“A expectativa é de que os resultados das atividades desenvolvidas no âmbito do INCT em Toxicologia Aquática tragam avanço científico e tecnológico marcante para o nosso país na área da Toxicologia Aquática, colocando o Brasil em situação de vanguarda na aplicação de biomarcadores de contaminação no estabelecimento de políticas públicas voltadas ao monitoramento da qualidade dos recursos hídricos e à conservação dos ecossistemas aquáticos”, complementa o professor Adalto Bianchini, da FURG, coordenador geral do instituto.
Mais informações na UFSC: Telefone: (48) 3721-6561 / e-mail: bainy@mbox1.ufsc.br
Saiba Mais:
O trabalho da UFSC com biomarcadores:
O Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica tem realizado nos últimos 13 anos diferentes estudos com mexilhões, ostras, camarões e peixes.
O grupo realiza pesquisas sobre os efeitos de esgoto doméstico bruto, óleo diesel, pesticidas e metais (zinco, chumbo) sobre algumas as espécies. São realizadas análises em laboratório, em condições controladas, e em campo, em ambientes impactados.
(Arley Reis, Agecom, 30/11/2009)
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