Três projetos da Universidade Federal de Santa Catarina foram escolhidos para serem apoiados financeiramente pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). A Fundação investirá R$ 2 milhões em 17 projetos de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação relacionadas a estratégias de prevenção de desastres naturais em Santa Catarina.
Foram aprovadas as propostas capazes de preparar o Estado para futuras emergências decorrentes de fenômenos meteorológicos extremos. O valor do investimento do governo estadual será liberado em dois anos, previsão de duração dos projetos, com repasse de até 50% do total já em 2009. Os contratos de financiamento foram aprovados no dia 03/11 e, após as fases de reajuste do orçamento, começarão a ser executados.
Um dos projetos da UFSC é o do professor Edison Ramos Tomazolli, do Departamento de Geociências. A elaboração contou com participação do professor e de um grupo do departamento que trabalhava com o tema há cerca de um ano. Juntos, eles propõem a análise e mapeamento das áreas de risco a movimento de massa e inundações no Complexo do Morro do Baú, uma das regiões mais afetadas pelas chuvas e deslizamentos em novembro passado. “Esse projeto se mostra importante porque fará a delimitação das áreas de risco e, com esse conhecimento, ajudará as comunidades da região, facilitando o monitoramento e dando avisos aos habitantes do local quando preciso”, explicou o professor.
O projeto recebeu a maior cota de financiamento da Fapesc, quase R$ 300 mil. A equipe conta em média com 21 pessoas dentre professores, pesquisadores e estudantes dos cursos de Geografia e Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. A área, estritamente rural, fica situada no triângulo formado pelos municípios de Ilhota, Luiz Alves e Gaspar. “Essa análise também é interessante em nível municipal, na medida em que a delimitação das áreas de risco ajuda no planejamento desses locais”, finalizou Tomazzolli.
Outra proposta aprovada foi a da professora Rosana Carvalho Martinelli Freitas, do Departamento de Serviço Social, elaborada juntamente com a assistente social e mestranda de Serviço Social Cristiane Coelho de Campos. O estudo exploratório se insere na linha de pesquisa “Desigualdade e Pobreza” do Núcleo de Estudos e Pesquisas Estado, Sociedade Civil, Políticas Públicas e Serviço Social (NESPP) da UFSC. O projeto tem como objetivo geral analisar a intervenção da equipe profissional diante de situações de desastres. “Ele tem a intenção de aprofundar o conhecimento, ainda incipiente, no contexto catarinense e brasileiro sobre o trabalho social desenvolvido nos três momentos que constituem o ciclo de gerenciamento de um desastre: o antes, o durante e o depois”, explica Rosana.
A equipe é composta pelas idealizadoras do projeto, estudantes de graduação e profissionais de Blumenau e de Florianópolis, que em diferentes momentos participarão das atividades previstas. “Cabe à comunidade científica promover articulações intra e interinstitucionais no sentido de fortalecer a produção de conhecimentos no processo de planejamento, execução e avaliação de uma política socioambiental. Além disso, deve-se procurar subsidiar a capacitação de profissionais preparados para gerar mudanças culturais no que tange à questão ambiental versus desenvolvimento“, afirmou a professora.
Segundo Rosana, a compreensão da problemática do meio ambiente suscita discussões nas esferas política, econômica, social e cultural e se faz necessário ampliar o conhecimento a fim de evitar outros incidentes climáticos. “O que se percebe no Brasil é uma grande mobilização e liberação de investimentos após o desastre como forma de auxilio, e não como política instituída para a prevenção e enfrentamento em situações de desastres”, concluiu.
Também foi aprovado o projeto em nome da professora Maria Lúcia de Paula Herrmann, professora do Departamento de Geociências da UFSC e coordenadora do Grupo de Desastres Naturais de Santa Catarina (GEDN).
A equipe, que conta com dois professores e quatro alunos da Universidade, terá ajuda de membros do grupo para a realização do projeto: uma atualização revisada e ampliada do Atlas de Desastres Naturais ocorridos entre 1980 e 2010 em Santa Catarina.
O Atlas já havia sido organizado pela professora e editado em 2004 com o apoio e auxílio da Diretoria Estadual de Defesa Civil (DEDC), em parceria com o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED) da UFSC.
Transcorridos seis anos após a publicação, novos e impactantes episódios climáticos ocorreram no Estado e a proposta de reedição do volume pretende adotar a mesma sistemática de registros dos desastres apontados a partir de 2004 e destacar, como feito com o furacão Catarina, os eventos catastróficos que ocorreram no período de 2004 a 2009.
“Pretende-se abordar o episódio pluvial intenso de novembro de 2008, que afetou com inundações e escorregamentos o baixo curso do vale do Itajaí e litoral, os episódios de vendaval, tornados simultâneos e inundações que ocorreram em setembro de 2009, afetando mais de 80 municípios do Estado”, explicou a professora.
Maria Lúcia acredita que, dando enfoque ao levantamento sistemático dos desastres naturais, é possível oferecer subsídios para a análise dos excepcionalismos climáticos do Estado e para as ações de planejamento e prevenção. A professora ainda ressalta que é necessário que o poder público faça a sua parte para a produção de uma sociedade menos vulnerável e a construção de um território com menos riscos. “O poder público deve tomar as providências, democratizar as ações e consolidar uma política de prevenção e de segurança para os seus cidadãos, além de discutir a utilização racional do espaço”, destacou.
Todas as pesquisas aprovadas seguem quatro linhas de apoio. O projeto dos professores do Departamento de Geociências seguem a linha de Estabelecimento de Planos de Ocupação Territorial com Base no Estudo de Áreas de Risco e, na linha de Capacitação da Sociedade Civil e Órgãos Governamentais na Prevenção e Atendimento de Ocorrência de Eventos Extremos, se encaixa o projeto da professora Rosana.
Na Chamada Pública de outubro de 2009 concorreram pesquisadores com titulação de mestre e doutor, residentes em Santa Catarina há pelo menos dois anos, com experiência de atuação em pesquisa científica, tecnológica e inovação nas áreas relacionadas. Os projetos encaminhados foram avaliados por uma comissão científica apoiada por consultores técnico-científicos doutores, através de critérios diversos, tais como a importância e relevância científica, tecnológica e inovativa do projeto; a qualidade técnica; o potencial para o desenvolvimento da região; a capacidade da equipe executora; os prováveis impactos sociais, econômicos e tecnológicos para Santa Catarina; orçamento e articulação.
Desastres naturais em Santa Catarina
Fenômenos naturais extremos têm atingido diversos estados do Brasil e têm deixado prejuízos sociais, ambientais, econômicos e humanos. Santa Catarina, devido a sua posição geográfica, é atingida constantemente por adversidades atmosféricas diversas, caracterizadas pelos elevados totais pluviométricos, pelos prolongados meses de estiagens e pelas tempestades severas, que geram vendavais, granizos, tornados e marés de tempestades.
Em novembro de 2008, as chuvas causaram grandes danos, principalmente para no Vale do Rio Itajaí. Além de incontáveis prejuízos econômicos, foi registrado, nos dias seguintes ao evento, um saldo de 117 óbitos, 32 desaparecidos, 21.269 desabrigados e 47.895 desalojados.
Nesses casos, em que os eventos são catastróficos, a ação desarticulada do Estado torna-se visível. Entram em ação a Defesa Civil Estadual e outras entidades, mas é difícil coordenar suas atuações diante da urgência de alguns casos. Para mudar essa situação, o Governo do Estado instituiu o Grupo Técnico Científico (GTC). Sob coordenação geral do professor Diomário Queiroz, presidente da Fapesc, o grupo quer articular esforços e, na medida do possível, prevenir as piores conseqüências dos desastres naturais, além de atender essas emergências.
Dentre universidades, secretarias e fundações nacionais e estaduais, participam do GTC, ao todo, 19 instituições. O grupo tem como objetivos a avaliação técnica e científica das diferentes catástrofes naturais ocorrentes em Santa Catarina, a proposição de projetos de natureza preventiva que visem à redução dos efeitos produzidos pelas catástrofes e a ajuda ao governo para elaboração de instrumentos legais que contribuam para o efetivo desenvolvimento sustentável do Estado.
Mais informações:
Fapesc – site: www.funcitec.rct-sc.br telefone/fax: (48) 3215-1200
GEDN – site: www.cfh.ufsc.br/~gedn ; telefone: 3721-8815
CTG – site: www.catastrofesnaturais.sc.gov.br.
(Natália Izidoro, Agecom, 18/11/2009)
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