I Seminário Nacional de Gestão Compartilhada de Praias
30/11/2009
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30/11/2009

O Natal e a Praça

Da coluna de Sérgio da Costa Ramos (DC, 30/11/2009)

A atmosfera do Natal está no ar e levita no coriscar das luzes e no cheiro que se desprende dos jasmineiros. Os jardins e os canteiros públicos estão floridos, desenhando buquês rasteiros que amenizam o trânsito pesado.

De noite, brilham os néons e as lampadinhas; de dia explodem os ipês e as buganvílias – fazendo “sangrar” de beleza os beirais e as varandas.

Pena que a Praça XV não esteja em sua melhor forma para abrigar o presépio ecológico do bruxo Franklin Cascaes, reconstituído pelo seu devotado herdeiro Peninha.

Em 1885, a praça ainda se chamava Barão da Laguna, em homenagem ao ainda vivíssimo Jesuíno Lamego Costa, almirante e senador do Império. Em 1891, os novos puxa-sacos crismaram-na com a data da República, desterrando o almirante para uma rua secundária, na então longínqua Praia de Fora.

Praça de poucas árvores, muitos pombais e monumentos, seus dois cafés funcionavam em quiosques na cabeceira sul, altura da atual Farmácia Vitória.

Um muro enlaçava o jardim, debruando-o com a renda de gradis ingleses, importados de Birmingham por 280 libras esterlinas. Usos e costumes eram também very british: um funcionário do município abria o jardim às nove da manhã, fechando-o à noite, depois de tocar o sino das nove, pendurado no “pescoço” de uma grande árvore – que ainda não era a figueira. O ficus indianus seria ali plantado em 1906, por iniciativa do governador Gustavo Richard, que o mandou buscar no Jardim Botânico do Rio.

Coube ao prefeito Rupp Júnior a boa ideia de “devolver” a praça ao povo, derrubando os seus muros e quiosques e doando os gradis bordados aos adros das igrejas do Rosário e de São Francisco.

O entorno do jardim ficou sendo o ponto de encontro, o local da troca de olhares oblíquos, os bancos ocupados por mães e olheiros providenciais – que “vigiavam” o namoro dos jovens em pleno corso.

O corso de hoje se faz a bordo de bólidos ao longo da Beira-Mar, ou seja, não há mais logradouros para o exercício da “azaração”. Esta, agora, é diretíssima, nos cafés-com-música e nas boates, lights ou heavy, ao gosto de cada freguês – e mais detalhes não se dá porque cada um vai à festa rave que lhe aprouver.

A cidade, sabe-se, vai ficar bonita, a alegria em “alta” e o dólar em baixa – com o real assim tão forte haverá menos renda nos guichês turísticos, mas também menos argentinos…

Vejo-me criança, de calça curta, curtindo tanto o presépio caseiro quanto o da Praça XV. A Sagrada Família se alojava numa gruta feita de papel de embrulho pintado, barba de velho, conchas e espelhos, que representavam lagos serenos, cercados pela rala vegetação verde de papel crepom.

Lá fora chegavam os Reis Magos, com seu ouro, sua mirra e seu incenso – os primeiros puxa-sacos da era cristã, que já vara a primeira década do terceiro milênio, rumo ao eterno.

Teremos um final de ano com alguns grandes shows, entre eles o recital de Andréa Bocelli – num Réveillon memorável.

Mas a manjedoura do Menino, ali na Praça XV, parece que foi esquecida, o tradicional presépio do Peninha, com barba de velho e sabugo de milho…

O simples também é belo – manda dizer, lá do alto, o bruxo Franklin Cascaes, a bordo de sua vassoura alada.

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