D a coluna de Moacir Pereira (DC, 29/11/2009)
O sistema de segurança pública de Santa Catarina vem registrando, nos municípios da Grande Florianópolis, uma situação paradoxal. Quanto mais os policiais civis e militares ganham consistência em suas legítimas reivindicações por melhorias salariais e conquistas para o exercício de suas funções, maior é a sensação de insegurança da população.
Os registros sobre ocorrências policiais não se restringem apenas aos boletins das delegacias ou anotações dos militares que vigiam a Capital. Há casos graves, cujas vítimas deixam de reclamar nos órgãos oficiais, por não acreditaram na eficácia das investigações. Ou, no caso do tráfico de drogas, pelo temor de represálias por parte de quadrilhas que controlam bairros da cidade.
Os turistas que procuram a Ilha de Santa Catarina e se dirigem às praias Mole e da Galheta, por exemplo, sentem este cenário deficiente. São frequentes ali os assaltos de veículos e de visitantes.
Em Jurerê Internacional, o caso é semelhante. Mesmo contando com um esquema próprio de vigilância, o balneário virou um terreno fértil para a ladroagem. Estacionou nas movimentadas áreas dos restaurantes mais bem-frequentados, com carros trazendo placas de outros estados, é roubo na certa.
Na Beira-Mar Norte, o cenário não é diferente. A polícia sabe que os furtos ali acontecem todas as noites. Levam o que tem dentro dos veículos e até os próprios carros particulares. E casos com uso de violência.
Policiamento
Até os shopping centers, movimentados centros comerciais dotados de sistemas de segurança, viraram alvo dos larápios. Em apenas 30 dias, no Iguatemi houve roubo numa joalheria e numa famosa loja de rede nacional de eletrodomésticos.
O quadro é tão preocupante que até a própria polícia sofre as consequências da insegurança. O caso mais emblemático envolveu o delegado Alexandre Carli, que teve seu carro particular roubado na região do Novo Campeche.
Dentro da Secretaria de Segurança Pública há uma certa perplexidade com tudo isto. Para alguns analistas, o aumento da criminalidade, nos últimos meses, é resultado dos confrontos entre policiais civis e militares, de um lado, e da falta de motivação, por defasagem salarial, de outro. Fato grave que é do conhecimento das autoridades. Entre as causas desse cenário de intranquilidade estaria a falta de policiamento ostensivo. O policial fardado, circulando pelas áreas mais vulneráveis, atua como fator inibidor. Nas últimas semanas, uma norma da Polícia Militar reduziu o policiamento ostensivo. Em Florianópolis, há uma frota de 26 viaturas policiais para as operações, mas apenas 10 estariam circulando. Motivo: pressão dos oficiais sobre o governo para a obtenção de algum abono de emergência.
Há outro fator a reduzir a presença da polícia fardada nas ruas de Florianópolis e do Estado: a transferência de policiais militares para a prestação de serviços em órgãos públicos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, são hoje praticamente três batalhões com “desvio de função” nas assessorias militares dos três poderes. Total fora dos quartéis e fora das ruas: 861 militares, entre soldados, suboficiais e oficiais superiores. O sonho de todo militar é atuar nestas assessorias, onde recebem 100% de gratificação sobre o soldo. Benefício que, a rigor, deveria ser concedido àqueles que atuam no campo, no operacional, enfrentando a bandidagem e protegendo a população.
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