Caso de tortura atinge a cúpula

Exonerado da direção do Departamento de Administração Prisional (Deap) ontem à tarde, Hudson Queiroz deixou o cargo atirando. Criticou a Secretaria de Segurança Pública pela falta de um orçamento. Outro alvo foi o delegado da Diretoria Estadual de Investigações Criminais Renato Hendges, que pela manhã acusara Hudson de participar da sessão de tortura na Penitenciária de São Pedro de Alcântara em fevereiro do ano passado. O ex-diretor do Deap afirmou que ele agiu por motivações pessoais.

Em entrevista concedida atrás do plenário da Assembleia Legislativa, Hudson disse que a Secretaria de Justiça e Cidadania, à qual o Deap está subordinado, não tem dinheiro para nada. Que a instituição não tem condições de comprar sequer um par de algemas. Ele disse também que foi preciso implorar para conseguir carro para o transporte de presos.

As críticas mais contundentes foram dirigidas ao delegado Hendges. Hudson afirmou que ele trabalhou para prejudicá-lo desde um impasse ocorrido em 8 de outubro. Indignados por cuidar de presos, que não é função da Polícia Civil, delegados de Florianópolis, coordenados por Hendges, recolheram 26 presos que estavam na Central de Polícia da Capital. Levaram todos à Central de Triagem, do Deap.

Hudson não aceitou os detentos. À medida que relatava o caso ontem, ficava mais exaltado. Disse que o delegado usou a parte mais frágil da segurança pública catarinense para pressionar o governo do Estado numa luta por melhores salários. Ele afirmou que a partir do episódio dos presos, Hendges agiu motivado por objetivos pessoais e políticos.

Ontem pela manhã, os dois já haviam trocado ofensas durante uma reunião conjunta das comissão de Direitos Humanos e de Segurança Pública da Assembleia Legislativa. Aos berros e com o dedo em riste, Hendges acusou o ex-diretor do Deap de calúnia. No mesmo tom de voz, Hudson afirmou que era o delegado quem já respondia a processos. O bate-boca continuou no lado de fora da casa parlamentar.

Durante à tarde, Hudson conversou com o governador por telefone e pediu para deixar o cargo. Luiz Henrique ligou para o Secretário de Segurança Pública, Ronaldo Benedet, e aceitou o pedido. O ex-diretor do Deap explicou que a decisão foi tomada para dar tranquilidade à apuração da tortura. Ele espera que a medida devolva a normalidade à Secretaria de Justiça e Cidadania e ao governo do Estado.

Renato Hendges não responde às críticas de Hudson Queiroz

Por último, condenou as agressões feitas pelos agentes prisionais, mas garantiu que a categoria é preparada. Hudson disse que o acontecimento ocorreu num momento de desequilíbrio de profissionais que trabalham em um ambiente de estresse absurdo.

Principal alvo das críticas do ex-diretor do Deap, o delegado Renato Hendges disse que não tinha nada a declarar. Afirmou que, se Hudson levou a questão para o lado pessoal, o problema era dele.

(DC, 05/11/2009)