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26/10/2009
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26/10/2009

O que falta para o futuro

A Capital catarinense briga pelo título de Vale do Silício brasileiro, um sonho ousado, mas hoje já com sinais de que pode sim virar realidade

O slogan Florianópolis, Vale do Silício brasileiro, ou, na adaptação local, Florianópolis, Ilha do Silício, não chega a ser uma novidade. O que há de novo é que a mídia internacional está comprando a ideia. Recentemente, a britânica BBC e o Corriere della Sera, maior diário italiano, embarcaram na onda da Capital catarinense como a cidade do futuro. Falta agora convencer os grandes investidores globais.

Os desafios (e a concorrência) não são poucos. Mas o 19º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e o 3º Fórum Global infoDev de Inovação & Empreendedorismo, que Florianópolis recebe de segunda a sexta-feira, deverão ajudar a cidade no caminho para se firmar como o Vale do Silício da América Latina.

O selo funciona como um atestado de qualidade e é uma referência direta à região da Califórnia, nos Estados Unidos, que concentra algumas das maiores e mais inovadoras empresas do setor numa área que inclui 16 cidades no entorno da renomada Universidade de Stanford. Trata-se de um ecossistema que virou o berço de empresas como Yahoo, Intel, Apple, Google, You Tube e Twitter.

Especialistas apontam pelo menos quatro requisitos básicos que precisam ser preenchidos para que Florianópolis se torne, de fato, uma cidade baseada no conhecimento. Paul Graham, pioneiro da Internet, destacou dois, em artigo sobre como reproduzir a experiência californiana: uma universidade de ponta e uma cidade em que pessoas ricas gostem de morar e que crie um ambiente propício para atrair empresas iniciantes (startups no jargão da indústria). Os dois parecem ser plenamente cumpridos pela Capital.

– Estamos completando no ano que vem 50 anos de fundação da Universidade Federal de SC (UFSC). Se você pegar a trajetória do que aconteceu aqui, ela é muito parecida com o que aconteceu com a Universidade de Stanford e o Vale do Silício, guardadas as devidas proporções – afirma José Eduardo Fiates, diretor-executivo do Sapiens Parque, lembrando que, até a década de 1950, a região americana era conhecida como o Vale Aprazível dos Pêssegos e Tamarindos.

Assim como Universidade de Stanford, a UFSC foi erguida numa cidade em que não existia nada em termos de estrutura industrial voltada para a tecnologia. A criação do curso de Engenharia Mecânica da UFSC acabou dando origem a um centro de tecnologia que é referência na América Latina. Hoje, Florianópolis conta com mais de 450 empresas de base tecnológica, algumas delas líderes nacionais nas suas especialidades.

Novas fronteiras para o investimento em SC

Isso leva aos dois últimos requisitos básicos: concentração dos melhores cérebros, o chamado capital intelectual, e a atuação de fundos de capital de risco (Venture Capital). E é aí que o título Vale do Silício pode vir bem a calhar como um fator para atrair ambos.

Para o presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Rui Gonçalves, os eventos desta semana são o primeiro passo nesta direção.

– A mentalidade de se criar empresas com potencial global desde a sua gestação faz a diferença. O ambiente propício para o capital de risco e um grande apoio dos governos municipais e estaduais contribuem neste cenário – avalia.

O modelo de financiamento para empresas nascentes, com fundos de capital de risco fazendo aportes iniciais e saindo do negócio depois de estabelecido, que surgiu no Vale do Silício, ainda não existe em Santa Catarina. Segundo Gonçalves, o investimento médio em empresas nascentes lá é de US$ 6,5 milhões. Empresas que faturam de US$ 10 milhões a US$ 15 milhões por ano conseguem captar até US$ 50 milhões.

– Somos um mercado barato. Com esses US$ 6,5 milhões, o investidor poderia comprar em Florianópolis uma empresa já estabelecida em boa situação para alavancar presença global. Lá, compra um plano de negócios, sem faturamento nenhum – compara o presidente da Acate.

Mas o reconhecimento que Florianópolis começa a conquistar no exterior é sinal de que a indústria local está no caminho certo. Um caminho longo, que, segundo Gonçalves, pode exigir as próximas duas décadas para ser traçado. Mas que hoje já é mais do que uma ideia.

(DC, 25/10/2009)

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