(Editorial, DC, 22/10/2009)
A questão da mobilidade urbana em Florianópolis foi o tema da nova edição do Painel RBS, projeto multimídia no qual jornalistas de diversos veículos de comunicação do grupo entrevistam especialistas e autoridades sobre temas pontuais e de interesse coletivo.
O debate de ontem tocou num ponto nevrálgico da vida da Capital catarinense e de seu entorno em uma etapa de seu desenvolvimento que tem se caracterizado não pelo planejamento voltado para o futuro, mas pela improvisação e o amadorismo, que navegam ao sabor dos interesses políticos e eleitorais de plantão. É espantosa a facilidade com que as leis e regulamentos que tentam organizar o espaço urbano e disciplinar seu uso são deturpados para favorecer grupos de interesse ou amealhar votos.
O problema da mobilidade urbana na região começou e prosperou neste cenário lamentável, e tanto “prosperou” que, segundo um ranking desenvolvido por equipe de especialistas da Universidade de Brasília (UnB), Florianópolis, atualmente, tem o pior índice de mobilidade entre as capitais brasileiras, e é a vice-campeã mundial desta estressante “modalidade”, só perdendo para a cidade de Phuket, na Tailândia.
O Painel RBS, realizado na manhã de ontem, com o objetivo de propor uma ampla reflexão sobre o tema, a partir de diagnósticos técnicos e de exemplos positivos colhidos em outros cenários urbanos do país e do mundo, foi transmitido pela TVCOM e pela rádio CBN/Diário, sendo aberto também a intervenções do público via internet. Numa avaliação preliminar, é possível afirmar que a iniciativa trouxe novas luzes e abriu novos caminhos para a busca de soluções a este problema que ajuda a degradar a qualidade de vida da população e multiplica prejuízos à economia. Resta esperar, agora, a ação dos responsáveis diretos pelas decisões necessárias.
Os monumentais congestionamentos que paralisam a cidade e a região são um flagelo que não decorre apenas do aumento exponencial da frota de veículos, que nos últimos quatro anos cresceu três vezes mais do que a população da Capital, mas também da falta de alternativas para o transporte de massas, entre outros fatores de não menor importância. O crescimento e a forma das cidades estão, historicamente, ligados à evolução dos sistemas de transportes. O advento dos veículos automotivos – os automóveis, de maneira especial – fez com que as cidades crescessem em todas as direções, facultando, como observou a coordenadora de Estudos Setoriais Urbanos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Maria da Piedade Morais, em artigo recente, processos cada vez maiores de dispersão e periferização. “As cidades contemporâneas possuem estruturas espaciais complexas, determinadas pela topografia, pela distribuição das residências, dos empregos e dos equipamentos urbanos no território, cuja localização espacial decorre, em grande medida, das políticas públicas de transporte urbano, habitação e uso do solo”. E em relação a essas questões, que são determinantes da mobilidade, a Capital catarinense e região têm muito a ser feito. O Painel RBS realizado ontem, repita-se, trouxe novas luzes ao debate.
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Muito se conversa e pouco se faz.
Metrô, duplicação até aeroporto, novo acesso à Ilha, são exemplos de conversas e promessas eleitoreiras não cumpridas.