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Os maiores problemas e os piores sofrimentos que hoje fustigam os brasileiros moram nas grandes cidades. Até a primeira metade do século 20 com características e economia predominantemente rurais, a sociedade brasileira sofreu um acelerado processo de urbanização a partir dos anos 1960. E foi um processo caótico, que passou ao largo de qualquer planejamento. As migrações dos rurícolas para os centros urbanos, no rastro da industrialização tardia do país, na quase sempre ilusória busca por melhores oportunidades de trabalho e de uma vida de melhor qualidade, provocaram o inchaço das capitais e das demais cidades de maior porte. Nenhuma delas estava preparada para crescer tanto e tão rapidamente. E foi o que se viu.

Ocupações irregulares, favelas convivendo com áreas residenciais valorizadas, serviços públicos deficientes – quando não em colapso – infraestrutura amplamente superada pela demanda, a violência e a criminalidade à solta nas ruas, mantendo a cidadania produtiva como refém. As pessoas se mudaram para bairros mais distantes, numa vã tentativa de se proteger da escalada da violência – hoje o assaltante e o traficante frequentam com a mesma desenvoltura tanto as favelas e as áreas periféricas quanto os bairros de perfil social mais alto. A falta de eficientes sistemas de transporte público e um trânsito também caótico multiplicam o sofrimento das populações. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, um trabalhador chega a gastar até seis horas por dia em seus deslocamentos entre a casa e o local de trabalho. Em Florianópolis, não são poucos os moradores que precisam trocar duas e até três vezes de ônibus para fazer o mesmo.

São considerações atuais no momento em que a própria ONU faz um alerta sobre a urgência de providências para combater a violência crescente nas grandes cidades dos países em desenvolvimento, e oferecer melhores condições de vida aos seus habitantes. Entre as muitas providências sugeridas, um programa de fixação das pessoas onde nasceram, estancando as migrações internas rumo aos núcleos urbanos, seria oportuno. Mas, antes de mais nada, é necessário que os poderes públicos, nas suas várias esferas de atuação, encarem a situação com seriedade e responsabilidade, abandonem a improvisação e os programas meramente eleitoreiros, olhem para o futuro e invistam nele.

Ou não haverá mais futuro para as nossas cidades. Vontade, decisão e criatividade são os principais ingredientes para recuperar aquilo que o analista Emílio Odebrecht chama de “clima de civilizada convivência”, que já ofereceram em passado não muito distante. A nossa Florianópolis que o diga.

(DC, 30/07/2009)

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