Do blog Sambaqui na Rede (Celso Martins, 09/06/2009)
A Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) mantida pela Casan em Canasvieiras, polui a rede de cursos d’água da bacia do Ratones.
ARGUMENTO 1
Documento Esgotamento Sanitário, elaborado em 2008 por técnicos da Casan e Prefeitura Municipal de Florianópolis. Diz a respeito do Sistema de Esgotamento Sanitário de Canasvieiras:
“A implantação do Sistema de Esgotamento Sanitário de Canasvieiras é resultado de uma experiência exitosa de participação comunitária, a qual se desenvolveu, num primeiro momento, através da pressão exercida junto às autoridades para a solução do problema. E, posteriormente, através dopagamento espontâneo de contribuição de melhoria, representando 12% dos custos da obra. O sistema entrou em operação em 1995 com capacidade para atendimento imediato de uma população de 25 mil habitantes. O número de economias atendidas em dezembro de 2008 era de 9.009 unidades e a população atendida era de 11.181 habitantes, na alta temporada atende a 30.352 habitantes”.
E mais:
“O sistema de tratamento é do tipo lodos ativados, modalidade aeração prolongada, através de valos de oxidação. Atualmente a CASAN já dispõe dos projetos dos sistemas coletores de esgotos dos Balneários de Cachoeira do Bom Jesus, Ponta das Canas e Lagoinha. Conforme previsto no projeto, o tratamento desses esgotos será efetuado na ETE de Canasvieiras, que já dispõe de projeto para ampliar sua capacidade. A CASAN prevê o lançamento dos efluentes da ETE, que atualmente são lançados no rio Papaquara, nas águas da baía Norte através de emissário submarino, a ser objeto de EIA/RIMA”.
ARGUMENTO 2
O EIA-RIMA do Sapiens Parque, assinado pelas empresas Elabore – Assessoria Estratégica de Meio Ambiente e Socioambiental – Consultores Associados Ldta, disponível no site do Certi diz em seu ítem 7:
Título: Análise e avaliação de impactos. “É notável a falta de coleta e tratamento de esgoto, pois se em 2003 temos uma população da ordem de 112.346 entre residentes e turistas no mês de pico da alta temporada, a CASAN trata os esgotos de apenas 25.000 pessoas com a ETE Canasvieiras e outros sistemas particulares tratam o esgoto de mais 14.000 pessoas. Num universo de 112.346 habitantes presentes na região na alta temporada são tratados os esgotos de apenas 39.000, caracterizando um índice de atendimento de apenas 35%, o que é muito pequeno para uma região que tem sua economia baseada no turismo de praia”.
E para onde vão então os 65% restantes de esgotos? Para os cursos d’água das imediações, especialmente o rio Papaquara. Confira nas imagens abaixo a localização da ETE Canasvieiras.
ARGUMENTO 3
Acompanhe agora uma matéria sobre os resultados de uma pesquisa do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC, antigo Cefet) sobre a qualidade das águas do rio Papaquara. (30.3.2009)
“O Rio Papaquara, um dos principais do Norte da Ilha de Santa Catarina, é seriamente afetado pelo despejo de esgoto. Essa é a conclusão de uma pesquisa sobre a qualidade da água na bacia hidrográfica do rio desenvolvida durante nove meses por professores e alunos do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC, antigo Cefet-SC). De sete pontos do rio analisados, apenas na nascente a água apresentou condições normais, sem a influência do homem.
Rio Papaquara.
A pesquisa foi desenvolvida por meio de um acordo de cooperação técnico entre o IF-SC e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em seis pontos analisados 11 vezes durante o inverno, primavera e verão do ano passado, foram registradas quantidades acima do aceitável de fosfato, nitrogênio e coliformes fecais, o que indica lançamento de esgoto na água do Rio Papaquara. O resultado da poluição é o surgimento excessivo de algas e a proliferação de bactérias que consomem o oxigênio diluído na água, causando morte de outras espécies e conseqüentemente, redução da biodiversidade. Além disso, a alta concentração de coliformes fecais representa risco à saúde das comunidades que vivem no entorno do rio.
Uma das coordenadoras da pesquisa, a professora Débora Monteiro Brentano, do curso técnico em Meio Ambiente do IF-SC, conta que o trecho mais crítico fica perto da comunidade Vila União, onde há uma estação de tratamento de esgoto. O índice de oxigênio diluído – oxigênio da atmosfera que se dilui na água, usado na respiração dos seres vivos – encontrado naquele local pelos pesquisadores do IF-SC em uma das medições foi de 0,32 mg/l, quando o normal é um valor acima de 6 mg/l (na nascente do rio, por exemplo, o valor chegou a 7,04 mg/l). ‘Neste ponto o rio tende a um estado em que o oxigênio inexiste, liberando gases malcheirosos como o metano’, diz Débora. Os dados sugerem que esgoto in natura esteja sendo despejado no rio naquele trecho.
Outros pontos do rio também sofrem com a ação do homem. Numa das análises feitas em água coletada perto da ponte sobre o Rio Papaquara, na entrada de Canasvieiras, foi encontrando um índice de 13 mil coliformes fecais para 100 ml de água, quando o máximo aceitável são 200 coliformes por 100 ml. Todos os dados foram repassados ao Ibama e ao Instituto Chico Mendes, órgão do governo federal responsável pela Estação Ecológica de Carijós, uma área de proteção ambiental por onde passa o rio.
Além da professora Débora Brentano, participaram da pesquisa o professor Eduardo Chaves e os estudantes Thiago Victorette, Izabelle Damian, Mayara Cardozo e Guilherme Santos”.
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