A 9ª Conferência Mundial de Viagens e Turismo, promovida pelo Conselho Mundial de Viagem e Turismo (WTTC), em Florianópolis, que aqui reuniu os mais importantes players da atividade em escala global, disse a que veio, e satisfez, por inteiro, mesmo às mais otimistas expectativas. O simples fato de a cidade ter sido escolhida como cenário deste encontro internacional foi uma vitória não apenas de quantos lutaram e trabalharam com dedicação para que isto ocorresse, desde o dia em que a ideia foi aventada, no ano passado, durante a realização de um Painel RBS, do qual participou o presidente do WTTC, o francês Jean-Claude Baumgarten. Foi também uma vitória para a causa do desenvolvimento do turismo catarinense, que já responde por 12,5% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Encerrado o encontro, ficam as lições por ele deixadas e, mais do que a esperança, a certeza de que elas não serão esquecidas nem desperdiçadas por todos aqueles que acreditam ser o turismo uma vocação econômica inarredável de Santa Catarina. Para realizá-la plenamente, e de forma a que seus frutos sejam compartilhados por toda a sociedade, ainda remanesce uma série de problemas que precisam ser resolvidos, como ficou claro durante os trabalhos do encontro no Costão do Santinho.
O baixo índice de saneamento básico do Estado, que neste item ombreia com alguns dos mais pobres países africanos, foi várias vezes citado como um limitador dos planos de expansão do setor, e – como é sabido – tem afugentado investidores para outras regiões do país. O secretário estadual de Turismo, Cultura e Esporte, Gilmar Knaesel, reconhece ser este o grande problema ser resolvido, “não só no Litoral, mas em todas as cidades do Estado” – de fato, como pretender um turismo de qualidade onde a qualidade de vida compartilhada por toda a sociedade deixa a desejar. Se o patrimônio natural, étnico e cultural de Santa Catarina encanta a todos, e tem inegável poder de atrair visitantes de todas as condições, isto por si só não basta para atingir as metas de qualificar e expandir a atividade.
Um outro óbice para o turismo regional é defasagem das estradas em relação ao aumento exponencial da demanda e o crônico mau estado de conservação da malha viária que corta o território catarinense. Além disso, as vias de acesso a muitos sítios turísticos importantes sequer são asfaltadas. Sabendo-se que 90% dos visitantes aqui chegam por via rodoviária – 78% dos estrangeiros vêm da Argentina, e 43% dos brasileiros vêm do Rio Grande do Sul e Paraná –, é possível avaliar o tamanho do obstáculo e a urgência de removê-lo. Também este tema relevante para o Estado esteve na pauta do WTTC. Agora, encerrado o encontro, que certamente serviu como um divisor de águas para o turismo catarinense, é arregaçar as mangas e trabalhar para que um novo ciclo de expansão, qualificação e prosperidade da atividade tenha início na bela e Santa Catarina.
(DC, 18/05/2009)
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Boas “lições”, infelizmente, nem sempre são apreendidas. Esperamos que, depois da realização desse importante fórum (extremamente restrito, é bom se diga), o denominado “trade” turístico nacional, especialmente o catarinense, possa ter absorvido alguns ensinamentos e princípios básicos para o desenvolvimento ordenado da atividade turística. Várias experiências internacionais de sucesso foram apresentadas no decorrer do congresso. O Sistema Turístico é complexo, e não é composto apenas pelos atrativos do local. Temos que lembrar que outros subsistemas (a infraestrutura – ainda precária – os equipamentos e instalações e a superestrutura turística – da mesma forma deficiente) interatuantes e inter-relacionados é que determinam a qualidade do produto turístico de uma destinação, favorecendo a atração de uma demanda mais qualificada e promovendo o desenvolvimento ordenado da região ou país. Apenas divulgar os atrativos naturais disponíveis (o que mais se faz) sem se preocupar em dotar o estado (e os municípios com potencial turístico) de melhor infraestrutura, de melhores equipamentos, de planejamento e gestão profissional e especializada, de atenção particular aos reais preceitos da sustentabilidade pode configurar a propaganda enganosa do produto ofertado à demanda turística. Consequentemente, continuaremos a receber turistas em massa (somente nos meses de verão), que gastam somente USD 30,00 por dia, o que, convenhamos, é muito pouco para quem tem a pretensão de se consagrar como destino internacional!