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Definir o público-alvo também é um dilema

O turismo desenvolvido atualmente em Florianópolis é voltado para as classes B e C, com mais volume e pouca renda. Em Dubai, onde o foco é o visitante internacional de alto poder aquisitivo, o turista deixa, em média, US$ 800 por dia. Na Capital catarinense, o gasto diário é de US$ 46.

O que existe em Dubai é artificialmente construído para atrair o turista. Em Florianópolis é exatamente o contrário. A Capital se destaca pelas suas belezas naturais e falta investimento em infraestrutura, não só rodovias, aeroportos e saneamento básico, mas equipamentos de lazer e de interesse turístico.

– O conjunto arquitetônico é pobre. A falta de planejamento levou a grandes erros, como as servidões por onde mal passa um veículo. A hotelaria é numerosa, mas está defasada, existem apenas quatro hotéis cinco estrelas. O que existe é um “lamento náutico” porque, apesar da potencialidade, não há nada de concreto em termos de transporte marítimo – enumera o secretário da Articulação Internacional, Vinícius Lummertz.

Mesmo para o turismo que é feito hoje, não há equipamentos de lazer suficientes. E terá ainda menos se o modelo que for definido para a Capital focar o turista de alto padrão. Mas será que é viável investir em infraestrutura para transformar Florianópolis num destino turístico para ricos? A questão é levantada pelo arquiteto urbanista Edson Cattoni.

– A cidade não foi pensada sequer para suportar a sobrecarga que o turismo de verão representa. O último planejamento foi feito pelos militares, que construíram fortes para defesa. Depois disso, o crescimento foi desordenado, o que gerou vários núcleos. O que se fez foi marketing para vender as belezas naturais, sem a contrapartida de se investir em infraestrutura para suportar a sobrecarga.

Para receber turistas, é preciso atender os locais

Por conta disso, diz ele, o custo para quem vive na cidade é muito alto. A SC-401 está sendo toda ocupada com shoppings, centro administrativo e lojas. Isso está consumindo a paisagem, que é o principal atrativo da cidade.

– O que se está fazendo agora, com o congresso mundial, é mais propaganda, de forma ainda mais global. Vão maquiar a cidade, criar materiais publicitários artificiais para vender Florianópolis para o público de elite mundial. Se corremos atrás do prejuízo para atender o turista que já vem aqui, como será para atender a elite mundial? – alerta ele.

Cattoni ressalta que para atender bem os turistas, seja do perfil que for, a cidade tem que ser eficiente para os moradores. Mas Florianópolis é carente de infraestrutura mesmo para quem mora na cidade.

– Já não há transporte urbano suficiente. O trânsito é complicado fora da temporada. O custo de vida é elevado em relação ao resto do país. Imagina como vai ficar se o turismo se voltar para a elite global. A cidade quer realmente isso? – indaga.

O urbanista diz que há muita incoerência no que se pretende para Florianópolis. Para ele, ou se mantêm as belezas naturais, e isso significa investir em saneamento básico e limitar as construções, ou se vende o destino para a elite mundial e se investe em grandes empreendimentos artificiais, caminho adotado por Dubai.

(DC, 13/05/2009)

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