Se os argentinos foram o destaque da última temporada de verão em Santa Catarina, neste feriado de Páscoa são outros hermanos que devem fazer a diferença: os uruguaios. Por conta da Semana do Turismo, espécie de recesso nacional, eles já começaram a lotar o litoral do Estado. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina (ABIH/SC) estima que a ocupação este ano deva ficar em 75%, ante 65% na mesma época de 2008.
Na Capital, os carros com placas uruguaias começam a tomar as ruas. Quem vai para as praias do Norte da Ilha sente-se no país vizinho, tamanha a quantidade de hermanos na região entre as praias de Ingleses e Canasvieiras.
Além deles, conta o presidente da ABIH/SC, João Eduardo Moritz, os grupos da terceira idade serão um diferencial na Semana Santa.
– Eles estão vindo para Florianópolis, Balneário Camboriú, para os hotéis de águas termais e hotéis-fazenda em número muito maior do que no ano passado – diz Moritz.
O clima favorável do começo desta semana, com muito sol e calor, ajudou na hora dos turistas escolherem o Estado para passar o feriado de Páscoa. Mas, segundo o presidente da ABIH/SC, outros fatores também contribuíram, como a intensa divulgação realizada em conjunto com a Embratur, o anúncio de que um grande congresso de turismo virá para a cidade – o encontro anual do Conselho Mundial de Viagem e Turismo (WTTC na sigla em inglês) –, e uma reportagem no New York Times, que elegeu Florianópolis como o 24º destino de um total de 44 lugares para serem visitados em 2009. A Capital, aliás, foi a única cidade sul-americana a figurar na lista.
Para o Florianópolis e Região Convention & Visitors Bureau (FCVB), a taxa de ocupação dos hotéis, prevista para ficar entre 60% e 70%, deve ser reforçada a partir de hoje, com a chegada dos “turistas de balcão”, aqueles que aguardam uma previsão do tempo mais precisa para então viajar.
– Num momento como este, onde a economia mundial está desaquecida, o turismo dentro do país ganha força – afirma o conselheiro administrativo do FCVB, Talmir Duarte.
A entidade estima que, nos hotéis localizados nas praias mais procuradas, deve haver lotação total.
O presidente da Federação dos Hotéis de SC, Estanislau Bresolin, é um pouco menos otimista com relação à ocupação dos meios de hospedagem, mas acredita em um bom feriado.
– Devemos ficar entre 50% e 60%, próximo ao que foi o ano passado. Com certeza, os uruguaios devem fazer a diferença, a exemplo do que ocorreu em anos anteriores.
Em Balneário Camboriú, a expectativa é bastante positiva para o recesso da Semana Santa.
Segundo a presidente do sindicato dos hotéis da cidade, Karina Peters, dos turistas que vão garantir o movimento hoteleiro na cidade, cerca de 40% devem ser uruguaios.
– Por conta da Semana do Turismo, eles costumam vir em peso para o nosso litoral, sempre garantindo uma ocupação boa nessa época.
Karina também destaca o veranico do início da semana como um bom atrativo para quem ainda não decidiu para onde ir neste feriado.
Por que nesta época
> Os uruguaios costumam lotar os balneários catarinenses sempre na mesma época porque lá existe a Semana do Turismo, um feriado que, junto com a Semana Santa, garante um recesso de 10 dias aos moradores do país vizinho.
Recompensa pelo trabalho
Ao completarem 10 anos de empresa, Alexis (ao fundo, com o boné na mão) e seus colegas de trabalho receberam uma boa notícia: passagem e hospedagem de graça durante uma semana em Florianópolis. E com direito a acompanhante. Chegaram, no último sábado, à Praia de Ingleses e vão embora apenas no dia 11.
Neste meio tempo, já visitaram o centro da cidade – foram à Catedral e na Praça XV de Novembro – e passearam de barco.
Eles ficaram impressionados com a quantidade de conterrâneos na escuna.
– Tinha apenas um casal de paraguaios e um outro argentino, o resto era tudo uruguaio – relata Alexis.
Outro fato que chamou a atenção do grupo foi a quantidade de pessoas que circula no Terminal Urbano de Florianópolis. Mas o que vão levar mesmo de recordação da cidade é a beleza das praias.
Comboio de amigos para SC
Há seis anos o comerciante Alvaro José Valentim Rodrigues e a mulher, a professora Rosana de Cuadro, da cidade uruguaia de Rocha, vêm para Santa Catarina nesta época do ano.
São 12 horas de estrada até chegar a Florianópolis. Mas a viagem nunca é feita sozinha. Desde que souberam de um assalto próximo à fronteira com o Brasil, o casal prefere convidar alguns amigos para ter acompanhia na estrada.
Neste ano, Alvaro (ao fundo) e Rosana (segunda da esq. para a dir.) chegaram no dia 1º de abril e seguem em Florianópolis até o sábado próximo.
Além de Canasvieiras, onde estão hospedados, eles já visitaram Ingleses e praias próximas. Quando perguntados sobre os motivos que os levam a escolher, há seis anos, a Capital para passar a Semana de Turismo, eles são enfáticos
– As praias são muito bonitas. Além disso, existe a hospitalidade do povo brasileiro e a tranquilidade que encontramos aqui – diz Rosana.
Seis dias para ver as praias
Seis dias é o tempo que Gustavo Prego, a mulher Andrea e as filhas, Giulianna, de seis anos, Estefania, de três, e Maia, de um ano, separaram para desfrutar Florianópolis.
Na última vez em que a família visitou cidade, Andrea ainda estava grávida de Giulianna, a mais velha das três crianças.
A praia, dizem eles, é o principal atrativo da cidade, mas o casal também gosta de passear pelo centro da cidade.
A família chegou na segunda-feira e pretende visitar algumas das praias mais renomadas da Capital até sábado: Canasvieiras, no Norte da Ilha, Joaquina (Leste) e Campeche (Sul) – esta última, um dos destinos mais esperados por Gustavo e Andrea.
– É tudo muito bonito por aqui, gostamos muito da beleza das praias de Florianópolis – observa Gustavo.
Muito bela, mas muito cara
Eduardo Dilavarian, a mulher Sandra e o filho Matias, de sete anos, viajaram 1.360 quilômetros de carro a partir de Montevidéu para passar o feriado do Turismo em Florianópolis.
É a segunda vez que Eduardo e Sandra visitam a cidade. Ela havia vindo em 1995 e ele em 1999. Além, claro, da beleza da cidade, Sandra se revelou impressionada com o preço (alto) das coisas na Capital catarinense.
– Uma calça que lá custa em média US$ 90 aqui não sai por menos de US$ 200, realmente muito caro – compara ela.
Desde que chegaram à cidade, no domingo passado, já foram para Canasvieiras, Jurerê e Ponta das Canas, mas o local de que mais gostam aqui é o Centro. Já Matias, estava ansioso por outro passeio.
– Eu quero ir ao Beto Carrero – disse, recebendo logo a resposta dos pais de que iria no dia seguinte.
A economia uruguaia
> O país possui economia orientada à exportação de produtos agrícolas, uma força de trabalho de elevado nível educacional e altos níveis de gastos sociais.
> Depois de um crescimento anual em torno de 5% de 1996 a 1998, sofreu com os problemas econômicos dos vizinhos Brasil e Argentina entre 1999 e 2002.
> Entre 2004 e 2008, o Uruguai se reergueu e cresceu a uma média de 8%.
> Área: 176 mil quilômetros quadrados
> População: 3,4 milhões
> Taxa de cresc. populacional: 0,466%
> Expectativa de vida: 76,35 anos
> Moeda: peso uruguaio
> PIB: US$ 31,3 bilhões
> PIB per capita: US$ 12,2 mil
> Desemprego: 7,6%
> Inflação: 9,2%
> Principais parceiros comerciais
> Exportação: Brasil (15,5%), EUA (9,4%), Argentina (8,4%), México (6,6%), China (6,1%)
> Importação: Brasil (19,1%), Argentina (17,9%), EUA (9,5%), China (9,1%)
Fonte: Cia World Fact Book
Tempo bom para os hotéis da Capital
Nos hotéis da Capital, as previsões de um bom feriado para o setor começam a se desenhar.
Um exemplo é o Maria do Mar Hotel, que está com ocupação de 68%, um incremento de 10% em relação ao ano passado. O público é proveniente principalmente do Rio Grande do Sul, Paraná e interior do Estado.
– O feriado alavanca a ocupação do hotel e possibilita trabalhar com os pacotes promocionais, uma vez que o turista conhece a Ilha e acaba voltando – afirma o gerente comercial Júlio Pavlov.
No Hotel Porto dos Ingleses, a ocupação é ainda melhor: 87%, sendo que 80% desse público é uruguaio. Para atrair turistas de outras localidades, o hotel está oferecendo pacotes especiais com preços atrativos, além de jantares temáticos e recreação infantil, com distribuição de doces e brincadeiras.
– Como estamos na baixa temporada, o feriado chega para agregar valores. É preciso aproveitar essa oportunidade, já que o hotel tem sua melhor ocupação nos meses de verão – comenta a gerente comercial Carmen Antunes.
No Hotel Costa Norte, por sua vez, a ocupação é de 100%, um aumento de 50% no volume de reservas em relação à Páscoa do ano passado. Os hóspedes são basicamente uruguaios, gaúchos e paulistas.
– O feriado é sempre muito importante para alavancar o lucro, já que somos um hotel de praia, assim como precisamos contar com as boas condições do tempo – diz a gerente de hospedagem Márcia Freitas.
Calendário deve ajudar o setor
Ela conta que está bastante otimista com 2009, pois uma série de feriados cairá durante a semana, o que possibilita ao turista emendar e viajar, ao contrário do ano passado, quando a maioria dos feriados caiu em fins de semana.
No Canasvieiras Praia Hotel, os uruguaios estão “chegando de bando”, como denomina André Kasburg. Oitenta por cento dos hóspedes são do país vizinho.
– Eles estão vindo sozinhos ou com operadoras.
No Hotel da Praia, na Praia de Ingleses, a gerente Virgínia Christ observa que 90% dos hóspedes são uruguaios.
– Acredito que o câmbio ajudou na vinda deles para cá este ano. Em 2008, por exemplo, o movimento foi bem mais fraco.
O Costão do Santinho Resort espera receber 250 uruguaios até o final do feriado de Páscoa, segundo o diretor comercial adjunto, Rafael Pires, número próximo ao que foi o ano passado.
(Graziele Dal-Bó, DC, 09/04/2009)
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