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A caveira do turismo

Da coluna de Moacir Pereira (DC, 10/04/2009)

Tem caveira de burro enterrada no aeroporto de Florianópolis. Há décadas que os catarinenses lutam pela construção de um novo terminal. E a cada etapa vencida surge um obstáculo inesperado para atrapalhar os planos dos que desejam a cidade com um receptivo aéreo condizente com sua potencialidade turística.

O presidente da Associação Comercial de Florianópolis, Dilvo Tirloni, esteve visitando a direção da Infraero acompanhado de vários empresários. Queria notícias sobre esta novela, que se arrasta de forma melancólica, com prejuízos incalculáveis para toda Santa Catarina: a construção do novo terminal.

A esforçada diretora Maria Edwiges Madeira deu boas e más notícias. As positivas dizem respeito à contratação da empresa que deverá construir o novo aeroporto. A licitação está na rua, várias empreiteiras se apresentaram. Mas já surgiu o primeiro impasse. Recursos administrativos questionando critérios da concorrência.

Os recursos orçamentários estão garantidos, disse a diretora. São da ordem de R$ 295 milhões e estão escorados pelo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. A saber quando o processo termina, quando o contrato será assinado e, sobretudo, quando as obras terão início. Edwiges prometeu para o início do próximo ano.

A pior notícia relaciona-se à área de construção. Até agora não foi ainda autorizada pela Universidade Federal de Santa Catarina a transferência de 60 mil metros quadrados de terreno, indispensável para a execução do projeto. E já surgiram resistências na universidade. Como a decisão será do Conselho Universitário, colegiado eclético onde tudo pode acontecer, a preocupação aumenta. A proposta do governo é de permuta daquele terreno por outro, no Itacorubi, ao lado do Centro Agroveterinário, reservado para o jardim botânico da Ilha. Assunto entregue à Secretaria de Administração.

Comparativo

A Infraero está devendo o novo terminal há pelo menos 15 anos. Os primeiros estudos são da década de 1990, antes que se cogitasse dos novos aeroportos de Curitiba e Porto Alegre. O tempo foi passando, gaúchos e paranaenses se mobilizaram, em Brasília, e o que se tem hoje é uma lástima: Florianópolis tem o pior aeroporto entre as capitais e o mais acanhado do Sul, embora seja o de maior movimento de passageiros internacionais.

O Aeroporto Afonso Pena foi entregue em 1996. Tem capacidade para 3,5 milhões de passageiros. O Salgado Filho, aberto cinco anos depois, tem 32 balcões de check-in, sistema integrado e 37 mil metros quadrados de área. Esnoba nos serviços. Entre outros benefícios, conta com três salas de cinema. Ambos moderníssimos e funcionais.

O Hercílio Luz nem começou. O projeto prevê capacidade para 2,7 milhões de passageiros. Hoje já recebe mais de 2 milhões, embora concebido para 980 mil. Mas ganha um “puxadinho”, que Dilvo Tirloni chamava de “remendo”. Mudou de opinião depois da visita, ao constatar várias melhorias. A obra é, na realidade, a chamada “meia sola” e foi executada para receber, em maio, a reunião do Conselho Mundial de Turismo.

O último encontro do WTTC foi em Dubai, que possui um dos mais modernos e movimentados aeroportos do mundo. Só um dos terminais pode operar com 17 mil passageiros ao mesmo tempo. Tem 221 balcões de check-in, por onde passam 40 milhões de passageiros por ano.

Florianópolis vai receber, em maio, a nata do turismo mundial. Seu aeroporto não tem, sequer, um único finger. Com mau tempo, é com galocha e guarda-chuva.

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