A exasperante recorrência de fugas em massa de unidades prisionais catarinenses deixa indignada a sociedade, que simplesmente não tem como confiar na segurança pública. Quando dezenas de presos fogem pela porta da frente de uma delegacia ou de um presídio, sequer precisando correr para alcançar a liberdade, e ainda levando consigo armas de fogo de propriedade do Estado, então é porque o aparato estatal está mesmo em vias de colapso, posto que, diante de um descalabro desses, teria sido melhor que os marginais sequer tivessem sido encarcerados e, assim, obtido acesso a armas que deveriam estar em mãos de policiais. Foi o que ocorreu no domingo, quando 70 presos da Central de Triagem de Florianópolis escaparam. O cúmulo da facilidade: segundo o depoimento de uma testemunha, um dos detentos escapou usando muletas. As autoridades prometeram abrir um inquérito para apurar responsabilidades. Entretanto, o cidadão não tem razões para crer que tal iniciativa vá contribuir para o término de uma verdadeira epidemia de fugas em curso no Estado nos últimos meses.
Primeiro, porque o contribuinte há muito tem ciência do quanto um boletim de ocorrência se tornou apenas um procedimento burocrático nos casos de furtos e assaltos, sem que, na maior parte das vezes, este passo tenha consequências práticas para a resolução dos delitos. Depois, porque até as pedras da rua sabem que o sistema de segurança pública mal dispõe de recursos para remunerar seus profissionais – ainda assim aquém do adequado –, quanto mais para ampliar significativamente o número de vagas no sistema prisional.
A superlotação carcerária é uma das causas mais evidentes para tantas fugas. Cada cela, contendo o dobro ou mais de presos do que suportaria sua capacidade, converte-se em um barril de pólvora, e poucos funcionários do Estado não são suficientes para manter a autoridade sobre indivíduos submetidos a uma rotina de insalubridade, violência e promiscuidade. É preciso, enfim, que a área de segurança pública receba os recursos necessários para cumprir sua finalidade. Sem isso estaremos apenas aguardando pela próxima fuga, que muito provavelmente se dará pela utilização por parte dos marginais dos mesmos truques manjados tantas vezes vistos nos últimos tempos. E não vai aí nenhum exagero. Afinal de contas, a fuga de domingo passado na Capítal não foi a primeira que se deu com os bandidos escapando tranquilamente pela porta da frente.
(DC, 10/02/2009)
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