A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) se opõe ao uso das baías de Florianópolis como destino para efluentes. O posicionamento foi manifestado pelo presidente da entidade, Paulo Aragão. – A Abes é fortemente contrária ao efluentes nas baías – ressalta.
Segundo Aragão, a Abes poderá mudar de opinião caso haja estudos que apontem a capacidade das águas das baías de dispersar o produto resultante do tratamento de esgoto.
Diferente do mar aberto, a renovação de água nas baías é muito baixa devido à ausência de correntes marítimas. A substituição da água ocorre somente por variação de maré.
– Nós ainda não temos conhecimento profundo sobre a dispersão na baía. Precisa ser feito um estudo de renovação por maré nos pontos de lançamento de esgoto para sabermos se o ambiente tem condições de absorver a liberação de efluentes – explica Aragão.
A maior ETE da Capital está localizada no aterro da Baía Sul, próxima à Ponte Pedro Ivo Campos. Projetado para atender 150 mil habitantes numa primeira etapa e 225 mil em uma segunda fase, em dezembro passado atendia 111,8 mil pessoas.
O sistema, de acordo com a Casan, tem eficiência de até 98% de remoção e seu efluente tratado é liberado na água da Baía Sul.
Segundo a Abes, o lançamento de efluentes em massas d’água tende a fazer com que as algas se reproduzam com mais facilidade, pois o material tratado contém nutrientes dos quais elas se alimentam.
Se não há renovação constante da água, os nutrientes se acumulam e as algas tornam-se mais numerosas.
A situação fica perigosa quando ocorre a reprodução excessiva de uma determinada alga, que lidera toxinas no mar. O fenômeno, chamado de maré vermelha, prejudica a prática da maricultura e da pesca. Apesar de facilitada, a maré vermelha ocorre mesmo sem a liberação de efluentes.
A poluição e as algas preocupam também os pescadores. Aos 73 anos, Manuel Ventura lembra os dias em que podia pescar tranquilamente pela região. A atividade, que recebeu limitações da Estação Ecológica dos Carijós, agora está restrita à Baía Norte, onde os efluentes podem ser lançados.
Seu Deca, como é conhecido o morador da Barra do Sambaqui, teme que a ETE possa poluir a baía e inviabilize completamente a pesca.
– Agora, já está ruim. Se sair isso (o projeto) vai ficar ainda pior – lamenta o pescador.
(DC, 25/02/2009)
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