Entrevista: Hélio Costa, ministro das Comunicações
Antes do evento que marcou o início oficial das transmissões digitais de televisão em SC, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, concedeu uma entrevista exclusiva ao DC. Ele lembrou que, apesar de toda a publicidade em torno do sinal de alta definição, o grande avanço da TV digital no Brasil é a interatividade como ferramenta de inclusão social ligada ao ensino à distância ou à telemedicina, por exemplo. Também comentou a multiprogramação, que é a possibilidade técnica de se subdividir um canal digital em quatro. Confira os principais trechos:
Diário Catarinense – O que os telespectadores estão ganhando com a TV digital?
Costa – Florianópolis é a nona capital brasileira que entra no sistema digital. Nós, em breve, vamos começar a digitalização do interior, principalmente nos estados do Sul. Acho que é um avanço extraordinário, afinal de contas a tecnologia digital oferece muito mais do que uma imagem bonita, um visual perfeito. Ela vai trazer a interatividade. Você vai poder usar o controle remoto da televisão para praticamente conversar com o outro lado e isso serve para fazer educação à distância, pesquisa, serve para ajudar, principalmente, na telemedicina, na segurança pública e, sobretudo, vem com essa novidade: a belíssima imagem de alta definição.
DC – Qual a expectativa para a popularização da TV digital?
Costa – Nós estamos há dois anos na implantação da TV digital, começando pelas capitais, e já chegamos, hoje, a uma cobertura digital de mais de 35% da população brasileira. O que está faltando, na realidade, é popularizar o conversor da TV digital, porque todo e qualquer aparelho de televisão pode se transformar em um receptor de TV digital, desde que você tenha o conversor ou então um aparelho novo ou simplesmente um aparelhinho mais moderno, que permite que você ande no carro com uma imagem digital perfeita. Se você popularizar o conversor, populariza a TV digital. Ele começou custando um absurdo, quase R$ 1,3 mil, mas já está sendo vendido aqui em Florianópolis por em torno de R$ 250, R$ 300 e até o final do ano vai cair ainda mais. Queremos que o conversor chegue a R$ 150, no máximo, para que possa ser popular.
DC – A TV digital permite a multiprogramação?
Costa – Ela permite para as empresas públicas e nós não podemos confundir empresa pública com fundação pública. Empresa pública é a TV Senado, é a TV Câmara, é a TV do Judiciário, é a TV que substitui a Radiobrás, essas são TVs públicas. As outras TVs, muito embora através de uma fundação pública, têm interesse privado, elas não são TVs públicas, são educativas, comerciais. A TV pública vai poder fazer – não agora, neste momento ela ainda não está autorizada – a multiprogramação. As TVs comerciais e as educativas não estão autorizadas.
DC – Quais as vantagens da multiprogramação?
Costa – A multiprogramação em uma emissora como a TV Senado cria a facilidade de se estar simultaneamente em quatro lugares ao mesmo tempo. Você vai dividir o seu canal de 6 Megahertz (MHz) em quatro canais com quatro programações diferentes. Vou ter uma câmera em uma Comissão de Relações Exteriores, outra na de Agricultura, a outra na de Comunicações. Você vai transmitir quatro programações diferentes usando o mesmo transmissor, a mesma antena, a mesma emissão, com um único custo de energia elétrica. Tudo isso é viável no sistema digital.
DC – A TV comercial não pode por quê?
Costa – A TV comercial recebeu uma autorização do Congresso Nacional, que é uma concessão, pra fazer uma programação. Elas não podem transmitir quatro programações porque são quatro canais. Ela teria que ter uma concessão aprovada para cada um dos canais. Nós até entendemos que, futuramente, no ambiente exclusivamente digital, é possível se possa vir a autorizar a multiprogramação, quando for do interesse da comunidade. Eu vou chegar a Florianópolis e ouvir: “Olha, não temos mais canais, todos os canais estão ocupados”, como é o caso de São Paulo. Bom, mas se eu pegar um canal, posso transformar esse canal digital em quatro canais. Se houver interesse público, posso subdividir um canal de 6 MHz e ter quatro canais com quatro programações diferentes.
DC – O limite operacional é de quatro canais?
Costa – Não. Hoje, utilizando o MPEG-4 (padrão de compressão de vídeo), você chega a quatro canais, mas já estamos sabendo que a nova versão do MPEG-4, que será instalada nos conversores em julho, vai poder fazer seis canais. É uma questão de refinar a tecnologia. Hoje você faz quatro, daqui a seis meses vai passar a seis e, eventualmente, vamos fazer oito. Nós esperamos que dentro de um ano, um ano e meio, os 6 MHz em que hoje se transmitem uma imagem analógica e que podem já transmitir quatro digitais, vão permitir oito digitais. E depois também tem que lembrar que a proliferação de canais de televisão não quer dizer que seja a melhor maneira de se fazer a democratização do sistema, porque senão você acaba levando o sistema ao caos. Um exemplo é a cidade de São Paulo, onde há 20 canais de televisão autorizados. Você tem oito que são assistidos e 12 que ninguém sabe o que são e que não dão 1% de audiência, ou seja, não tem ninguém assistindo. Ter um canal de televisão, mesmo na mais importante e rica base do Brasil, não é um segredo de sucesso. O segredo do sucesso é capacidade de criação, competência administrativa, técnica, artística.
DC – Como serão sintonizados os quatro canais?
Costa – No seu conversor ou no seu televisor mais moderno, você tem o canal 4, certo? Só que o seu televisor ou conversor agora virá com 4A, 4B, 4C e 4D. Você vai colocar em um dos quatro canais.
(DC, 06/02/2009)
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