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Reportagem deste domingo no Diário Catarinense traz novos aspectos do desenvolvimento do setor de tecnologia da informação e comunicação da capital catarinense. Assinada pela repórter Graziele Dal Bó, a matéria aborda, por exemplo, um dos gargalos que estão surgindo devido ao crescimento acelerado do setor: as empresas não encontram mais espaço na Ilha para se instalarem.

Entre os motivos apontados estão a falta de mais parques tecnológicos na região, condomínios empresariais exclusivos para as empresas de TI e o elevado custo médio do metro quadrado na Ilha. Para fugir disso, os empresários têm migrado seus negócios para municípios como São José, Palhoça e Biguaçu, onde o custo de instalação é sensivelmente menor, fora os incentivos das administrações municipais.

Positivo por um lado, mas prejudicial por outro. As empresas prefiririam estar na região da Trindade ou mesmo no Parque Tecnológico Alfa principalmente por estarem próximas das Universidades e cursos técnicos – principais celeiros de mão-de-obra na região.

Aliás, a dificuldade de encontrar profissionais capacitados continua sendo o principal gargalo, também lembrado na reportagem. Enfim, reproduzo abaixo as quatro matérias que compõem o especial, que inclusive foi capa da edição deste domingo do Diário Catarinense.

A Ilha do Silício

Por trás de microcomponentes, difíceis até de serem enxergados a olho nu, muitas vezes virtuais, esconde-se uma verdadeira mina de ouro, ou melhor, de silício, em Santa Catarina. O mercado de tecnologia chega a arrecadar, em tributos, o dobro do que o turismo na Capital. E o crescimento desse setor (software, serviços e hardware) é vertiginoso: uma média de 20% a 30% a cada ano.

Em 2007, o faturamento ultrapassou os R$ 800 milhões. Só para se ter uma idéia, o turismo – considerada uma das atividades econômicas mais importantes de Florianópolis – arrecadou em Imposto Sobre Serviços (ISS) em torno de R$ 240 milhões em 2007, 50% menos que a tecnologia, com uma arrecadação, apenas do segmento de softwares, próxima de R$ 480 milhões no mesmo período.

– Não queremos competir. A idéia é que os dois setores caminhem juntos para aprimorar a infra-estrutura existente. Fazemos muitos eventos com nossos clientes (a maioria de fora do Estado) em hotéis. Acredito que poderia haver um diálogo nesse sentido – afirma o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Rui Gonçalves.

Ele conta que há, inclusive, um pedido oficial da entidade para que seja criada uma secretaria que envolva as duas atividades. E todos esses números positivos do mercado de tecnologia são resultado, em grande parte, do estímulo ao empreendedorismo. Em Florianópolis, por exemplo, existem pelo menos duas grandes incubadoras: o Celta e o Midi Tecnológico.

A primeira foi pioneira em incubação no país, nasceu em 1986 e já angariou prêmios na área, assim como o Midi Tecnológico, que venceu, este ano, o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) como a melhor incubadora do país.

As empresas, que entram nas incubadoras bem pequenas, saem desses ambientes preparadas e chegam ao mercado fortalecidas. Lá elas têm uma série de facilidades a um custo mais baixo.

Mil vagas à espera de gente qualificada

A taxa de sobrevivência das que saíram do Midi Tecnológico é de 93%, enquanto que, segundo o Sebrae, 90% das empresas brasileiras fecham antes de completar um ano de atividade.

Outro grande projeto que está em execução na Capital é o Sapiens Parque, um espaço de 4,5 milhões de metros quadrados localizado no Norte da Ilha.

O projeto não prevê apenas abrigar empresas de tecnologia, mas, conforme o diretor executivo, José Eduardo Fiates, daqui a 15 anos, quando uma área de 1,3 milhão de metros quadrados deverá estar construída e 500 empresas instaladas, metade deve ser de base tecnológica.

– Estamos interagindo com as universidades e as primeiras manifestações formais para a implantação de unidades de pesquisa e desenvolvimento vieram da UFSC, Udesc e Unisul – afirma Fiates.

Para continuar nesse ciclo, é preciso financiamento para projetos. Somente nesses últimos dois anos, as companhias catarinenses captaram algo em torno de R$ 40 milhões.

Mas nem tudo são flores nesse mercado. Os empresários reclamam que está difícil encontrar locais adequados para estabelecer as empresas na Capital e muitos já saíram da cidade para se instalar em municípios vizinhos. É o caso da Gtt e da Automatisa. Outro gargalo é com relação à mão-de-obra. Pelo menos 1 mil vagas estão abertas em todo o Estado à espera de pessoal capacitado.

(Graziele Dal-bó, DC, 16/11/2008)

O que é o ISS

O Imposto Sobre Serviço é um tributo municipal e tem como contribuinte o prestador de serviços, seja empresa ou profissional autônomo, desde que exerça os serviços especificados na lista da legislação do imposto. O ISS é calculado com base em uma alíquota expressa em percentagem sobre o preço dos serviços, com variações para cada atividade, também determinadas pela legislação. As alíquotas variam entre 2% e 5% em Florianópolis.

Setor conta com boa oferta de crédito

Para garantir a continuidade de crescimento, o setor de tecnologia necessita de apoio para financiar seus projetos. A boa notícia é que, mesmo em meio à crise mundial, as empresas inovadoras têm à disposição uma série de linhas de crédito acessíveis.

Uma das beneficiadas é a Bry Tecnologia, de Florianópolis. Em 2007, conseguiu aprovar um projeto no programa Juro Zero, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, e captou R$ 450 mil para desenvolver o “carimbo do tempo”.

A tecnologia faz com que seja possível detectar o momento exato em que um documento é gerado, impossibilitando, assim, qualquer tipo de fraude.

– Um cheque, por exemplo, se você rasura, ele fica invalidado. Já com os documentos digitais, isso era difícil de conseguir. Agora, com o carimbo, essa autenticidade será possível – explica o presidente da Bry, Marcelo Brocardo.

Um dos clientes da empresa é o Observatório Nacional, gerenciador da Hora Legal Brasileira. O projeto levou seis meses para ficar pronto.

Assim como Brocardo, Igor Gavazzi Vazzoler e Eduardo Cunha, sócios da Progic, com sede na Capital e que desenvolve aplicações de áudio e vídeo, também apostaram no pedido de crédito para colocar em prática um projeto que, depois de pronto, vai beneficiar os deficientes visuais. Por meio de um software, eles vão ter mais noção dos objetos em volta.

Dinheiro não precisa ser devolvido

Do custo total de R$ 1,6 milhão, os sócios conseguiram junto ao programa de Subvenção da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), R$ 1,35 milhão. Eles vão arcar com apenas R$ 250 mil. Mas o melhor é que não vão precisar devolver o dinheiro.

O Juro Zero, opção da empresa de Marcelo Brocardo, e o programa de Subvenção, dos sócios Eduardo e Igor, são duas boas possibilidades para os empresários que desejam obter crédito, na análise do sócio-diretor da BZPlan, empresa especializada na captação de recursos, Marcelo Ferrari Wolowski.

No primeiro caso, as facilidades englobam o pagamento – que pode ser feito em até 100 parcelas – e, como o próprio nome diz, sem juros. No segundo, não é preciso devolver o dinheiro captado.

(DC, 16/11/2008)

Falta espaço para tanto crescimento na Capital

Outro problema grave enfrentado pelo segmento de tecnologia – este específico na Capital – é a falta de espaços adequados para a instalação das empresas.

É exatamente por isso que empresas baseadas na cidade têm se mudado para outros municípios. A Gtt, que trabalha com identificação por rádio frequência, é um exemplo.

– Quando você termina a incubação, praticamente não tem para onde ir em Florianópolis – reclama o proprietário, Guido Dellagnelo.

Ele demorou três meses até achar um local adequado para estabelecer a empresa, que precisava de mil metros quadrados e uma porta em estilo galpão, para a entrada de caminhões.

Quem também está de mudança para uma cidade vizinha a Florianópolis é a Automatisa, que desenvolve equipamentos para corte e gravação à laser de diversos tipos de materiais.

Junto com a Audaces, a Cianet e a Spectro, vai se fixar em Biguaçu.

O diretor geral da Automatisa, Hugo Vivanco, conta que a sede, de 1,5 mil metros quadrados, vai começar a ser construída no ano que vem. Os trabalhos devem seguir até o ano de 2011.

Demora para achar local foi de seis meses

– Na minha opinião, não há uma política clara de retenção de patrimônio aqui em Florianópolis. Encontramos muitas dificuldades em achar um espaço economicamente viável. Nem todos podem arcar com o valiosíssimo metro quadrado da Capital – ironiza Vivanco, salientando que outros municípios estão de olho no que empresas desse porte podem gerar de recursos.

Ao contrário de Dellagnelo e Vivanco, o diretor executivo da Suntech, que atua no segmento de softwares voltados à área de telefonia, Maurício Dobes, não precisou mudar de cidade. Mas ele afirma que a demora para encontrar um local viável chegou a seis meses. A maratona começou quando perceberam que a empresa estava virando um verdadeiro “polvo”.

– Tínhamos setores em vários andares do prédio. A comunicação estava ficando prejudicada.

Com 190 colaboradores e um crescimento acelerado, era preciso encontrar um novo local. Depois de muito pesquisar, Maurício encontrou em um prédio novo, no Centro da Capital, a possibilidade de juntar todos os setores da empresa sem precisar sair de perto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde estuda grande parte da sua equipe.

– Pensamos até mesmo em construir o próprio espaço, mas depois vimos que não valia a pena.

Desde setembro, a empresa ocupa quatro andares de um edifício, em um espaço de 1,2 mil metros quadrados.

(DC, 16/11/2008)

Mão-de-obra é maior obstáculo

O principal gargalo enfrentado pelas empresas que trabalham com tecnologia em Santa Catarina é falta de mão-de-obra qualificada. A Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) estima que em todo o país há cerca de 20 mil vagas à espera de profissionais qualificados. No Estado de Santa Catarina, são pelo menos 1 mil.

A demanda é maior para analistas de sistemas e programadores, indica o presidente do Sindicato das Empresas de Informática da Grande Florianópolis (Seinflo), Moacir Marafon.

Mas a necessidade vai além de funções específicas para esse segmento.

– Nosso mercado gera empregos para outras áreas, como professores de idiomas para a tradução dos manuais de instrução de nossos produtos, ou até mesmo médicos, que poderão dar consultoria a empresas que desenvolvem softwares para medicina – observa Moacir Marafon.

E as notícias não são boas para esse lado. Se nada for feito nos próximos cinco anos, serão 150 mil vagas abertas sem ter profissionais para preenchê-las em todo o Brasil, segundo a Softex.

Como empresário – Marafon é diretor da Softplan/Poligraph – ele vê de perto esse grave problema.

Para contratar pessoal capacitado, a empresa precisou firmar um convênio com o Centro Tecnológico Automação Informática (CTAI/Senai). Dos 20 alunos envolvidos, oito foram trabalhar na empresa.

Empresário criou centro de formação

Sócio-fundador da IPM, que desenvolve sistema de gestão pública para prefeituras e órgãos municipais, Aldo Luiz Mees criou, há cerca de um ano, um centro de formação dentro da sua própria fábrica, na cidade de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí.

Todos os meses, R$ 30 mil (entre bolsas de estudos e professores) são investidos para capacitar os futuros funcionários.

Mesmo os que vão trabalhar na sede da empresa, transferida no final do ano passado para Florianópolis, recebem treinamento em Rio do Sul. Mais de 20 pessoas foram treinadas no centro este ano.

– Como nós trabalhamos diretamente com as prefeituras, procuramos incentivá-las a investir no conhecimento. Não nos preocupamos com isenção fiscal, mas sim com educação profissional, já que o grande limitador do setor de tecnologia, hoje, é isso – destaca Mees.

(DC, 16/11/2008)

(Rodrigo Lóssio, Impressão Digital, 18/11/2008)

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