Em um dos metros quadrados mais caros de Florianópolis, a Avenida Beira Mar Norte, grande parte dos edifícios têm problemas de isolamento acústico. Uma pesquisa de mestrado do Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFSC mostra que nos últimos anos a proteção sonora oferecida pelos valorizados prédios residenciais deteriorou-se em torno de 3 dB – e o ruído urbano aumentou, pelo menos, 6 dB(A).
O artigo ´Evolução histórica do isolamento sonoro de fachadas residenciais – estudo de caso: Florianópolis`, foi aceito para apresentação no XII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Entac 2008), que está sendo realizado em Fortaleza, de 7 a 10 de outubro. Será também apresentado dentro de algumas semanas em um congresso na Argentina.
Escrito com base na dissertação de mestrado da arquiteta Cíntia de Queiroz, com orientação da professora Elvira Viveiros, do Grupo de Acústica Arquitetônica e do Meio Ambiente, ligado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, a pesquisa avalia a evolução do isolamento sonoro das fachadas residenciais ao longo dos anos e confronta os dados com a evolução do ruído urbano. “O isolamento sonoro médio das fachadas pouco se alterou ao longo dos anos, mesmo com toda evolução tecnológica no setor da construção civil”, alertam as autoras.
Em relação ao tráfego urbano, foram coletados dados oficiais de volume de veículos nos diferentes períodos em estudo, o que possibilitou estimar o crescimento do ruído. Os dados mostram que o volume de tráfego urbano na região praticamente dobrou no período de 20 anos. “Conclui-se que o nível sonoro urbano na região aumentou, pelo menos, 6 dB(A) em 50 anos. Esses níveis são comparáveis aos de Copacabana no Rio de Janeiro ou aos de Madrid, Barcelona, e Valencia na Espanha, por isso podemos considerá-los muito altos, principalmente por serem valores médios, que não levam em conta o efeito dos horários de pico, onde o volume de tráfego é maior que no restante do dia.”, destacam as autoras, chamando atenção para um contra-senso.
“A indústria da construção civil utiliza-se de novos materiais e usufrui do aprimoramento de técnicas construtivas, reduzindo o tempo de obra e minimizando custos. No entanto, no Brasil, essa evolução não se refletiu em melhor qualidade das edificações no que se refere o conforto acústico”, avaliam. “O progresso, observado pelo ponto de vista da qualidade acústica das habitações, tem se oposto ao bem-estar da população”, reforçam as arquitetas.
O panorama descrito reflete um conflito das edificações brasileiras da atualidade: enquanto o ruído urbano aumenta continuamente, o isolamento sonoro perde eficiência – destacam as autoras, compartilhando a preocupação com o problema já levantado por outros estudiosos do tema.
Saiba Mais:
– O total de edificações multifamiliares na Avenida Beira Mar Norte com registro na SUSP é de 63 unidades. Foram selecionadas para o estudo as localizadas entre a Avenida Mauro Ramos e a Ponte Hercílio Luz. O universo pesquisado foi de 40 edifícios, de diferentes anos de construção.
– Metodologicamente, o estudo envolveu o levantamento de todas as edificações da avenida, através dos registros oficiais do município. A partir daí, foi criado um banco de imagens dos edifícios. A pesquisa envolveu ainda a coleta de informações in-loco e levantamento nas construtoras e/ou administradoras de condomínios, resultando em um quadro com as principais características dos edifícios, como ano de aprovação do projeto, materiais das vedações e espessura de parede das fachadas frontais.
– Para quantificar o índice de redução sonora das fachadas frontais dos edifícios multifamiliares foi adotado o programa Acoubat Sound, que permite a simulação computacional do desempenho da fachada através da inserção de dados dos elementos que a compõem.
Mais informações: Cintia de Queiroz / e-mail: cintiaserra@yahoo.com / fone: (48) 3348-1788/ 8442 0400
(Arley Reis, Agecom, 09/10/2008)
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