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Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que acaba de ser divulgado, dá conta de que o Brasil desperdiça, por ano, cerca de 70 mil toneladas de alimentos. Além do desperdício assustador, nada menos do que 64% do que é plantado se perde entre a colheita, o transporte e o processamento, antes de chegar à mesa. O volume do desperdício chega a ser criminoso, principalmente numa etapa em que a demanda mundial por alimentos cresce de maneira explosiva e acelera a inflação. Somente no transporte das safras de grãos por via rodoviária o prejuízo anual é de, pelo menos, R$ 2,7 bilhões, de acordo com um estudo realizado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Para tanto, contribui o estado calamitoso da malha rodoviária nacional, com a maioria das suas estradas superadas pela demanda e nas quais sequer são realizados os impositivos investimentos de manutenção.

Mas o descalabro ainda não fica por aí. Dados recentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) revelam que cada família de classe média joga no lixo, todos os anos, 182,5 quilos de alimentos próprios para consumo. Quase um crime, no conto de um mundo em que mais de 1 bilhão de pessoas sofrem de fome crônica. Nas lavouras, também conforme os técnicos da Embrapa, fatores como a regulagem inadequada das máquinas agrícolas, a falta de treinamento dos operadores – mais um item da terrível escassez de mão-de-obra qualificada no país em todos os setores de atividade – e o manejo sem critério e descuidado dos cultivos também influem para as perdas. Pelos critérios adotados pela FAO, em termos econômicos, o prejuízo causado ao Brasil por esta “cultura do desperdício” eleva-se a R$ 12 bilhões por ano.

O Brasil dispõe das melhores condições, do clima à disponibilidade de terras agricultáveis, para se transformar na maior potência agrícola e celeiro do mundo. Mas, primeiro, terá que vencer a guerra contra o desperdício irracional e predador.

(Editorial, DC, 13/08/2008)

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