Integrantes da Rede Guarani/Serra Geral (SAIG), que congrega pesquisadores envolvidos num programa de preservação da qualidade das águas subterrâneas no sul do Brasil, vão participar de um encontro com representantes do Projeto de Proteção e Uso Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (Projeto SAG) em Montevidéu, a partir desta segunda-feira, visando a iniciar as trocas de informações e experiências na defesa de uma das maiores reservas de água doce do mundo. A missão também visitará universidades em Buenos Aires e projetos de pesquisa em execução na fronteira do Brasil com o Uruguai.
O Projeto SAG, sediado em Montevidéu, é financiado pelo GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente) através do Banco Mundial e já desenvolve muitas pesquisas, por meio de agências internacionais, numa área gigantesca que abrange partes expressivas do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, para o melhor conhecimento das características geológicas e hidrogeológicas desse aqüífero.
Por sua vez, a rede brasileira envolve diversas instituições catarinenses, incluindo a UFSC e as principais universidades comunitárias da área de ocorrência dos aqüíferos Guarani e Serra Geral, para que sejam utilizados os respectivos laboratórios nas pesquisas sobre o tema. A reunião com o SAG tentará viabilizar um convênio que aproxime as duas redes no estabelecimento de normas jurídicas de consenso, eliminando eventuais superposições.
“Estamos construindo uma aproximação e buscando acordos de cooperação”, diz a coordenadora geral da Rede, Maria de Fátima S. Wolkmer, professora da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac). O contato interpessoal e a possibilidade de desenvolver um trabalho conjunto, em que a colaboração mútua estimule a soma das experiências das duas equipes de pesquisa jurídica, são vistos com bons olhos pelos pesquisadores.
Já há bases locais de estudo das águas subterrâneas nos laboratórios da UFSC, Uniplac e Udesc (Lages), Unoesc (Joaçaba), UnoChapecó, Universidade do Contestado (Concórdia) e da Epagri. Na UFSC serão utilizados, além dos recursos bibliográficos e computacionais do curso de Direito, os laboratórios do Departamento de Geociências e dos centros de Ciências Agrárias e Ciências Biológicas.
Além da diferença de escala, a principal diferencial da rede SAIG em relação ao SAG é que ela integra o estudo das águas subterrâneas dos dois sistemas aqüíferos, o Guarani e o Serra Geral, e o das águas superficiais. “Nossa visão é sistêmica, pensa a qualidade da água e do meio ambiente de forma integral”, diz Maria de Fátima. “Não há como estudar só um sistema, pela integração entre eles, que provoca uma troca constante de águas”, reforça o professor Luiz Fernando Scheibe, do Departamento de Geociências da UFSC.
O Aqüífero Guarani tem uma área total aproximada de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, da qual cerca de 12,8% é constituída por zonas de afloramento, a maior parte delas (67,8%) no Brasil. No restante da sua área de ocorrência, o aqüífero encontra-se sotoposto às rochas vulcânicas da formação Serra Geral, que constituem um importante aqüífero do tipo fraturado. Falhamentos de grande porte fazem a ligação entre ambos, que passam então a constituir o chamado Sistema Aqüífero Integrado Guarani/Serra Geral (SAIG/SG).
O volume de água do Aqüífero Guarani é maior que o dos demais sistemas, sendo também protegido pela Serra Geral. Contudo, as estiagens dos últimos anos no Oeste Catarinense têm forçado os usuários (Casan, indústrias, suinocultores e avicultores, empreendimentos turísticos) a aumentarem a utilização das águas subterrâneas, por meio de poços tubulares de grande profundidade.
“Defendemos uma nova cultura sobre o uso da água para a exploração sustentável dessa grande riqueza da humanidade, com a redução do desperdício e da contaminação por esgotos, dejetos da suinocultura e também das monoculturas intensivas, em vista do uso de grandes quantidades de agrotóxicos e de fertilizantes que contêm fósforo e nitrogênio”, diz o professor Rogério Portanova, um dos coordenadores da área jurídica da Rede.
Em seu trabalho, a rede conta com R$ 2 milhões provenientes da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado (Fapesc) e do CTHidro (via Agência Nacional de Águas/ANA e CNPq), além de R$ 4,25 milhões assegurados por meio de emenda coletiva aprovada pela unanimidade da Frente Parlamentar Catarinense em Brasília. Esse respaldo dos deputados e senadores é vista pelos pesquisadores como “uma atitude pioneira de apoio aos estudos sobre o sistema integrado pelos aqüíferos Guarani e Serra Geral, que juntos formam uma das maiores reservas transfronteiriças de água doce do mundo, congregando, desta forma, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai”.
Atualmente, a Rede Guarani/Serra Geral conta com a participação de técnicos, professores e estudantes dos três estados do sul, interessados em garantir a integridade das águas em toda a região.
Mais informações sobre o tema podem ser obtidas com a professora Maria de Fátima S. Wolkmer, coordenadora da Rede, pelos fones (48) 3334-3273, (48) 9616-4325 e (49) 3251-1000 e e-mail mfwolkmer@yahoo.com.br; professor Rogério Portanova, fones (48) 3237-4156 e 9972-7463; e professor Luiz Fernando Scheibe, fones (48) 3721-8813, 3233-1228 e 9963-7208 e e-mail scheibe2@gmail.com.
(Agecom, 15/06/08)