Quando menciona o quanto Florianópolis cresceu desde a última vez em que esteve em Santa Catarina, há 15 anos, o cônsul geral dos Estados Unidos no Brasil, Thomas White, dá de ombros. Não com descaso, mas como quem sabe que não diz uma novidade. Na sua visita anterior, lembra, ainda era a época da hiperinflação. A pobreza, aponta, apesar de ainda muito presente, é bem menor do que naquela ocasião, resultado do crescimento econômico, que ele aproveitou para elogiar.
White esteve em Santa Catarina na semana passada, em mais uma de suas viagens pelo Brasil após assumir, em agosto do ano passado, o Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil. A passagem foi rápida: pouco depois de conversar, em português fluente, com a reportagem do Diário Catarinense, na sede da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), seguiu para Joinville, onde prosseguiu as conversas com empresários e políticos do Estado.
Entrevista
Diário Catarinense – Há perspectiva de mudança na política de concessão de vistos para brasileiros entrarem nos EUA?
Thomas White – Não deve mudar rapidamente. Mas pode haver mudanças no futuro. Estamos incrementando o número de países de onde os cidadãos não precisam de visto para entrar nos Estados Unidos, especialmente os do Leste Europeu. Há possibilidades de que a América do Sul também venha a fazer parte disso.
DC – Quais são os critérios para um país ser incluído?
White – Vários. Entre os principais estão a taxa de rejeição dos vistos e a credibilidade dos documentos. Ainda há bastante rejeição a vistos brasileiros. E também há o perfil do país em termos de presença na população de imigrantes ilegais.
DC – O crescimento econômico do país, a que o senhor referiu-se anteriormente, pode influenciar nisso?
White – Acho que sim. Em São Paulo, onde esse crescimento é evidente, a taxa de aprovação de vistos cresceu muito. A procura aumentou 150% nos últimos três anos; hoje são mais ou menos 1,5 mil pedidos de visto por dia. A grande maioria é para turismo ou negócio e também há bastante de estudantes.
DC – A diferença cambial entre EUA e Brasil, com a desvalorização do dólar, deve permanecer?
White – Isso faz parte da conjuntura atual. Essa situação vai mudar quando mudar a política de juros nos Estados Unidos, que atualmente estão muito baixos, mas devem aumentar no ano que vem.
DC – As eleições presidenciais dos EUA, no final do ano, podem mudar esse ou outro aspecto na relação com o Brasil?
White – Não. Os interesses nacionais dos Estados Unidos não vão mudar por causa da eleição. O ritmo mais acelerado de contatos deve continuar. Há diferença entre os dois partidos, claro. Normalmente, os Democratas têm mais preocupação com o comércio externo porque dão mais importância aos sindicatos, mas, fundamentalmente, os interesses vão continuar na mesma linha.
DC – Esse interesse especial na eleição norte-americana por parte do mundo todo está especialmente ligado ao desgaste da imagem do presidente Bush?
White – Essa é a primeira eleição nos Estados Unidos, em 80 anos, em que não há nenhum presidente nem vice-presidente concorrendo. E candidatos como Hillary Clinton e Barack Obama chamam, naturalmente, mais atenção para a disputa. E também o candidato republicano, John McCain, tem um perfil diferente, mais moderado. Tudo isso funciona como sinal de mudanças, atrai o público.
DC – Que possibilidades de negócios o senhor encontrou em Santa Catarina?
White – Boas possibilidades. É um Estado onde a economia cresceu ainda mais do que em todo o Brasil.
Queremos fazer ligações com universidades daqui por meio de cursos, conferências e palestras. Santa Catarina tem recursos que devem interessar a várias empresas norte-americanas. E o Brasil acaba de receber investimentos grandes, isso é importante.
DC – Entre essas possibilidades, como se coloca o turismo?
White – É uma das principais. Até agora, o turismo aqui ainda é regional, recebendo principalmente pessoas do Sul e Sudeste do Brasil e da Argentina.
É preciso planejar bem, especialmente em ambientes sensíveis como esse aqui, é preciso utilizar o bom senso. A natureza deve ser preservada, é parte da atratividade; sem isso, não há grande razão de desenvolver turismo aqui. Esse equilíbrio é complicado.
(Fábio Bianchini, DC, 25/05/08)
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