Eveline Orth, guerreira por trás dos palcos

Da coluna de Juliana Wosgraus (DC, 25/05/08)
Eveline Orth é carioca, com cidadania européia, mora em Florianópolis desde 1990 e foi aqui que começou a trabalhar com produção cultural. Uma trajetória de sucesso há 15 anos, mas o começo não foi nada fácil. Ela lembra que em 1994 trouxe para a Capital o primeiro espetáculo da companhia de dança da Deborah Colker, Velox, e amargou 118 pagantes no CIC numa noite, 198 na outra.
Hoje a Deborah tem renome internacional, está montando espetáculo para o Cirque De Soleil no Canadá, enquanto a produtora, de quem ficou amiga, continua por aqui trazendo espetáculos nas áreas de dança, música e teatro, e também levando artistas daqui para turnês fora do Estado e do país, como é o caso da companhia de dança Cena 11.
Nesta entrevista, a ex-enfermeira psiquiátrica fala da sua trajetória no mundo das artes. E ela já produziu mais de 250 espetáculos, com competência reconhecida por artistas como Ney Matogrosso, entre tantos, que só vêm fazer show aqui se for pelas mãos dela.
Entrevista

Profissão anterior:
Eu era enfermeira psiquiátrica, sou formada em Enfermagem pela PUC do Rio. E fiz especialização em Psiquiatria na Alemanha – morei oito anos lá. Meu pai era alemão. E quando vim de lá pra cá, comecei uma nova vida, literalmente.
Qual o maior desafio em ser produtor cultural em Santa Catarina?
Primeiro tem a diversidade do Estado, não é defeito e sim uma característica rica, mas é complicado. Porque o que faz sucesso em Florianópolis não faz em Joinville, o que dá certo em Blumenau não dá em Chapecó. Claro que, tirando o showbusiness, que agradava em toda parte, e falando em produtos culturais. Mas acho que o maior problema ainda é a falta de um teatro maior na Capital pra comportar shows como de Marisa Monte, Chico Buarque e as atrações internacionais que se apresentam em Porto Alegre e Curitiba.
A meia entrada para estudantes é uma pedra?
É uma pedra, a gente conseguiu uma negociação com a Procuradoria (do município), para limitar uma cota, baseado numa Lei que tramita no Congresso. Porque antes era só a carteira da União Nacional dos Estudantes que identificava, hoje você faz um curso de informática e tem carteira de estudante. A própria UNE questiona isso porque ela perde a força. O grande entrave da meia entrada é que o ingresso para os demais fica mais caro.
E o fato de termos teatros pequenos também não ajuda…
Exatamente, por isso é que hoje a gente está trabalhando com uma cota no CIC e no TAC, amparados pelo acordo com a Procuradoria do município, Fundação Catarinense de Cultura e a UNE.
Qual foi a produção mais cara que você já fez?
Foi a turnê do Balé Nacional da Polônia, que abriu o Festival de Dança de Joinville em julho de 2006. Eu fiz a produção para o Festival e uma turnê pelo Estado. Fiquei 25 dias com 96 poloneses, em dois ônibus. Imagine: hospedagem, alimentação pra toda essa gente durante esse tempo. Essa viagem foi uma loucura, custou 750 mil reais.
Já teve prejuízo?
Teve uma que só não trouxe prejuízos à minha pessoa porque eu já tinha conquistado uma confiança no mercado. Foi o cancelamento do show da Gal Costa. Os ingressos estavam esgotados 30 dias antes do show, e ela cancelou três vezes, na terceira aí eu cancelei e devolvi o dinheiro dos ingressos. Demorou 90 dias para devolverem o cachê que já estava pago.
Um sufoco:
A Zezé Polessa desmaiou cinco minutos antes de entrar no palco com Florbela Espanca, que era um monólogo. Eu tive que usar minha experiência de enfermeira, ela teve uma queda de pressão violenta. Passei isso com a Adriana Calcanhoto também, ela saiu praticamente carregada da coxia do CIC.
Coisa engraçada:
Quando eu fiz o espetáculo D’Artagnan e os Três Mosqueteiros, com Rodrigo Santoro e Marcelo Faria, levei os meninos pra fazerem uma entrevista na rádio do Colégio Catarinense, acho que foi em 1997. As fãs invadiram e eles tiveram que escalar o teto, atravessaram o forro do prédio pra sair lá por cima e entrar escondidos no carro, e ainda foram deitados no assoalho (risos).
Já deu pra ganhar dinheiro?
Eu tenho muito orgulho de conseguir me manter com meu trabalho, ter minha casa, pagar minhas contas. Não sou rica, mas vivo bem, e as pessoas que trabalham comigo também, é uma equipe de fé, é importante que eles estejam bem também, estão comigo há 12, 10 anos.
Quais as maiores dificuldades?
Vivemos um momento complicado com as Leis de incentivo à Cultura, tanto a estadual como a municipal. Burocratizaram demais, dificultando nosso trabalho. Eu nem tenho feito projeto nenhum por causa disso. O Cena 11, por exemplo, se dependesse da Lei Estadual, já tinha fechado. A gente vive hoje por causa da Lei Federal. A burocracia está no trâmite. O projeto fica parado numa pilha até chegar ao Conselho de Cultura para aprovação. A justificativa é que são muitos.
Próximo projeto local:
Em junho, o Acústico Brognoli. O tema é Clássicos de Santa Catarina, com músicas de Zininho até Dazaranha, passando por Tubarão, com novos arranjos.