Artigo de Maria Dalce Ricas – superintendente executiva da Amda (Portal do Meio Ambiente, 04/03/08)
Independente de questões técnicas sobre a efetividade das sacolas plásticas “ecológicas”, a Lei 9529/08, sancionada pelo prefeito Fernando Pimentel nesta semana, traz resultados positivos no que se refere a contribuição para mudança de postura do consumidor e dos estabelecimentos que utilizam o produto. A norma fixa o prazo de três anos para que esses empreendimentos parem de usar e fornecer a sacola plástica comum.
Com raras exceções, a postura de supermercados, sacolões, farmácias e demais lojas, e também de fabricantes, tem sido de ignorar solenemente o problema da “inundação” do ambiente com sacolas plásticas, e abusar da distribuição delas e outros recipientes plásticos de embalagem. O consumidor, de forma geral, adota a mesma postura. São comuns relatos de pessoas que recusam sacolas em lojas, padarias, do espanto dos vendedores, habituados à distribuição maciça das mesmas.
Essa situação retrata a desinformação da sociedade quanto ao assunto. Pouquíssimas pessoas conhecem o ciclo de vida do produto. Nem sabem sequer de que são fabricados os plásticos, e muito menos das implicações ambientais resultantes tanto disso, quanto de seu descarte no meio ambiente natural.
À medida que a Lei concede prazo para que os estabelecimentos adotem outro produto, seus responsáveis terão obrigatoriamente de se inteirar do assunto, e apostando que o conhecimento traz mudança de postura, muitos deles talvez busquem outras medidas ambientais em seus estabelecimentos, como redução do desperdício de insumos, água, energia, programas de sensibilização de funcionários e fornecedores, correção de processos internos visando minimizar impactos ambientais, reciclagem e outras.
Outros dois aspectos devem ser também ressaltados no momento em que a Lei repercute junto à sociedade. O primeiro refere-se à polêmica técnica que ainda envolve as sacolas alternativas, pois ainda há dúvidas se são realmente “ecológicas”. Enquanto isso não é resolvido, o correto seria incentivar, através de informação maciça, vendedores e consumidores, a reduzir o uso de embalagens fabricadas a partir do petróleo. Apenas para ilustrar o potencial poluidor, contribuição para Efeito Estufa, e abuso do consumo de matérias primas, nos EUA são descartadas 60 mil sacolas plásticas a cada cinco segundos, segundo informação da revista SuperInteressante.
O segundo refere-se ao ainda fraco compromisso do poder público relativo à adoção de procedimentos internos para redução, por exemplo, do uso de copos descartáveis. Nas repartições públicas estaduais, apesar de um excelente programa denominado Ambientação, criado pela Fundação Estadual de Meio Ambiente – Feam (premiado inclusive como iniciativa ambientalmente correta e pioneira), a Copasa distribui milhares de copos plásticos que são diariamente descartados. O correto seria utilização de copos de vidro ou canecas de louça. Na Prefeitura Municipal, a situação é semelhante.
Esse descompromisso do poder público é péssimo exemplo para a sociedade. Conforme diz um ditado chinês, “dê duas voltas em sua própria casa, antes de querer mudar o mundo”.