Roberto Teitelroit não é um arquiteto comum. Insatisfeito com o rumo que dava à vida profissional e observando a necessidade de aliar a sustentabilidade ambiental às construções, o membro fundador do Green Building Council Brasil encontrou “a sua tribo” nos Estados Unidos, em 1999.
Depois de passar uma semana com pesquisadores do Instituto Rocky Mountain, entre eles os autores do livro que o inspirou a fazer a viagem – “Natural Capitalism”, de Hunter Lovins and Amory B. Lovins, Teitelroit voltou ao Brasil disposto a empregar o conceito de construções verdes nas edificações e espaços construídos aqui.
Termo surgido na década de 90, os Green Buildings são empreendimentos que utilizam alta tecnologia para reduzir os impactos negativos causados pela construção no meio-ambiente promovendo benefícios sociais, econômicos, ambientais e para a saúde humana, durante todo o processo de concepção, execução e operação.
Hoje, a idéia de construções sustentáveis contamina arquitetos de todo o mundo, principalmente entre os europeus. Nesta semana, mais de 500 expositores e outros 500 palestrantes participaram do Ecobuild 2008, o maior evento dedicado ao design, construção e ambiente construído sustentável realizado em Londres, no Reino Unido.
Durante o evento, foi apresentado o projeto vencedor da “The GreenHouse”, um edifício ‘low carbon’ (com baixas emissões de carbono) que promete se tornar um centro global para pesquisas e comunicação sobre os desafios ambientais chaves para o século 21 – como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desmatamento.
Orçado em 30 milhões de libras (US$ 100 milhões), o edifício tem como patronos o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore e a vice-presidente da Irlanda, Mary Robinson, recebendo o apoio da Agência de Desenvolvimento de Londres e da Agência de Mudanças Climáticas de Londres. O projeto vencedor é da Feilden Clegg Bradley Studios.
“O projeto GreenHouse irá impulsionar a inovação e práticas entre os negócios, grupos de cidadãos e governos. Ele oferecerá espaços, idéias e evidências para fazer do planeta um lugar mais sustentável”, afirma Al Gore.
Greenhouse
O edifício terá 70 mil metros quadrados, poderá acomodar 300 funcionários, terá um centro de convenções, sala de imprensa e de pesquisas junto a espaços públicos, incluindo livrarias e um restaurante orgânico e étnico. “Esta é uma grande oportunidade para produzir um exemplo de trabalho ambiental, trabalhando com um cliente que é igualmente comprometido para ver o quão longe podemos ir para criar design de escritórios sustentáveis”, disse Ian Taylor da Feilden Clegg Bradley Studios.
As construções estão previstas para serem iniciadas em março de 2009 e concluídas em novembro de 2010. O projeto continuará em exibição no centro de eventos Earls Court, em Londres até maio.
Brasil
No Brasil, apesar de estar longe de receber um projeto como este, os empreeendimentos podem recebem o status de Green Buidings. Para isso, precisam passar pelos critérios de avaliação da certificação internacional Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Energia e Desenho Ambiental, em português), ou LEED. O selo norte-americano ainda está sendo adaptado para a realidade brasileira.
“A meta do Brasil é fazer esta certificação com profissionais daqui”, disse Teitelroit durante palestra no Congresso Mundial sobre Desenvolvimento das Cidades, realizado em fevereiro em Porto Alegre (RS).
Segundo Teitelroit, esse reconhecimento só é feito mediante a comprovação de que todo o ciclo de construção de uma obra tenha se dado de maneira sustentável. Ele admite que as construções certificadas têm um custo mais alto do que as convencionais, mas garante que o retorno do investimento vem na operacionalização, bem como através da economia de energia, de recursos naturais e garantia de mais qualidade de vida aos moradores.
Teitelroit explica que a construção deste tipo de edificações promove a redução de 30% do consumo de energia e 35% das emissões de gases do efeito estufa ao longo da vida útil. “A grande meta hoje é mexer na legislação para que o prédio pague menos imposto”, comenta.
Enquanto as mudanças na lei não ocorrem, a disseminação de informações é a melhor maneira de incentivar as construções ecologicamente responsáveis e sustentáveis no Brasil. O Green Building Council Brasil se prepara agora para traduzir e distribuir uma das Standard ASHRAE 90.1 de 2007, que poderá ser utilizado por profissionais que atuam com projetos e construções elétricas – que é a base da análise energética da certificação LEED na categoria Energia e Atmosfera.
A instituição fechou neste mês uma parceria com a American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE) para promover este trabalho. “Nossa intenção é disseminar o conhecimento técnico de forma inclusiva, para que cada vez mais profissionais do setor, empresas e construtoras possam desenvolver uma nova cultura focada na eficiência e preservação de recursos naturais”, afirma Thassanee.
A ASHRAE é a base da Lei de Eficiência Energética 10.295/2001, que gerou o Programa para Etiquetagem de Edifícios (Procel Edifica), que entrará em vigor no Brasil em 2012.[1]
Nos Estados Unidos, cerca de 6% do mercado imobiliário americano já cumpre as normas segundo a presidente do Green Building Council Brasil, Thassanee Wanick. “A indústria imobiliária é responsável por 5% da emissão mundial de gases causadores do efeito estufa. Com a construção de edifícios de baixo consumo, é possível reduzir impactos, gastos e aumentar os lucros”, afirma.
Saiba mais
Green Buildings Council Brasil
(Segs, 14/03/08)
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