Por ser um caso exemplar de convívio íntimo entre cidade e natureza, Florianópolis foi escolhida para ser uma reserva da biosfera urbana modelo pela Unesco durante o Congresso Mundial realizado em fevereiro em Madri, na Espanha. Neste mês, a ilha de Santa Catarina receberá a visita de uma equipe da instituição para discutir propostas deste projeto piloto.
“A cidade é a única onde está bem avançada a integração entre áreas urbanas e preservação ambiental”, diz o arquiteto argentino Ruben Pesci, da Fundación Cepa e um dos responsáveis pela inclusão de Florianópolis entre os locais caracterizados como reservas da biosfera urbana.
O objetivo do projeto é mostrar que é possível sustentar a conservação da biodiversidade, em zonas onde a pressão do crescimento urbano parecem só ameaçar a preservação da natureza.
Florianópolis é uma síntese dos ecossistemas encontrados no litoral do estado. Possui baias, mares voltados para o vento, mata atlântica em recuperação, restinga, dunas, manguezais e lagoas. Esta riqueza natural, no entanto, vem sendo ameaçada pela rápida urbanização e crescimento desordenado na ilha.
O professor de arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Almir Reis, diz que é preciso voltar na história para entender como as estruturas de adaptação impactaram na cidade atual. O crescimento urbano turístico, por exemplo, é citado por ele como um dos pontos que exige uma atenção especial. “É preciso ver o quanto isto causou desastre ambiental.”
Em 2007, a ilha ganhou as páginas policiais ao ser cenário da Operação Moeda Verde, da Polícia Federal, que prendeu diversos políticos e empresários acusados de participar de um esquema de negociações de licenças ambientais para grandes empreendimentos.
Construções em áreas de desenvolvimento planejado sempre estiveram na mira de ambientalistas, porém Reis destaca que o crescimento ‘espontâneo’ pode ter um impacto ainda maior. A partir da infra-estrutura estabelecida pela administração pública como estradas asfaltadas, a cidade vai crescendo em direção as áreas preservadas, alcançando um ponto indefinido. Diferentemente dos grandes empreendimentos, estas áreas de impacto ambiental estão escondidas dos olhos da população.
“As áreas de preservação em Florianópolis estão ficando de costas para a cidade. Se tivéssemos mais conhecimento do significado desta encosta verde, ela seria mais preservada”, explica Reis.
O professor ressalta também que é preciso entender a lógica de construção das cidades e como a preservação pode mexer no modo como construímos. “Ao pensar no ordenamento do litoral urbano, pensamos em preservar o meio ambiente e a ordenar a construção urbana, o que é um paradoxo, pois toda arquitetura causa algum impacto”, comenta.
Parte do projeto piloto de reserva da biosfera urbana de Florianópolis é identificar os limites da cidade e os pontos onde deve predominar a construção da cidade e onde deve prevalecer a conservação ambiental.
Por isso, Reis explica que falta um entendimento melhor do que é cidade e do que é natureza e ainda uma maior interação entre os diferentes profissionais.
“Precisamos ‘ambientalizar’ o discurso urbanístico e ‘urbanizar’ o discurso ambientalista. Acho que aí talvez a gente comece a trilhar um pequeno caminho de reversão do quadro em que nos encontramos”, afirma.
Saiba mais sobre o Projeto Piloto Florianópolis Reserva da Biosfera Urbana.
(Paula Scheidt, Carbono Brasil, 19/03/08)