Moradores de Canasvieiras decidiram organizar uma comissão para exigir da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) a solução de um problema que existe há pelo menos dois anos. Segundo eles, as três bombas elevatórias instaladas na beira do Rio do Brás não são suficientes para encaminhar o esgoto à estação de tratamento da região, e os dejetos vêm sendo jogados diretamente no leito do rio.
O mau cheiro se tornou o vizinho mais indesejado de quem mora na rua Murilo Antônio Bortoluzi e dos inquilinos do camping Costa do Sol, ao lado do trapiche por onde diariamente circula grande número de turistas. O rio, que antes oferecia camarões, siris, tainhotas e robalos, além de ser uma alternativa para quem quisesse nadar, agora tem cor de fezes e é motivo de vergonha e indignação para quem mora ou freqüenta o mais badalado balneário do Norte da Ilha.
A situação, inclusive, foi alvo de uma Ação Civil Pública em outubro de 2006. Na audiência, a Casan reconheceu que o sistema funcionava irregularmente, pois não tinha a licença ambiental.
A companhia também se comprometeu com o juiz Gerson Cherem II a realizar um estudo de viabilidade técnica para avaliar os fluxos hídricos dos canais de drenagem, regularizar o licenciamento com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) e criar um plano emergencial para minimizar os efeitos do lançamento de esgoto bruto nos extravazamentos da estação elevatória.
O prazo para que isso fosse feito era de 180 dias e a Justiça definiu uma multa de R$ 10 mil caso o acordo não fosse cumprido. Técnicos da Fatma estiveram no final da tarde de ontem no local, constataram visualmemte a contaminação e coletaram amostras da água para análise mais criteriosa.
Além da coloração escura e fétida que se acumula de margem à margem, uma espessa camada de vegetação encobre a lâmina d’água. O capim se estende por praticamente toda a sua extensão e forma uma espécie de “tapete verde”, resultado do acúmulo da grande quantidade de matéria orgânica no fundo do rio.
Medida Radical
Cansados de esperar, os moradores estão pensando em radicalizar se a reunião com a direção da Casan não surtir efeito positivo. A idéia é quase uma tática de guerrilha. “Ou vamos estourar o rio (abrindo passagem para que a água completamente poluída desemboque no mar) ou vamos fechar a saída do esgoto”, especula Carmem Lucia Rosa.
Outra estratégia promete levar a denúcia diretamente aos próximos turistas que tentarem desembarcar no trapiche de Canasvieiras. A comunidade pensa em ir até o local de desembarque com cartazes explicando como o descaso das autoridades está prejudicando a vida de quem mora no local e contribuindo para a poluição do meio-ambiente.
Carmem sabe que são medidas extremas. Mas a paciência da população se esgotou. “Os técnicos da Fatma vieram aqui na rua e detectaram que somente uma casa jogava o esgoto diretamente na rua. Ainda assim, era de um alemão que recém havia comprado o imóvel e não sabia de nada. Ao saber do fato, ele mesmo corrigiu a situação. Então fica complicado, pois todo mundo paga os impostos, faz tudo certo e não tem o retorno”, desabafa a moradora.
(Alessandro Bonassoli, AN Capital, 11/01/08)