A história abrigada pelas paredes das igrejas construídas em Florianópolis na época em que o local ainda era conhecido como Ilha do Desterro sobrevive com fragilidade.
Com poucos registros oficiais e ainda à espera de um inventário completo, obras centenárias passam despercebidas pelos olhos de fiéis e turistas ao mesmo tempo que exibem as marcas do descuido.
A Capital tem nove igrejas tombadas pelo Patrimônio Histórico Estadual, órgão ligado à Fundação Catarinense de Cultura (FCC) que é responsável pela conservação de bens históricos de SC – apenas igrejas de Laguna, São Francisco do Sul e São Miguel são tombadas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As informações sobre os bens encontrados no interior dessas construções, entretanto, são limitadas, quando não inexistentes.
Na maioria das igrejas, o valor histórico das obras é denunciado apenas por sua aparência. Não falta de um inventário catalogando esses materiais, a “carteira de identidade” de imagens, pinturas e altares permanece restrita às páginas seculares dos livros tombos.
O cenário deve se modificar a partir do próximo ano. O tema despertou a atenção de instituições locais e originou dois projetos: a realização de um inventário ofiecial pelo Patrimônio Histórico Estadual e a criação de uma comissão de arte sacra da arquidiocese de Florianópolis.
Segundo a diretora do Ateliê de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Artecor) da FCC, Sara Beatriz Dutra e Silva, a lista das igrejas que serão abrangidas pelo projeto ainda não foi definida, mas o trabalho iniciará pela Grande Florianópolis.
– Esse levantamento será uma maneira de nos auxiliar na conservação dos objeto culturais – afirma.
A ação da comissão de arte sacra está mais articulada. O objetivo da comissão formada no início do ano é catalogar os bens culturais, artísticos e religiosos da arquidiocese, que atende, além da Capital, as cidades de São José, Brusque, Itajaí, Garopaba, Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro e Paulo Lopes.
O trabalho é coordenado pelo arquiteto Sidnei Machado e conta também com a participação de religiosos, artistas e engenheiros. Cada paróquia foi atribuída de realizar uma mapeamento inicial das suas obras nos livros tombos.
– É um trabalho inovador em Santa Catarina, que ainda está sendo experimentado. Nestes meses iniciais fizemos acompanhamentos de casos, analisamos projetos que nos foram encaminhados e visitamos algumas paróquias – explica o arquiteto, preocupado em difundir a cultura de preservação dos bens entre os funcionários das paróquias e os próprios padres.
Para Machado, a principal ameaça ao locais que guardas verdadeiras relíquias da arte sacra, como a Fuga para o Egito, de 1902 (veja matéria ao lado), é a má conservação dos patrimônios
– Em primeira análise a falta de manutenção gera todos os problemas, desde os estruturais dos edifício-igreja, assim como a deficiência na conservação dos bens culturais artísticos e religiosos.
Como modelo a ser seguido por aqui, o arquiteto cita o trabalho desenvolvido nos centros históricos de Minas Gerais.
– As cidades históricas no interior de Minas demonstram este contraste, da beleza da arte sacra brasileira com belíssimos exemplos de arquitetura, pintura e escultura e a necessidade de cuidarmos deste patrimônio artístico religioso e cultural sob pena de perde-los para sempre.
(Karine Ruy, DC, 20/12/07)
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