Antes do aterro da Baía Sul, parte do que se conhece hoje como região central da Capital não existia. Todo espaço onde estão o Terminal Rodoviário Rita Maria, Terminal Integrado do Centro (Ticen), CentroSul e Passarela Nego Quirido era ocupado pelo mar. Na época, quando a água chegava ao Mercado Público, o Miramar reinava absoluto como um dos principais pontos de encontro da cidade.
Ainda hoje lembrado com saudosismo por aqueles que o conheceram, estava localizado na frente da praça Fernando Machado, sendo composto por um trapiche e um pavilhão anexo, onde funcionava o bar Miramar. A historiadora Eliane Veras da Veiga conta em seu livro “Florianópolis: Memória Urbana” que, em 1925, Mário Moura obteve a autorização do Município para a construção do trapiche e do pavilhão, obra orçada em 90 contos de réis.
Inicialmente, a proposta de Moura era instalar um “café elegante, com sala para refeições, compartimento para banhos, tudo com luxo e elegância”. O projeto foi assinado pelos engenheiros Corsini, também responsáveis pela concepção do hotel La Porta e do novo Mercado Público. Na obra, predominavam as linhas ecléticas, distinguindo-se na frontaria do portal de acesso elementos neoclássicos e de art-déco.
Havia um vitral na parte alta da fachada e dois golfinhos em massa decorando a platibanda recortada. Nas laterais do trapiche, havia duas escadas, onde os barcas atracavam e os passageiros podiam descer. Mais tarde, quando os ônibus começaram a circular pela cidade, um ponto foi instalado bem na frente ao Miramar, reforçando sua característica de reunir pessoas.
O comerciante Mauri José da Luz, 60 anos, lembra que passou muito tempo de sua infância nos arredores do Miramar. Morador de Santo Antônio de Lisboa, vinha de ônibus cedo para o Centro e tinha que esperar até o horário das aulas na antiga Escola Industrial. “A gente ficava matando o tempo, andando pelo Miramar, Alfândega e Mercado Público. Todo mundo conhecia e passava pelo Miramar. Tinha a gurizada que mergulhava no mar em busca das moedas atiradas por turistas, os remadores e os barcos que atracavam. Era muito bonito”, recorda.
Luz guarda ainda hoje o que considera dois troféus, um copo e uma garrafa de Grapette (antigo refrigerante de uva) que pertenceram ao Miramar. As lembranças lhes foram dadas pela neta do último proprietário do bar.
Demolição causa indignação em alguns e é festejada por outros
Ao longo de quase 50 anos, o Miramar foi o principal ponto de encontro da cidade, reunindo boêmios, artistas, músicos, jornalistas, políticos, comerciantes e jovens que aproveitavam o movimento para flertar. Era famosa a cerveja, sempre “estupidamente gelada” e os petiscos, como pastel e casquinha de siri. O Miramar também era muito freqüentado no Carnaval, que na época acontecia nos arredores da praça 15, e nas regatas de remo.
É por tudo isso que a demolição, ocorrida em 24 de outubro de 1974 , seja ainda hoje lamentada. Na época, o fato foi narrado pelo radialista Adolfo Ziguelli, que afirmou que foi o progresso que matou o Miramar. “Ontem morreu o último símbolo da Ilha”, declarou no programa de 25 de outubro, na extinta rádio Diário da Manhã.
A derrubada também comoveu o poeta Zininho, que escreveu ofício ao prefeito. A manifestação não resultou em nada, mas o texto acabou sendo musicado pelo próprio Zininho.
O documentário “Miramar, um olhar para o mundo” (2002), dirigido por Marco Martins e Ricardo Weschenfelder, mostra que a demolição dividiu a cidade. Enquanto muitos lamentavam, mas não ousavam grandes protestos, já que estavam em plena ditadura militar, outros se empolgavam com a chegada do “progresso”. No vídeo, Colombo Salles, que era o governador na época, afirma que ninguém derrubou o Miramar, que teria sido demolido pelo próprio aterro, já que toda sua estrutura estava comprometida.
Em 1988, a Prefeitura promoveu o concurso “Revivendo o Miramar”, que resultou em um projeto arquitetônico de recriação do prédio, na orla do aterro da Baía Sul, que não chegou a ser executado.
(Natália Viana, A Notícia, 21/10/2007)
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2 Comentários
O Miramar ,apenas o nome, já me enche de saudades.Depois do Chiquinho, eram feitos lá alguns dos bons salgadinhos da cidade, pelo menos nas minhas lembranças de criança.Lembro-me das piavinhas, filhotes de tainhas e cocorocas, além dos onipresentes(ontem como hoje)baiacus, atrás de migalhas jogadas por crianças e adultos.Famílias lá passavam para apreciar o mar , tomar um refrigerante , um sorvete , um salgadinho.Ao adentrar via-se, à direita, o trapiche da Alfândega, onde meu avô, o “Seu Tuquinha”, era tesoureiro.Trapiche em “L” e em bom estado, o mesmo não se podia dizer do guindaste, corroido pela maresia, jazendo em sua extremidade como um velho e cansado testemunho das cargas levantadas.Era , este trapiche , um bom ponto de pescaria.À esquerda, ancoradas,as lanchas acinzentadas da Capitania dos Portos, sediada no pequeno forte ali até hoje existente.Ao fundo, à direita, a Ilha do carvão,depósito de carvão em forma de forte, amarelo,contrastando com a altivez do Cambirela.Saudades
Lindo este comentário, sou natural de florianopolis e pra falar a verdade, acabaram com floriánopolis, pois o dinheiro fala mais auto, andei muito de Barreiros a florianópolis de bicicleta, passando a ponte hercilio luz, é uma pena, não conservar o passado, lamentavel… abraço joel