Da coluna de Estela Benetti (DC, 30/09/2007).
Pouco conhecido fora dos meios acadêmicos e empresariais, o professor do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Carlos Alberto Schneider é um dos maiores empreendedores voltados ao interesse tecnológico coletivo do país.
Tem uma trajetória destacada na área: propôs e implementou, em 1984, a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras – Certi, que realiza pesquisa e desenvolvimento tecnológico; fundou a incubadora Celta, até hoje apontada como a melhor do Brasil, que já abrigou 90 empresas de tecnologia, e idealizou o Parque Sapiens, megaprojeto de inovação para tecnologia, cultura e preservação ambiental que começa a sair do papel, no Norte da Ilha.
Por essas e outras colaborações nas áreas de inovação e competitividade empresarial, receberá, nos próximos dias, das mãos do presidente Lula, mais uma importante distinção – a Medalha do Conhecimento, concedida pelo Ministério do Desenvolvimento.
A paixão pela tecnologia veio de casa. Filho de industriais de Joinville – seu pai fundou a Schneider Bombas – , ele estudou na Escola Técnica Tupy, cursou Engenharia Mecânica na UFSC, fez mestrado na mesma instituição e doutorado na Universidade de Aachen, Alemanha. Saiba um pouco mais sobre seus projetos e opiniões na entrevista a seguir.
Como a Fundação Certi consegue prestar serviços de ponta em tecnologia?
Carlos Alberto Schneider – Fundamos a Fundação Certi no dia 31 de outubro e no dia 1º de novembro eu já havia contratado 10 engenheiros porque já tínhamos projetos de empresas para executar. Como instituição privada, tem sua sustentabilidade calcada nos projetos de produtos, processos, sistemas e ambientes inovadores que realiza para a indústria e agências de fomento. Temos uma equipe fantástica de 200 pessoas.
A incubadora Celta, no Parque Alfa, é modelo para o país. Qual é o seu novo desafio?
Schneider – A incubadora foi implantada pela Fundação Certi em 1986, a partir de discussões políticas sobre uma vocação futura para geração de empregos em Florianópolis. Hoje ela chama-se Celta, Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas. Ao todo, ela já abrigou 90 empresas, sendo 45 graduadas (que já saíram para sede própria). Agora, vamos entrar no projeto chamado Celta 2. A intenção é ter uma atuação não só nas empresas que estão lá dentro, mas também uma interação com as já graduadas. Outra coisa importante será uma pré-incubadora, para estimular projetos inovadores de alunos das universidades catarinenses.
Como foi concebido o Parque Sapiens?
Schneider – Quando a gente pensou no projetão, a gente imaginou fazer algo diferente. Não estávamos pensando meramente num parque empresarial ou tecnológico, só para empresas de tecnologia. Estávamos pensando num parque para inovação, que proporcionasse um ambiente amplo de criação, geração de conhecimento, que colocasse esse conhecimento em contato com o cidadão, criasse para empresas produtos inovadores. No início, estávamos pensando numa área de 500 mil metros quadrados. Mas conseguimos área na Ilha nove vezes maior do que isso, o que nos proporcionou manter esse modelo e trazer mais coisas, como, por exemplo, a questão ambiental. O projeto é baseado no conceito de reserva de biosfera urbana.
Por que está demorando para sair do papel?
Schneider – Era um projeto para ser implantado em três anos, mas já faz sete anos que trabalhamos nele e agora temos editais para 15 edificações, cujas consultas estão abertas até o próximo dia 3. Estamos fazendo um esforço enorme para que esse conceito seja mantido. O governador Luiz Henrique da Silveira está nos ajudando nisso e o mesmo fez o ex-governador Esperidião Amin. O dr. Saulo Vieira, presidente do Sapiens, é uma pessoa que defende o conceito com rigor. Não queremos que áreas sejam utilizadas, no futuro, para especulação imobiliária, como ocorreu no Parque Tecnológico Alfa, onde está a Celta. Lá, tínhamos 12 terrenos e apenas sete foram edificados. Os outros estão desocupados e Florianópolis está perdendo enormemente com isso.
Como avalia a educação tecnológica no país?
Schneider – Na área de educação tecnológica estamos andando extremamente devagar, em direções inadequadas, as correções de rumo são muito pontuais, mas o problema maior é que nós estamos indo muito devagar. Na Ásia, vemos um desenvolvimento muito intensivo, muito objetivo, e nós vamos ser arrasados. Não vai sobrar espaço para nós a menos que haja uma mudança drástica na questão mundial.
Dá para competir com a Ásia?
Schneider – Muitas das nossas empresas estão entregando os pontos. Estão entendendo que não têm chanches de competir. Isso vai fazer com que percamos espaços. O que nós precisamos é nos tornar mais objetivos em favor de um desenvolvimento sustentável, não fazendo muita discussão. Podemos ter empreendimentos de caráter social, tecnológico, turístico, mas inovadores.
Quem é o culpado por esse atraso?
Schneider – A culpa é da sociedade. Não afirmo que seja dos políticos porque a nossa universidade também não faz melhor. Nos acostumamos numa situação de riqueza, mas a nossa riqueza nesse novo mundo não é ter muitas terras, muito minério. Para ter espaço nesse novo mundo precisamos ser criativos, velozes, temos que estar na frente. Muita gente diz que o brasileiro é criativo. É, mas os chineses também são, e a diferença é que eles são mais velozes.
De que forma empresas estão se entregando?
Schneider – Muitos empresários, ao invés de fabricarem os produtos integralmente, começam a comprar partes dos chineses porque é mais barato. No momento seguinte, compram parte um pouco maior. Daqui a pouco os chineses dizem que farão todo o produto. Daí, o empresário deixa de ser industrial para ser comerciante. E, daqui a pouco, o chinês diz que não vende mais para ele. Por isso, acho que os empresários não podem deixar de desenvolver suas soluções, que devem ser melhores do que as dos chineses. É isso que estamos mostrando no programa Inova, que fizemos em parceria com a Fapesc, para Santa Catarina. Terá mais chances aquele que trabalhar em conjunto.
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