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Agricultura perde espaço para urbanização

A terra é boa para plantar, mas também bastante valorizada. Em Florianópolis, a agricultura tradicional perde espaço para a especulação imobiliária causada pelo crescimento da cidade e, mesmo nos poucos pontos onde ainda sobrevive, já não é suficiente para sustentar muitas famílias. A tendência, segundo quem ainda vive no meio, é as pequenas propriedades tradicionais se transformarem cada vez mais em loteamentos, condomínios residenciais e outros empreendimentos.

Florianópolis tem hoje pouca importância para a agricultura catarinense. Em levantamento da produção estadual referente à safra 2006/2007 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade aparece apenas nos itens “feijão” e “milho”. Mesmo assim, com participação baixíssima: cerca de 0,007% do total produzido em ambos os casos.

A extinção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Florianópolis há cerca de dois meses é um reflexo do declínio da atividade. O ex-presidente, José Bernardino Vieira, conta que a entidade foi fundada em 1972 com 2,5 mil associados e tinha apenas 25 quando fechou – os trabalhadores rurais florianopolitanos hoje são filiados ao sindicato de São José, que abrange também São Pedro de Alcântara. A justificativa para acabar com a associação foi a de que o dinheiro arrecadado com as mensalidades não era suficiente para mantê-la em atividade.

Para Vieira, além da especulação imobiliária, as restrições ambientais ao uso de alguns produtos foram os principais fatores que levaram ao declínio da agricultura em Florianópolis. “Na Ilha, é mais difícil de produzir que no interior”, constata. Segundo ele, grande parte das antigas propriedades da cidade foram vendidas, e o resultado da procura intensa por terrenos é que hoje há apenas pequenos agricultores na Capital.

Culturas exóticas ainda têm espaço no interior

Não é por falta de qualidade da terra que a agricultura decai em Florianópolis. Para o presidente do Sindicato Rural da Grande Florianópolis, Pedro Cavalheiro de Almeida, a cidade teria potencial para produção de café, mandioca e cana-de-açúcar. Sem espaço, os cerca de 180 filiados florianopolitanos da entidade (já foram 300) optam por cultivos como o orgânico e o hidropônico, que demandam menos área para produção. “É um caminho alternativo, já que dá para produzir em área pequena”, afirma Almeida, que tem um cultivo hidropônico na Cachoeira do Bom Jesus.

Nas localidades do interior da Ilha – como Ratones, Rio Tavares, Ribeirão da Ilha, Vargem Grande e Vargem Pequena –, produtores estão buscando fontes alternativa de renda, como a criação de chinchila e avestruz e o cultivo de aspargo, champignon e cogumelo-do-sol. Há, também, cerca de seis mil cabeças de gado, três mil eqüinos e 400 caprinos na cidade. Pedro Almeida considera, porém, que há pouca chance de Florianópolis ser um centro agrícola maior . “Não podemos ter frango nem suíno de corte aqui por causa de questões ambientais”, afirma.

Na Prefeitura da Capital, não há secretaria específica para cuidar da agricultura. As ações de incentivo à atividade são desenvolvidas pelo Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof), que está implantando dois projetos, um para fornecer equipamentos a produtores ligados ao Sindicato Rural de Florianópolis e outro para criar hortas orgânicas nas escolas da rede municipal, visando à utilização dos produtos na merenda. “Devagarinho, vamos tentando crescer novamente”, diz Pedro Almeida.

Terra é fértil, mas não há mão-de-obra

Situação parecida com a do sindicato dos trabalhadores rurais vive a Associação de Agricultores Orgânicos de Florianópolis (Agroflor). A entidade foi fundada em 2000 com 12 associados, todos da região de Ratones, Norte da Ilha. Hoje são apenas dois integrantes.

Um deles é o presidente Armando Lopes da Silva, que continua atuando em Ratones, mas apenas com uma unidade de processamento. A plantação foi transferida em 2004 para dois terrenos, um em Biguaçu (com 11 hectares) e outro em Rancho Queimado (3 hectares).

Além de mais espaço, encontrou nessas cidades mão-de-obra qualificada, escassa em Florianópolis. “Aqui na cidade, é difícil. Você não encontra muitas áreas para produção”, afirma. Segundo Lopes, os dez associados que deixaram a Agroflor pas-saram a se dedicar a outras atividades ou venderam as propriedades.

Se é ruim para produzir, Florianópolis é um bom local para vender produtos orgânicos (cultivados sem uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos). “O mercado é bom, principalmente no verão. As pessoas estão procurando cada vez produtos saudáveis”, diz Lopes, que está na atividade desde 1995.

Para Lopes, o afastamento das áreas produtivas é ruim para a Capital, pois torna os produtos mais caros para os consumidores. O presidente do Sindicato Rural da Grande Florianópolis (que reúne produtores), Pedro Cavalheiro de Almeida, conta que nas feiras e nos Direto do Campo da Capital, os produtos geralmente vêm de cidades vizinhas, como Antônio Carlos e São Pedro Alcântara.

Solução está no que o mar pode oferecer

“O futuro de Florianópolis está no mar”, defende o gerente regional da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) para a Grande Florianópolis, José Orlando Borguezam. Para ele, a maricultura é a atividade a ser incentivada na cidade. Além das produções de ostras, vieiras e mexilhões, já há estudos para o cultivo de robalo na Ilha. Técnicos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) também analisam a viabilidade da produção de berbigão. “Integrada ao turismo, a maricultura é uma grande aposta para desenvolver o interior da Ilha”, afirma Borguezam.

Ele cita como exemplo o projeto de criação de um roteiro turístico e gastronômico no Ribeirão da Ilha, a Rota das Ostras, que foi discutido esta semana com a comunidade local. Borguezam também avalia que a queda da agricultura na Capital tem relação com a grande procura por terrenos. Muitas das antigas propriedades viraram loteamentos e condomínios residenciais no interior da Ilha. “Há terras, mas pelos valores que elas adquiriram, os produtores são muito assediados”, diz.

O pequeno número de agricultores fez com que a cidade ficasse de fora do Projeto Microbacias, do governo estadual. O gerente regional da Epagri conta que o levantamento feito pela empresa estatal constatou que há apenas 64 produtores aptos a participar do programa (pessoas que têm acima de 80% da renda familiar mensal originada a partir de atividades agrícolas) na Capital. O número mínimo para a no programa seria de 120.

(Felipe Silve, A Notícia, 14/10/2007)

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10 Comentários

  1. Genesi Duarte disse:

    Muito interessante a matéria, mas gostaria de saber se o Sindicato Rural pode ter como sócio o maricultor, pois esta classe não quem o abriga e defende, junto ao INSS.
    Sou do STRP, e preciso da informação pois é da nosssa região.
    Gênesi.

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