A multidão colorida que tomou conta do centro da Capital neste domingo reflete também na economia da cidade. A 2ª Parada da Diversidade levou milhares de pessoas à avenida Beira-mar Norte. O evento em clima de festa foi uma manifestação pela liberdade sexual, atraindo participantes de diferentes regiões. Segundo os organizadores, foram mais de 50 mil pessoas. Dados da Polícia Militar indicam cerca de 30 mil.
“Florianópolis é uma das capitais mais tolerantes do País, famosa no nosso calendário pelas suas belas praias e pelo Carnaval”, destacou o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis. Ele e o companheiro David Harrad, juntos há 18 anos, vieram do Paraná exclusivamente para prestigiar o evento. Reis diz que em Santa Catarina o turismo para o público GLS precisa a partir de agora ser reforçado também nas cidades do interior.
Florianópolis saiu na frente. O presidente da Associação dos Empreendedores GLBTS de Santa Catarina, Audenir de Carvalho, diz que a Capital tem atrações para o público GLS durante todo o ano. “A cidade dispõe de boates, saunas, bares e casas voltadas para este segmento, além da grande rede hoteleira”, avalia. Nos últimos dias, durante a programação pré-parada da diversidade, ele diz que a cidade recebeu turistas de diferentes estados, principalmente Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Brasília.
Ipuf deverá manter postura mais restritiva para eventos
O diretor do Ipuf, Ildo Rosa, reconhece que os reflexos no trânsito do Centro foi “catastrófico”. “Não imaginamos tantos fatores juntos. Foi o feriadão com dia de verão e muita gente na cidade, não só para o evento na Beira-mar”, destaca. Ele lembra ainda que o horário da parada se prolongou além do previsto. A idéia inicial era que a pesseata chegasse ao trapiche por volta das 17 horas e que o pessoal ficasse concentrado no local, mas isso só ocorreu depois das 21 horas.
Rosa afirma que o Ipuf deve manter uma postura mais restritiva para a liberação de eventos na Beira-mar a partir de agora. “A idéia é avaliar com objetividade cada caso, independente de para quem seja”, explica. Mas ele lembra que eventos como a parada da diversidade, realizados fora da temporada de verão, são importantes para a economia da cidade, movimentando as empresas que vivem do turismo. “Tivemos um exemplo negativo, agora temos que nos superar para fazer algo melhor. É preciso uma discussão maior com a comunidade para ver os eventos que interessam para a cidade”, avalia.
O organizador da Parada da Diversidade, Tiago Silva, espera que os problemas de domingo não comprometam as próximas edições. “A cidade pode se readequar a um evento que ocorre uma vez por ano. Todo grande evento tem bônus e ônus e a parada da diversidade com certeza traz mais bônus do que ônus para Florianópolis”, defende.
Fechamento da Beira-mar paralisa trânsito na cidade
O fechamento da avenida Beira-mar Norte para a realização da Parada da Diversidade e os turistas saindo das praias no final da tarde fizeram uma combinação que congestionou o trânsito nas principais ruas do Centro da Capital neste domingo. A idéia inicial era interditar apenas uma das vias da avenida Beira-mar, no sentido bairro-Centro, mas o grande público presente na festa levou ao fechamento dos dois lados.
O coordenador da Guarda Municipal, Ivan da Silva Couto Júnior, vai solicitar ao Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) uma reunião para discutir soluções para os próximos eventos. “Todo mundo faz evento na Beira-mar, se continuar assim vamos precisar estudar soluções para organizar melhor o fluxo de veículos no local”, afirma. Ele sugere a elaboração de uma rota alternativa sinalizada previamente com placas informativas. “Pelo menos minimizaria os problemas. No dia do evento não temos como abordar todos os motoristas para avisar das mudanças”, explica.
Ele afirma que no domingo a Guarda Municipal tentou deixar o máximo tempo possível os carros continuarem trafegando pelo menos em parte da avenida Beira-mar Norte. Mas diante dos transtornos ocorridos, toda a área foi interditada para garantir segurança ao público da parada da diversidade.
Hoteleiros apostam no segmento
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, Tarcísio Schmitt, reconhece que eventos como a parada da diversidade são positivos para o comércio em geral. “Este é um público relativamente novo, mas a tendência é crescer essa participação ano a ano, o que é bom para todo mundo”, avalia.
Ele lembra que o público que visita a cidade nesta época mostra um perfil diferente daqueles que chegam apenas no verão. “É um turista de alto poder aquisitivo, um exemplo disso é o fato de que os hotéis com as diárias mais caras são os com maior taxa de ocupação”, destaca, lembrando que o segmento GLS se enquadra neste perfil. A expectativa do sindicato é registrar média de ocupação na rede hoteleira da cidade semelhante a do feriado de 7 de setembro do ano passado, que ficou em 56%.
A parada da diversidade foi ainda um ato de manifestação favorável ao projeto de lei complementar de autoria da deputada federal Iara Bernardi (PT/SP), que pretende criminalizar a homofobia. O projeto foi aprovado pela Câmara Federal e agora está no Senado. A senadora Fátima Cleide (PT/RO), relatora do projeto, esteve no evento da Capital.
Ela diz que existe possibilidade de levar a proposta ao plenário ainda neste ano. O próximo passo é a análise da Comissão de Direitos Humanos. Ontem, a senadora reforçou o discurso. “Todas as formas de amor valem a pena, ninguém pode ser violado de acordo com a sua orientação sexual”, defende.
Espaço garantido em calendário
O organizador da Parada da Diversidade, Tiago Silva, diz que Florianópolis já conquistou espaço no calendário turístico da comunidade GLS. Além da parada anual, que ele considera consolidada como evento de sucesso, o Pop Gay realizado durante o Carnaval da Capital é outro atrativo para visitantes de todo o país. Silva acredita que hoje Florianópolis figura como terceiro destino favorito do segmento, atrás apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que sedia a maior parada gay do País.
“Os atrativos naturais de Florianópolis também são muito fortes e a receptividade aqui é grande. Agora vamos trabalhar para no ano que vem ter uma festa ainda maior contra a homofobia”, comemora. Neste ano, uma série de eventos foram realizados na semana anterior a parada para movimentar a comunidade.
A Casa da Diversidade, instalada na antiga Câmara de Vereadores, foi palco de exposições e do Fórum da Diversidade. No sábado, foi realizado ainda o Floripa Diversity Games, uma competição esportiva voltada para o público GLS, sediada no Centro de Educação Física da Udesc, em Coqueiros.
(Alexandre Lenzi, A Notícia, 11/09/2007)
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