Florianópolis poderá ser a primeira cidade do mundo a ter um jardim botânico incorporado a uma área de mangue. O assunto foi discutido ontem, durante a reunião de posse da comissão técnica que encaminhará os estudos na Capital. Até o dia 10 de outubro, este grupo deverá finalizar outros detalhes do projeto, como a avaliação de custos e etapas.
De acordo com a doutora em gestão ambiental e coordenadora de projetos da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Adriana Dias, todo projeto de implantação de um jardim botânico tem de estar amparado por um tripé: educação, conservação e pesquisa. Uma das propostas para Florianópolis é o de implantá-lo numa área de 22 hectares, na mesma região onde está localizado o manguezal do Itacorubi. Inicialmente, a Fapesc investirá R$ 20 mil para no projeto.
Em 5 de junho deste ano (Dia do Meio Ambiente), além da Fapesc ficou definido que a UFSC, a Epagri e a Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) seriam parceiras no projeto de implantação do jardim.
No momento, todo Estado está sendo mapeado para verificar a diversidade biológica existente nas regiões. Entre as metas do jardim botânico estão a pesquisa com plantas, principalmente as espécies ameaçadas em Santa Catarina e as espécies cultivadas pelos antigos agricultores. “É importante que a comunidade conheça e conserve todo o ecossistema.”, afirma Adriana Dias.
Um jardim botânico é definido como área protegida, constituída no seu todo ou em parte dele, por coleções de plantas vivas cientificamente reconhecidas, organizadas, documentadas e identificadas. O objetivo é servir como fonte de estudos, pesquisa e documentação do patrimônio florístico do País, servindo à educação, à cultura, ao lazer e à conservação do meio ambiente.
Esta é a definição dada pela resolução Conama 339, de 25 de setembro de 2003. Os jardins botânicos diferem de parques comuns em diversos aspectos. Além de oferecerem lazer especializado, eles mantém um acervo de plantas ordenadas e classificadas, devidamente registradas e documentadas.
Mata nativa vai ser aproveitada em Joinville
“O diferencial do jardim botânico de Joinville é que ele aproveitará a mata nativa local. Não é um espaço que terá de ser criado. Nós estamos utilizando toda uma estrutura já existente”, explicou o reitor da Univille, Paulo Ivo Koehntopp. Inicialmente, não existe a intenção de colocar plantas exóticas ou raras no jardim, mas de utilizar o arsenal de plantas da região. Para isso, o local está liberado para visitações públicas através de trilhas monitoradas. Nelas, o visitante terá contato direto com as plantas nativas. O agendamento pode ser feito diretamente no setor de extensão de assuntos comunitários da Univille.
Os estudos científicos vão desde ao levantamento total da mata atlântica trazendo espécies raras da região à pesquisa medicinal através das plantas. “Será um grande laboratório a céu aberto. Nele, tanto os alunos, professores quanto a comunidade poderão desfrutar de uma grande variedade de plantas.”
Capitais têm espaços especiais
O Jardim Botânico de Curitiba foi inaugurado em 5 de outubro de 1991, funciona como um centro de pesquisas da flora do Paraná. Ele contribui para a preservação e conservação da natureza, para a educação ambiental, na formação de espaços representativos da flora brasileira e ainda oferece uma alternativa de lazer para a população.
O nome oficial é uma homenagem à urbanista Francisca Maria Garfunkel Rischbieter, uma das pioneiras no trabalho de planejamento urbano de Curitiba. A fauna encontrada no local é composta por saracuras, ouriços, sanhaços, canários-da-terra, preás, gambás e pequenos roedores. A fora tem araucárias, imbuias, cedros, aroeiras, pimenteiras e pitangueiras. O jardim de Curitiba está localizado na avenida Lothário Meissner com rua Ostoja Roguski.
Em São Paulo, no final do século passado, o Parque Estadual das Fontes era uma vasta região com mata nativa, ocupada por sitiantes. Por ordem do governo as desapropriações na área vinham ocorrendo desde 1893 visando a recuperação da floresta, a utilização dos recursos hídricos e a preservação das nascentes do riacho do Ipiranga.
Em 1917, a região tornou-se propriedade do governo, passando a denominar-se Parque do Estado. Até 1928 serviu para captação de águas, que abastecia o bairro do Ipiranga. Neste mesmo ano o naturalista Frederico Carlos Hoehne foi convidado para implantar um Horto Botânico.
Em 1938, ele foi oficializado com a criação do Departamento de Botânica. Em 1969 o Parque do Estado, onde está o Instituto de Botânica, passou a denominar-se Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. Ele fica na avenida Miguel Estéfano, 3.031 – Água Funda.
Principais objetivos
• Estimular a cooperação entre jardins botânicos, arboretoshortops e instituições congêneres que mantenham coleções científicas de plantas vivas e material preservado, bem como entre os cientistas e técnicos dessas instituições
• Estimular o estudo da taxonomia das plantas em benefício da humanidade e da educação ambiental, não apenas em todos os níveis educacionais, mas também extensivo ao grande público
• Estimular o estudo e a prática correta da introdução de plantas nas coleções científicas de jardins botânicos e instituições congêneres
• Promover o intercâmbio entre documentação, informações e espécimes de mútuo interesse entre os jardins botânicos, arboretos, hortos e instituições congêneres
• Estimular e fomentar a conservação de espécies preferencialmente raras ou ameaçadas
• Incrementar o papel dos jardins botânicos na conservação da diversidade biológica brasileira , em estreita relação com outras entidades, promovendo a colaboração entre a Rede Brasileira de Jardins botânicos e as instituições
• Estimular o cultivo de plantas de interesse econômico atual ou potencial
• Incentivar a criação de coleções temáticas regionais nos jardins botânicos
• Prestar consultoria e apoio à criação de novos jardins botânicos
• Estimular a conexão entre jardins botânicos e universidades, em escala nacional e internacional, em especial com universidades que desenvolvam atividades relacionadas às ciências da terra
Visitantes poderão conhecer duas unidades de preservação
Segundo o gerente de unidade de conservação da Floram, Danilo Funke, os benefícios da implantação do jardim na área de manguezal são muitos, mas o principal deles se refere à questão ambiental, já que o local continuará sendo preservado. “A área do jardim botânico passa pelo parque ambiental onde fica o mangue”, explicou.
Sobre a vegetação que será colocada ali, Funke afirmou que o mangue só aceita três tipos de plantas e que tudo terá de ser estudado antes de uma nova plantação. “A população, além de visitar o jardim, também terá chance de passar pelo mangue, pois o projeto prevê instalação de passarelas no local.”
No Estado, além de Florianópolis, Joinville também está com um projeto de implantação de um jardim botânico. O diferencial de Joinville é que ele será o primeiro do Estado a funcionar dentro de uma universidade (Univille).
Os dois projetos serão destinados a atividades de preservação, educação ambiental e lazer, cumprindo determinação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que prevê esses locais para serem centros de pesquisas científicas.
Em Joinville, a estimativa de custos é de cerca de R$ 2 milhões e será feito numa parceria com uma universidade alemã. O projeto total deverá estar finalizado até o final do próximo ano.
Trabalho com plantas originais
Segundo a bióloga e doutora em botânica Karin Esemann de Quadros, o principal objetivo de um jardim botânico é o trabalho intensivo com as espécies mais importantes originárias da mata nativa local, principalmente as plantas. “A proposta é oferecer à população um local com uma grande variedade de plantas nativas e também de espécies em extinção.”
O anteprojeto de Joinville contempla pórtico de entrada, administração, praça de recepção, museu de zoologia, museu de arqueologia e geografia, auditório, sala de exposições, jardim das samambaias, lago das hidrófitas, estufa, viveiros, canteiros, alamedas, bosques, passeios e trilhas na área de preservação. Ele incorporará também o herbário (catalogação das espécies), em funcionamento desde 2002.
O lançamento do projeto ocorreu em abril deste ano e contou com a presença do ministro da Ciência, Pesquisa e Cultu-ra do Estado da Baviera, Thomas Goppel, do reitor da Universidade de Erlangen (Alemanha), Karl-Dieter Grüske, e do coordenador da equipe alemã, Donat -Peter Hadel.
Ele será construído numa área de 19. 160 metros quadrados de mata nativa intocada, atrás do Centro do Estudante Estrangeiro e do Centro de Artes e Design (CAD) entre os campi da Univille e da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O palmiteiro juçara – Euterpe edulis Martius (da família Arecaceae), nativo da Floresta Ombrófila Densa foi escolhido como símbolo do projeto. Ele é protegido por lei devido ao seu grande valor comercial. Foi descrita pela primeira vez em Santa Catarina pelo alemão Karl Friedrich Philipp von Martius, no século 19.
(André Luis Cia, A Notícia, 12/09/2007)
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2 Comentários
Eu achei muito legal muto bom
da pra resumí?????