A posição no ranking é daquelas que o catarinense está se acostumando. Santa Catarina é o Estado do País com mais acessos à internet nas escolas de ensino fundamental – públicas e particulares. Na classificação geral da inclusão digital, ocupa o quarto lugar, atrás do Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.
É o que revela o “Mapa das desigualdades digitais no Brasil”, divulgado ontem pela Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla), em parceria com o Ministério da Educação. Por trás da boa colocação, está a realidade preocupante. Não estamos tão bem assim. O País é que ainda vai mal.
O Brasil tem 17,7% de cobertura de internet, com 31 milhões de usuários. Proporcionalmente, menos que Argentina (17,9%) Uruguai (20,6%) e Costa Rica (21,3%). Na Suíça, a líder, 72% dos habitantes acessam a web. No ranking de 193 países, o Brasil está no bloco intermediário: 76ª posição. O índice considera as desigualdades em função das diferenças entre regiões do País, as socioeconômicas entre os indivíduos e as estratégias. Inclui seis indicadores: uso de internet em casa, de maneira geral, situação econômica, situação social, acesso gratuito e na escola.
É aí que SC se destaca. Segundo a pesquisa, 18,4% dos 10% mais pobres do Estado (ou seja, um em cada cinco) têm acesso à internet. Em Alagoas o índice é de apenas 1,1% entre os mais pobres. A liderança catarinense se estende aos 50% mais ricos: 29,3% deles (um a cada três), contra 4,5% no Acre. Isso confere a SC pouca diferença no acesso entre pobres e ricos. Diferente da região Norte-nordeste, onde ricos usam o computador dez vezes mais que os pobres.
A realidade é mais complicada nas salas de aula de escolas públicas. Há 3,2 mil computadores em 1,3 mil escolas públicas estaduais de SC. A média é baixa: dez PCs por colégio. “Estamos perto do estabelecido pelo MEC, de 15 computadores por sala”, diz Elizete Mello, diretora de desenvolvimento humano e da gerência de tecnologia do governo. A dificuldade é capacitar os professores. “Inclusão digital não é dar cursinho de Word e Excel. O professor tem de usar o computador para dar aulas de geografia, matemática e português. Temos casos em que os alunos têm mais intimidade com a máquina que o educador.”
Brasil levará 15 anos para reverter a situação, afirma especialista
O fenômeno da inclusão é recente no País, diz especialista em mídia digital Carlos Bosco. “O programa Computador para Todos, do governo federal, tem pouco tempo. Hoje, com computadores a menos de R$ 1 mil, a realidade é outra. Mas ainda assim, longe do ideal. Levaremos pelo menos 15 anos para atingir bons níveis”, afirma.
Ele ressalta o crescimento da internet como alternativa de entretenimento e informação. “A TV ainda lidera, mas está perdendo fôlego para o computador, alternativa mais barata que a TV a cabo.” Para Bosco, é fundamental aumentar os pontos de acesso gratuitos (que incluem escolas) em Santa Catarina e no Brasil. Apesar de ter o equipamento em sala de aula, o uso do computador e da internet ainda é regulado.
O Brasil tem mais de cem programas para promover a inclusão digital, a maioria com financiamento estatal. Mas os planos são insuficientes para superar as desigualdades no acesso às novas tecnologias, segundo o “Mapa das Desigualdades Digitais”. Conforme os pesquisadores, as diferenças regionais e sociais do acesso à internet no Brasil podem se agravar se não houver medidas dos governos. “Há uma preocupante fragmentação e setorização das estratégias de inclusão digital, pela ausência de política pública que estabeleça metas, estratégias e investimentos necessários para diminuir as desigualdades”, informa o relatório.
Recentemente, o governo federal anunciou investimentos de US$ 400 milhões até 2010 para levar ferramentas de informática a 130 mil escolas públicas.
(Rodrigo Stüpp, A Notícia, 08/08/2007)
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